Há dois anos soube que ia ter uma menina. Aliás partilhei a memória no Instagram e não previ que ainda ia dar confusão (acharam que vinha mais uma mas não!). Já contei que não queria uma menina. Mas talvez vocês não saibam que até chorei. Um pânico inexplicável. Uma angústia horrível.
Mas aquilo chateou-me, tudo bem que já tinha dois meninos, mas não se justificava aquele sensação. Porque não queria ser mãe de menina?
Depois percebei que estava aterrorizada por medo de não estar à altura de ser mãe de uma mulher. Ainda é mais difícil ser mãe de uma menina. Tenho a certeza. Ser mulher ainda é uma partida em posição de desvantagem.
Tenho muita sorte. Fui criada por uma mulher de força e por um homem que, apesar de algumas características machistas geracionais, não considerava que existem tarefas de mulher e tarefas de homem.
Os meus pais criaram-me na certeza que a única coisa que me diferenciava dos rapazes eram as características físicas: tinha a mesma força, os mesmo direitos, os mesmos deveres. Os meus pais nunca, nunca, nunca, disseram “isso não fica bem a uma menina”, “isso não são coisas de menina”.
Cresci nessa certeza que mantenho: somos maravilhosamente diferente mas somos exactamente iguais. E, há dois anos, quando soube que ia ter uma menina, senti muito medo de não ser capaz de ser a mãe que tive. Ainda tenho mas darei (daremos) o meu (nosso) melhor.
Uma menina onde já há dois rapazes, é um privilégio para os pais. Toda uma sagrada diferença.
Uma odisseia sem paralelo. Por volta dos três, quatro anos, as queixas ou pai sobre “Ela”
Depois a maquilhagem da mãe. Sempre pode fechá-la e guardá-la num gaveta, sem esquecer de fechar essa ainda melhor do que fechou a caixa.
Depois os vestidos da mãe, e os saltos dessa. Também é empreitada digna de registo.
Seguem-se os escravos, (irmãos) para quem o aparecimento dela não foi privilégio nenhum e muito ao invés.
E por aí adiante. Será sempre a princesa lá de casa.
Que Deus a proteja e guarde, e aos irmãos.
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