O meu avô faleceu no fim de Julho. A morte pode ser uma mudança. O meu avô faleceu durante a noite, felizmente durante o sono. Sou muito grata pelo tempo que passei com o meu Avô Zé. O homem que me ensinou história. O homem que me embalava com o Amor de Perdição. O homem a quem pedia que me cantasse “Simão aquele estudante apaixonado por aquela fidalguinha de Viseu”. O melhor bolo de iogurte, as torradas cheias de planta. O amor apaixonado pela minha avó.
A história de amor dos meus avós é a mais bonita que conheço. Vivem juntos desde o instante em que se conheceram. Nem imagino aquilo que se sente depois de 70 anos com alguém. Uma vida inteira. Quando o meu avô morreu, a minha avó pediu uns minutos. Deu-lhe um beijo e murmurou: é o último beijo que te dou meu marido. E eu nem imagino a dor.
A morte do meu avô resumiu a dor dos últimos (muitos ) meses. A dependência, a incapacidade. Esse estranho regresso às fraldas numa ciclo em que o fim é também o início. A morte do meu avô mudou-me. Não foi uma epifania, não vi a luz , nem tomei resoluções imediatas. Veio de mansinho, e acalmou outras ânsias que me atormentavam há algum tempo. Eu digo-vos: a vida resolve-se sozinha. As respostas aparecem mesmo que sejam em dias estranhos. Eu gostava que um funeral fosse lugar para tirar fotografias. Que raio, como é que um acontecimento triste como a morte pode fazer acontecer um dia tão doce, tão cheio de amor, tão cheio de abraços dos meus, de reencontros, de gargalhadas em surdina, de mãos dadas muito apertadas. Gostava que um funeral fosse lugar para tirar fotografias e tinha a minha família, toda junta (menos estes dois, por razões óbvias).
Aqueles dias de luto, passados no colo (e a dar colo) da minha mãe explicaram-me que devia voltar a casa. Era essa a resposta. Vivo aqui, mesmo ao lado, deste lado da ponte. E sim, quero voltar à minha margem. Um dia.
Perdi o meu Avô em final de Abril quando já estava a preparar o regresso à nossa cidade. As saudades são constantes! Mas estar mais perto da minha Avó e da minha Mãe e viver esse luto mais próximo delas ajuda… Sem dúvida! Um beijinho
A morte é uma mudança, não necessariamente para pior
Mal é dependência, como no caso do seu avô, e a tantos outros sucede. A morte repõe tudo no seu lugar.
Nasceu, viveu e morreu. Completa-se o círculo normal da existência porque a vida nada mais é do que umas curtas férias que a morte nos concedeu.
Paz e tranquilidade à sua alma.
Obrigada, Catarina, por essa visão tão tranquila, que nos transmite tanta paz!
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