ser mãe

Carta para a Sara (e ainda bem que a vida não voltará a ser a mesma)

Estava aqui a ver a Maria Luíza a dormir a sesta e percebi que te tinha que escrever sobre isto de ser mãe. Finalmente a Maria Luiza dorme uma sesta grande, a horas certas, sem precisar da minha mama. Tem quase 18 meses e não foi assim até agora. E também não será num dia em que tenha febre ou demasiada tosse. Raio dos miúdos às vezes ficam doentes. Dizem que o coração pára mas é muito pior, a cabeça pára e somos incapazes de ser a pessoa que sempre fomos, assim normal e racional.

Eu sei que 18 meses parece muito tempo. É muito tempo. E, sem te querer assustar, a Maria Luiza ainda acorda à noite. Na verdade acorda várias vezes à noite. E se há dias em que adoro amamentar, noutros detesto, estou farta, quero o corpo de volta. Mas há sempre alguém que diz: “já é altura de parares” e as hormonas reagem ao rubro e eu sinto-me capaz de amamentar mais uns 18 anos (piada, calma).

E quando a miúda fica constipada e eu questiono, bastante zangada: então o leite materno não está cheio de defesas? Onde estão o raio das defesas?

Eu sei que nesta altura só vês bebés que não choram, que dormem a noite inteira desde que chegaram a casa, que descansam a horas certas, sem mama e sem colo. Há bebés que são mesmo assim (a mim nunca me calhou nenhum). Eu sei que te sentes tentanda a culpar a mama, e se deixares de dar mama também te vais culpar. É a vida de mãe, gerir decisões e suportar a culpa.

Também sei que por esta altura todas as mães te parecem magras. E treinam, e jantam fora com os namorados e amigos. E não têm olheiras. Falo por mim, a Maria Luiza tem 18 meses e eu engordei 5 quilos nos últimos seis. Tenho a sensação que envelheci 18 anos. Há dias em que vivo bem com isso: os quilos que sei que irão embora quando tiver que ser, com as rugas, com a flacidez, com a mamas de tamanhos diferentes. Há dias em que me sinto bonita. Há dias em que detesto tudo isso.

Há dias em que me sinto com a força toda. E dias em que me sinto com força nenhuma.

E digo-te, desculpa as más notícias mas assim não dizes que ninguém te avisou, as coisas melhoram mas também pioram. Tem dias.

Mas também te digo que sim, vais ter saudades. Vais ter saudades do cheiro, do corpo pequenino. Vais ter saudades de quando estavam assim mo teu colo. Depois vais ter saudades de quando começam a andar e estão sempre a cair. E saudades das primeiras palavras. Vais ter saudades de dormir naquela aconchego quando estão na tua cama. Das vezes em que te ris a vê-los comer sozinhos. Das primeiras grandes conquistas, do momento em que os vais buscar à escola. E saudades de quando aprendem a ler, a escrever. Depois aprendem tudo o resto. Vais ter saudades dos mimos. Dos abraços. Dos sorrisos. Vais ter sempre saudades dos sorrisos deles e vais querer sempre mais. E sentir-te capaz de tudo só para que estejam felizes (e capaz de morrer quando percebes que não consegues sempre).

 

Não tenhas medo, nem culpa, nem queiras ser perfeita. Esquece isso do que é normal nisto de ser mãe.

Nunca mais a tua vida volta a ser a mesma (e há dias em que terás umas saudades loucas dos tempos em que não eras mãe) mas depois o raio dos putos sorriem. E pronto: ainda bem que a vida não voltará a ser a mesma. 

 

 

13 comentários em “Carta para a Sara (e ainda bem que a vida não voltará a ser a mesma)”

  1. Paula Sofia Luz

    Olha, Catarina, é mesmo isso. Agora que o João atingiu a maioridade e não quer ‘mariquices’ de mimos; que a Maria Leonor está armada em pré-teen e só quer distraída, começam a inundar-me essas saudades todas. Acredita que (re)comecei a ler-te também por isso, se calhar. Não fui tão corajosa como tu. Estava tão cansada de dormir aos solavancos (porque ela não queria chupeta, além de transformar a minha mama numa, durante a noite) que insisti até ela se habituar. E com isso foi-se a mama. Para a Sara, e todas as mães: tudo passa. A sério que sim. E depois só ficam saudades 🙂

  2. Liliana Carvalho

    Sonho com o dia em que o meu Santi dorme mais de noite(sem me procurar a mama), sonho também com o dia em que dorme a sesta sem ter que dar mama( e sem ele ficar a trincar a mama até dormir). Já ouvi que a “culpada” sou eu, porque quando está rabugento e quer mimo sou eu a primeira a oferecer a maminha. Depois queixo-me do cansaço de não dormir há 27 meses. Depois de sair da maternidade perdi 10 kg’s e já os ganhei. Obrigada por abordares também essa questão. Parece que só vejo mães recentes com metade di meu peso e sempre arranjadas.Era um texto como este que precisava ler. Obrigada 😘

  3. Revejo-me no seu texto Catarina…fui mãe à cerca de 8meses e meio, nos dias em que está doente, acorda 4/5x,e penso “então e as defesas do leite materno?não era suposto ganhar defesas com ele?” já pensei tantas vezes em deixar de dar de mamar e outras tantas em continuar =) é mesmo uma constante tomada de decisões e depois de tomada, voltar à atrás….mas não trocaria nada desta vida de mãe pela vida de sem filhos, é encarar a vida com um sorriso =) e pensar “um dia de cada vez”
    Se sou feliz sem dormir a noite toda? Sim. Se sou feliz com as olheiras do panda? Sim. Se sou mais feliz desde que sou mãe? Sim e cada dia mais!
    É mesmo um amor para a vida toda e quero aproveitar todos os dias ao lado da minha filhota

    Tudo a correr bem Catarina!
    Um grande beijinho

  4. Eu gostava que ha quase 7 anos atrás quando fui mãe pela primeira vez alguém tambem me tivesse escrito assim uma carta.
    Se calhar tudo tinha sido mais facil!
    Passei por duas experiencias diferentes primeiro um filho que parecia que nunca durmia,depois uma filha que hoje com 3 dorme este mundo e o outro.
    Experiências diferentes sem duvida o mesmo amor!

  5. Ai! Fui mãe há quase 2 meses e fez-me falta ler algo assim nas primeiras duas semanas! No início senti-me estranha. A insegurança, o medo e a ansiedade apoderaram-se de mim! Sentia-me sozinha e com a responsabilidade enorme de cuidar deste ser tão frágil que depende de mim! Hoje já não me sinto assim e estou completamente apaixonada pelo meu pequenino! Contudo, há dias em que sinto a falta de ter tempo para mim, sinto falta dos jantares demorados, dos fins de semana a dois, das noites bem dormidas e até de fazer compras sem pressa e preocupação porque o bebé pode querer maminha e eu não estou! Mas depois, quando olho para ele, quando me presenteia com o seu sorriso, quando ouço o seu respirar e sinto o seu cheirinho, sinto-me abençoada e agradeço por ter conseguido tornar o meu sonho realidade: ser mãe! Sei que há dias e dias, mas tal como a Catarina diz “ainda bem que a vida não voltará a ser a mesma! “

  6. Não é para mim, mas serve-me na perfeição.
    Obrigada 😊
    A culpa e a dúvida sempre presentes, o mundo inteiro a saber melhor do que eu o que fazer.
    A vida que não volta a ser a mesma e as saudades do antes esmagadas por um sorriso.
    Obrigada
    Beijinho

  7. Catarina Bastos

    Eu é que não tenho tanto jeito como a Catarina para escrever. Sou mãe de primeira viagem, como a Sara. O meu Xavier é 1 mês e pouco mais velho que o baby da Sara. E é um bebé complicado! Teve muitas cólicas, nem à rua saíamos com ele porque mesmo no carrinho chorava… E continuamos a ser bombardeadas por essa imagem de mãe e bebé perfeitos quando é tão difícil. Muita força para todas!! 😊 💪💜

  8. Adoro tudo que escreves Catarina, sou tal como tu sincera e frontal.
    Perdi muitos amigos desde que fui mãe tinha só 22 anos, perdi amigos, festas, jantares e tantas outras coisas, mas ganhei um amor eterno, coisa que as minhas amigas não sabem o que é, e só por isso já vale a pena <3

  9. Alexandra Carvalho

    Parabéns pela carta Catarina!! Amamentei até aos 25 meses do meu filho e só largou porque engravidei! Nunca aceitou LA e por motivos de saúde teve que fazer análises e ficamos a saber que tem um sistema imunitário muito baixo… Por isso questiono-me sobre as defesas do leite materno. A partir dos 10 meses deixou de pedir mama durante a noite e salvo raros excepções passou a dormir a noite inteira. Mas tira-me o juízo para comer, reles a todas as refeições!!! Não há filhos perfeitos!!! Beijinhos

  10. Catarina Pimentel

    O seu texto toca em todos os pontos sensíveis desta fase fantástica e também ultra cansativa que é ser mãe, de primeira ou de segunda ou terceira vez. Fui mãe pela primeira vez há mais de doze anos, depois voltei a ser há 10 anos e agora muito recentemente. O que posso ver de diferente é que, apesar dos problemas serem os mesmos (maminhas, cólicas, choros, noites sem dormir) a minha postura é muito diferente. O que na primeira vez gerava uma grande ansiedade agora vem com uma tranquilidade que só a idade e a experiência nos trazem, mas o cansaço é igual. Só para descansar a Sara, há sempre que encarar que é uma fase, tudo passa, o bom e o mau, por isso é aproveitar os momentos com o bebé, esquecer um pouco de nós e não olhar muito para o nosso corpo agora, ele foi emprestado para o bebé por uns tempos, depois há -de ser devolvido com umas mossas mas que se tratam a seu tempo 😉. Um grande beijinho e tudo a correr bem

  11. O turbilhão de sentimentos q é ser mãe 😍
    Por aqui são quase 4 anos sem dormir uma noite completa, desespera-se por uma noite q o G durma a noite toda. Por outro lado com o D com 13 anos e com a plena adolescência a rondar, já percebo q até das noites mal dormidas sentimos saudades!
    Beijinho Catarina

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