Voltamos ao tema sobre quem fica com bebé quando ele nasce. Estruturalmente, a sociedade está moldada para que seja a mulher a prescindir de uma carreira ascendente, porque não pode viajar tanto, porque não pode ficar até tão tarde, porque vai estar ausente na última fase da gravidez e primeira da vida do bebé. É a mulher que, regra geral, fica em casa durante mais tempo a cuidar do bebé. O homem segue para o trabalho. Estas estruturas têm de ser quebradas. A sociedade tem que se adaptar à realidade: os bebés são mudanças significativas na dinâmica família, aos quais os pais (os dois!) se devem dedicar. A licença parental partilhada deve ser uma regra — porque só assim se tornará a norma.
Este artigo da “Forbes” fala sobre isto. Nos Estados Unidos a coisa é pior do que em Portugal – os EUA são o único país desenvolvidos, entre 41 nações, que não oferece nenhuma licença parental paga, de acordo com o New Research Center. Em Portugal as coisas são muito melhores mas ainda estamos longe da perfeição. — porque durante o período de seis semanas em que a mulher fica em casa, o pai só tem direito a dez dias, sendo que, depois, ou fica um ou fica outro.
A ideia é esta e não deve depender de fronteiras: igualdade, tempo e educação para cuidarmos dos nossos filhos, em conjunto, como uma equipa. Porque a licença de parentalidade partilhada mas vivida a dois precisa-se— pelo casal e pelo bebé.
“Mulheres e homens entram no mercado de trabalho numa proporão de 50/50 e, no entanto, apenas 6,4% dos CEOs são mulheres em empresas da Fortune 500. O problema está naquilo a que chamamos de “meio confuso.” Corresponde, geralmente, ao momento em que as mulheres ganham mais responsabilidade em casa e também no trabalho. Um dos maiores desafios é o cuidado parental, que historicamente tem sido uma responsabilidade feminina”, podemos ler neste artigo.
As mulheres enfrentam dois grandes problemas. O primeiro é encontrar um equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal. O segundo é a tendência de contratação. Basta pensar naquilo que passa pela cabeça de um uma pessoa ao entrevistar uma mulher em idade fértil VS entrevistar um homem: 1) ela ficará ausente por alguns meses e não pode ser substituída; 2) ela não pode trabalhar até tarde; 3) ela não pode viajar tanto. Quem é que vocês escolheriam? No lugar dele, com tempo, dinheiro e recursos em mente, provavelmente escolheria o homem. Isto é uma tendência consciente ou inconsciente?
Perante uma licença de parentalidade que pode ser partilhada, os homens tendem a não aceitá-las por várias razões. Idealmente existiria uma licença de parentalidade partilhada e obrigatório (e, na minha opinião vivida a dois).
É hora de reescrever as regras e tornar a licença usufruída pelos pais na norma, não à excepção.
A licença parental igualitária ajudará a minimizar a “pena” da maternidade. Os homens podem hesitar em tirar licença parental devido ao estigma ou medo de serem penalizados no trabalho, mas tornando-a obrigatória, a nova norma ajudará a chegar mais perto da igualdade. Muitas mulheres no Girls Longe passaram por isso e partilharam as suas experiências de preconceito, como colegas, que assumiam que elas não iam dar horas extras ou conseguir chegar a cargos superiores, por causa da família. E quando um pai decide dar prioridade aos filhos?
A licença parental partilhada obrigatória ajudará os funcionários de todos os níveis a ter o tempo necessário. A atriz Anne Hathaway falou perante as Nações Unidas, no Dia Internacional da Mulher do ano passado, e partilhou esta estatística chocante: uma em cada quatro mulheres americanas voltam ao trabalho duas semanas depois do parto porque não podem mais estar fora. Ser mãe e pai envolve um grande ajuste na vida e os recém-nascidos exigem cuidados constantes, mas a realidade para um quarto da população americana feminina é que elas não podem aproveitar o tempo que precisam ou querem. Além disso, os pais que têm rendimentos mais baixos são muito menos propensos a tirar férias, em comparação com os alto rendimento, de acordo com um estudo da Ball State University.
A licença parental igualitária ajudará a transformar a percepção de que cuidar é uma responsabilidade feminina. Quanto mais os homens virem outros homens a tirar a licença parental, mais ela se tornará a norma. A licença parental partilhada é especialmente impactante para o modo como os homens se relacionam com seus filhos. Estudos mostraram que os pais que tiram pelo menos duas semanas de licença de paternidade ou mais provavelmente continuarão envolvidos em atividades de cuidado infantil, como alimentação e troca de fraldas.
Boas notícias! Este artigo da Forbes aponta para uma mudança de mentalidades (pelo menos nos jovens norte-americanos). A geração millenial está particularmente em busca de licenças de paternidade: no estudo geracional global da Ernst & Young, 83% dos millennials norte-americanos disseram que prefeririam entrar numa empresa que oferecesse tais benefícios. Assim, oferecer licença parental igual pode ajudar a atrair e reter os melhores talentos.
Os melhores líderes sabem cuidar. É lamentável porque estamos a perder os nossos melhores líderes para os cuidados parentais, mas as qualidades de cuidado tornam os lideres de melhores. “Não subestimemos o poder das características do cuidador, que incluem ser carinhoso, apaixonado e empático. A política de licença parental de uma empresa deve ser inclusiva para que todos possam prosperar no local de trabalho. Não nos podemos esquecer de que a igualdade começa em casa.”
Há estudos que até provam um facto curioso… enquanto as mulheres com filhos são prejudicadas aquando de candidaturas de trabalho (e às vezes mesmo as casadas ou unidas de facto sem filhos mas em idade de os ter) porque se considera que vão ter menos disponibilidade, os homens casados e com filhos são beneficiados em relação aos homens solteiros sem filhos. Porquê? Considera-se que esses não irão abandonar o trabalho tão facilmente como os solteiros que não têm uma família a seu cargo.