A vulnerabilidade costuma ser vista como uma característica de fraqueza do ser humano e em especial da mulher. A vulnerabilidade costuma estar ligada ao conceito de vitimização. Na minha visão, uma nada tem a ver com a outra.
Vitimização é aquela pessoa que vive no registo da vítima. É aquela pessoa que escolhe dizer mal de tudo, criticar negativamente os outros, só ela está certa e todo o mundo à sua volta está errado.
Vitimizar-me é viver às custas do meu próprio sofrimento. É deixar que as minhas dores e as minhas feridas me definam. É deixar que a minha doença, os meu divórcio, a morte de alguém querido, o meu despedimento sejam aquilo que eu sou.
É aquela pessoa que não vês há um tempo e encontras na rua e na segunda frase já está a dizer que lhe tem doído muito a perna ou que o filho coitadinho vive com uma mulher que não o merece.
Todos em qualquer altura da vida já nos permitimos viver neste registo, por mais breve que tenha sido esse período de tempo. Todos somos capazes de reconhecer este registo da vítima na nossa família, nos nosso amigos, até num desconhecido, por vezes o difícil é reconhecermos este padrão em nós mesmos.
Vulnerabilidade é outra coisa. A vulnerabilidade quando é totalmente aceite e acolhida em nós, coloca-nos num lugar de poder.
Este lugar de poder não é um poder sobre o outro, é um poder em nós mesmos que resultará no empoderamento. Vulnerabilidade é termos consciência de que não sabemos algo e admiti-lo perante nós e perante o outro se necessário (sempre em lugar de verdade) e irmos procurar ajuda para aprender sobre esse assunto.
Vulnerabilidade é termos consciência de que não estamos bem mentalmente e irmos pedir ajuda a quem nos possa ajudar, quer seja um médico, um psicólogo… Vulnerabilidade é sentirmos que naquele dia não estamos bem para ir sair à noite, porque estamos cansadas ou fragilizadas ou simplesmente porque não nos apetece – e acolher esses sentimentos com carinho e saber dizer “não” e ficar em casa. Vulnerabilidade é errar e reconhecer em verdade.
Vulnerabilidade é sabermos que não temos sempre razão, que não sabemos sempre tudo sobre tudo, é saber que um dia vou estar muito bem, mas que no próximo posso cair num lugar de feridas profundas, é chorar as feridas e as dores, é acolher e abraçar as feridas e as dores como parte deste processo que é o nosso caminho de vida, é saber pedir ajuda e não ficar no registo de querer fazer tudo sozinha até ao esgotamento, é admitir que se está cansada e transmiti-lo e pedir algum auxilio, é admitir que errámos, comprometendo-nos em aprender mais para fazermos melhor, é sabermos que não somos “a última Coca-Cola do deserto” e que hoje estamos aqui e amanhã podemos não estar.
A vulnerabilidade coloca-nos de facto em contacto com a nossa verdade e as nossas acções, palavras, começam a vir de um lugar de poder, pois tal como reconheço e acolho as minhas forças também abraço as minhas fraquezas, não coloco a máscara do “ está tudo bem”, pois vivendo em verdade sabemos que nem sempre está tudo bem e sabem… está tudo bem com isso.
Sofia Costa
Consultora de feng shui simbólico, Guardiã de círculos femininos e mistos, Facilitadora de sagrado feminino e Facilitadora de medicina da voz do útero.
E agora um elogio às mulheres que não querem ser mães.
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