Dirão que ficar grávida enquanto estava desempregada foi uma enorme irresponsabilidade. Eu direi que foi uma irresponsabilidade calculada. Sabia a margem que tinha e a rede de segurança com que podia contar. Também sabia que a partir daquele momento não me quereriam num emprego “normal”, realidade que vim a confirmar.
Lembro-me de ligar para o Centro de Emprego a explicar a minha nova condição e a minha preocupação. Responderam-me que continuasse a cumprir o número de entrevistas que o meu “termo de identidade e residência” obrigava e que isso de conseguir mesmo emprego era uma questão secundária.
Face às evidências e à vontade que tinha de ficar com o filho que aí vinha nos primeiros anos e acompanhar mais o meu filho crescido, passei a aceitar trabalhos pontuais ou mais regulares, mais próximos ou mais afastados da minha área, que pudesse compatibilizar com as minhas funções de mãe-a-quase-tempo-inteiro.
Trabalhar a recidos verdes resume-se a uma enorme incerteza. Mas existem algumas certezas: o pagamento mensal à segurança social e a necessidade de estar permanentemente a implorar que nos paguem.
A bem da verdade, também existem privilégios nesta condição: sermos donos do tempo. Posso brincar com os meus filhos, ajudar nos banhos e preparar o jantar, deitá-los com uma história e até adormecer durante dez minutos. Posso trabalhar durante toda a noite enquanto eles dormem e voltar a ser apenas mãe quando eles acordam.
Nos meses em que ninguém responde aos apelos desesperados para que paguem, nos meses em que os trabalhos não aparecem, nos meses em que é preciso ir às poupanças buscar o dinheiro para pagar a segurança social, nesses meses desejo ter um emprego “normal” com um salário certo. Depois tenho medo de perder o tempo que me habituei a ter para os meus filhos e lembro-me de que já não já há empregos certos nem certezas de que o salário seja pago, e as dúvidas voltam todas. Todas menos uma: daqui a uns dias tenho que pagar a segurança social.
Passo pelo mesmo dilema, mas do lado de quem trabalha das 9h às 18h (em versão estágio que está a terminar),que gosta do que faz, mas que adorava ter o privilégio de poder trabalhar em casa, gerir o seu tempo e ser mais produtiva.
A sua escolha, a minha opinião (que vale o que vale), foi a mais acertada. Admiro e esforço e a irreverência que a opção acarreta.
Bem, olha para o lado positivo: tens tempo. Eu estive a recibos verdes e nem isso tinha, porque me obrigavam a cumprir um horário (absurdo, ainda por cima) que nunca tinha sido estipulado em lado nenhum… E sim, compreendo o teu dilema da segurança social. Coragem!
Eu trabalho "das 09h00 às 18h00" (mais do que isso como é óbvio) e não tenho tempo para mais nada. Há coisas que o dinheiro não compra e uma delas é o tempo que tens para o teu filho. Isso nada nem ninguém pode pagar.
Fizeste a escolha certa. És dona de ti e do teu tempo.
http://mundodamafy.blogspot.pt/
Também não tenho um emprego normal e não podia ser mais feliz nessa vertente.
Boa noite
Queria apenas dizer que a admiro bastante por seguir o seu coração, por não desistir, por acreditar que de facto a vida resolve-se sozinha.
Acredite que me inspira, que me motiva, o que faz com que não perca a esperança numa mudança de vida, ou melhor, de trabalho. Ao fim de 13 anos já não me identifico com nada que se faça ali e sonho tantas vezes que me despeço. Mas tenho despesas, uma filha (a luz e a alegria da minha vida) e isso condiciona a decisão final.
Mas não escrevo para me queixar da vida (nem quero)!
Obrigada pelo seu optimismo.
Rita