estereótipos

Os brinquedos, os estereótipos e a identidade de género

As chamadas questões fraturantes vieram ao de cima e entraram em vários setores da vida. A educação das crianças, naturalmente, não ficou de fora, porque é como o ditado diz: de pequenino é que se torce o pepino. O cliché é muito verdadeiro: as crianças de hoje serão os adultos de amanhã. E os adultos de amanhã vão agir de acordo com os valores e exemplos que lhes foram passados. Não precisamos de pensar muito para percebermos que, de facto, os brinquedos podem ser o ponto de partida para a construção de estereótipos. Já tinha falado sobre o tema antes. Faz sentido isso dos brinquedos de menina e de menino?

Carros e martelos para os meninos. Panelas e bonecas para as meninas. Historicamente, assumiu-se que os homens tratam das atividades musculares e que as mulheres daquelas que acontecem dentro de casa — maternidade, lide doméstica, roupas e purpurinas.  Atenção! Há uma parte da distinção natural que existe desde sempre, sem generalizações: os homens iam para a caça porque eram fisicamente mais forte e focados num único objectivo, as mulheres ficavam a tratar de mil coisas (faz sentido aquela nossa capacidade e aquela pergunta tantas vezes repetida aos homens: porque é que não consegues fazer duas coisas ao mesmo tempo?)

Mas os tempos evoluíram e surgem várias questões. Em primeiro lugar, e a mais óbvia, devemos propagar estas ideias? Em segundo: quem nos diz a nós que o menino não prefere as bonecas e que a menina não prefere os carrinhos? Mais: quem nos diz a nós que, quer o menino, quer a menina, gostam de brincar tanto com um, como com o outro?

Por outro lado, acho que uma certa leveza no trato da questão é crucial, porque nenhum tipo de radicalismo é bom — até no campo onde se pretende promover e estabelecer a igualdade e aceitação, que considero absolutamente fundamentais para a evolução da sociedade, aquela em que vão viver os meus filhos, os meus netos, as gerações seguintes. 

Isto não é reduzir o problema, atenção, é simplificar. É deixar acontecer, sem impôr. Crianças são crianças, com identidades que se estão a formar. Falar em identidade de género tão cedo não faz sentido. São seres em construção. É deixá-los crescer e estar prontos para aquilo que os fizer mais felizes.

Meninos gostam de bonecas. Meninas gostam de carrinhos. Meninos serão adultos, capazes de aspirar a casa, cozinhar e de cuidar das crianças. E meninas serão condutoras de carros de fórmula 1, podem passar tempo fora de casa e chegar a CEO das empresas que quiserem. 

Sejamos pragmáticos e deixemos as coisas seguirem um rumo natural. Como faço, então, a escolha dos brinquedos? Neutralidade e minimalismo são as duas palavras de ordem.

Ora vejamos. Acho que até aos dois anos, os pais devem oferecer pouco ou nada. Quando dão, que sejam coisas especiais, coisas pelas quais os bebés já mostraram interesse, sejam carrinhos, bonecos, plasticina ou canetas. Além disso, não nos podemos esquecer que existem milhares de brinquedos neutros, como puzzles, instrumentos musicais, livros, bonecos dos mais variados tipos. Apostemos nesses, até que a criança consiga expressar as suas preferências. Exigir uma escolha definitiva nas idades em que os miúdos ainda brincam com brinquedos é completamente absurdo. Essa tarefa é deles.

Ao mesmo tempo, há aqui um ponto fundamental: nisto dos objetos da infância, aquilo que interessa mesmo é perceber se aquele brinquedo acrescenta alguma coisa àquela criança. Se ajuda a desenvolver competências, das motoras às criativas. É que o trabalho das crianças é brincar. E as brincadeiras devem ser produtivas, devem ensinar, devem ser pedagógicas, em todas as suas frentes.

Crianças são crianças. E brinquedos são brinquedos. Não compliquemos. E façamos por ter casas destralhadas de objetos — e de estereótipos. Sem grandes fundamentalismos, porque isso não faz bem a ninguém. 

 

Saindo do assunto dos estereótipos, já sabem da minha grande novidade?

2 comentários em “Os brinquedos, os estereótipos e a identidade de género”

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  2. Quando meu filho nasceu eu já tinha uma filha com 3 anos, enquanto não consegui expulsar meu marido do escritório o Gui dormiu com a Pipa num quarto muito feminino, durante quase 3 anos. Lá dei uma redecorada no quarto, mas havia muita coisa mais tipicamente de menina, do que para rapazes. A verdade é que ele nunca se interessou por nada que fosse dela, nem bonecas, nem berços, nada dessas coisas, e estavam ali, a mão de semear, mas não era a onda dele. Eu nem tive preocupação em separar brinquedos, ou melhor, nunca me preocupei muito com que brinquedo dar, muitos fui ganhando, outros herdando e minha única preocupação é que fosse um brinquedo seguro
    Depois o Gui, já com 3 anos teve seu quartinho, e já pedia algumas coisas, já escolhia muita coisa e eu de certa forma sempre respeitei.
    Tudo isso para dizer que de forma natural, sem grandes reflexões, tudo estava a disposição deles, coisas de “meninos” e de “meninas” , naturalmente cada um decidiu brincar com aquilo que queria, aliás nunca passou pela minha cabeça avaliar se o brinquedo era tendencioso ou não, é brinquedo for God sake! Como diz uma amiga, muito mais que brinquedos, como vivemos enquanto família é muito mais influenciador na vida das crianças, como ver o pai tratar da roupa, cozinhar, ver a mãe sair para o trabalho, consertar alguma coisa tipo bricolage… enfim, viver de maneira equilibrada. Agora se a menina quer uma boneca, dê a boneca! Ou acha que isso vai transformá-la numa machista ? Eu não acho.

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