amar os filhos dos outros

Os meus, os teus, os nossos

Este mês escrevi para a revista Parentalidade + sobre os nossos filhos, sobre os filhos de quem amamos e sobre amar os filhos dos outros, que — desculpem a verdade — vai ser sempre diferente, da mesma forma que aquilo que sentem por nós não será nunca igual ao que sentem pelo pai e pela mãe.

Sem preconceitos, tabus ou meias palavras digo: não faz mal não amar os filhos dos outros como amamos os nossos.

O amor que sentimos pelos filhos dos outros nunca é igual ao que sentimos pelos nossos. Desculpem, mas é preciso começar pela verdade, doa a quem doer e mesmo correndo o risco de que pareça mal. No momento em que assumimos isto, tudo se torna mais fácil. Reparem agora que não escrevi qual dos amores é maior ou mais cúmplice. Disse apenas que nunca será igual. São desafios diferentes. Há algo de animal no nascimento de um filho. É uma questão de cheiro. É uma questão de compromisso à força, de sobrevivência, de dependência. Quando nasceu o meu primeiro filho, senti que sufocava, tinha percebido o que era isso do amor incondicional.

Os meus filhos têm defeitos infinitos sobre os quais apenas eu posso opinar. Quando falo dos meus filhos, posso fazer queixas e até confessar que estou farta deles. Mais ninguém pode dizer mal dos meus filhos. São meus. Quando nos apaixonamos perdidamente por alguém, achamos que tudo é perfeito. Faz parte, a paixão é assim. Mas não há cheiro, nem compromisso à força, nos filhos dos outros. São perfeitos enquanto queremos que tudo seja perfeito. Mas há um dia que lhes vemos os defeitos e verbalizamos. Esquecemo-nos de que os filhos são perfeitos para quem nos está a ouvir. E são essas as dores de que ninguém fala.

O que se sente quando estamos perdidamente apaixonados por alguém que fala mal dos nossos filhos? E nem sequer me refiro a implicâncias variadas em dias menos bons, mas dos defeitos reais, aqueles que eles têm, mas que não permitimos que ninguém fale neles? E o que sente alguém que está perdidamente apaixonado por nós quando falamos mal dos filhos dele?

A paixão sobrevive a isso? A paixão sobrevive à logística dos dias sem a força do cheiro? Sobrevive sim! Mas, sem a força do cheiro, sem esse compromisso à força de sermos pais, exige muito trabalho. Exige ainda mais trabalho. Exige regras. Não é romântico, mas uma paixão com filhos meus e teus exige regras. E a primeira regra, a fundamental, é nunca verbalizarmos os defeitos dos filhos que não são nossos.

Podemos concordar quando o pai (ou a mãe) fala sobre isso, podemos tentar ajudar quando o pai (ou a mãe) nos pede. Mas nunca (e escrevam NUNCA em letras maiúsculas em post its amarelos) verbalizamos os defeitos dos filhos que não são nossos. E assim temos legitimidade para não aguentarmos quando verbalizam sobre os nossos. Entendam o exagero. Mas acreditem na rigidez destra regra.

Depois, há outras, aquelas que fui aprendendo com a vida: a necessidade de uma base de regras de convivência comuns, mas a liberdade para aceitar que as relações são únicas, precisam de espaço próprio, e cada mãe e pai sabem da forma que criam os seus filhos.

Assim, em palavras mais simples, aceitem o exemplo. A regra comum é que ninguém sai da mesa até acabar o jantar. Mas eu acho que o meu filho pode não comer os brócolos e o meu marido acha que o filho dele tem de comer tudo. Hoje, vamos todos ao cinema. Amanhã, vou ao jardim com o meu filho, enquanto o meu marido vai ao futebol com o filho dele.

O amor que sentimos pelos filhos dos outros nunca é igual ao que sentimos pelos nossos. Desculpem a verdade. Mas talvez assim também aceitemos que os filhos dos outros não têm de gostar sempre de nós. Sem o cheiro também nós teremos muito mais trabalho para que nos aceitem. Faz parte. Temos ainda mais defeitos do que eles. Sem drama. Apenas paz.

 

 

Foi a propósito das novas famílias que estive esta semana com o Dr. José Gameiro (de quem sou absoluta fã e sabe tanto mas tanto sobre isto das relações). E vou trazer-vos algumas dicas que ele deixou para gerirmos as novas famílias e isto de amar os filhos dos outros.

 

 

 

E por falar sobre amar os filhos dos outros, fica aqui uma homenagem a quem, sem filhos, ama quem os tem.

 

 

Foto: Lia Rodrigues

9 comentários em “Os meus, os teus, os nossos”

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  2. Marisa Scaparrotti

    Sou viúva vou voltar a casar
    Meu noivo também
    Temos filhos já independentes
    Eu nunca na vida me iria envolveu v uma pessoa nem divorciada nem com filhos pendentes e mais nada

  3. Há coisas que me fazem sentido e outras nem por isso… a forma como coloca as coisas, os nossos filhos, a força do cheiro… percebo o que diz, mas não acredito que seja assim tão linear porque isso era acreditar que e se adoptarmos uma criança nunca a haveremos de amar como um filho? sinceramente tenho as minhas dúvidas. De qualquer forma percebo que o sentimento não seja o mesmo, pelo menos à partida, o que é mais que óbvio que não seja.
    Quanto às regras, percebo a ideia, mas se eu tiver um filho, ele tem outro filho e os dois temos outro em comum, também temos que chegar a um compromisso sobre as regras em que envolvemos o nosso filho. Porque é que não podemos chegar a um mesmo compromisso com o meu e o dele?

  4. Maria Duarte

    Vendo pelo prisma que escreveu, eu não poderia amar a minha filha, porque não nasceu de mim, mas sim de outra pessoa que, apesar de tudo isso que a Catarina escreveu (os cheiros, blá, blá)a tratou mal e não a quis como filha?

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  7. Edimilson santos

    Eu não concordo eu tenho uma filha que assumi e amo ela igualzinho amo minhas três filhas não tem nenhuma diferença eu falo do fundo do meu coração amo demais essa minha filha sou capaz das mesmas coisas com ela …eu amo demais não tem explicações do tamanho do meu amor por ela , quando eu a vejo que ela fala pra mim te amo meu papai lindo com apenas 4 anos de idade eu ganho o dia o mês o ano isso é a melhor coisa do mundo vindo de uma criança ….

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