Antes de qualquer outra coisa: vejo o ensino exatamente como a saúde. Ao Estado cabe investir para que seja universal, tendencialmente gratuito e de qualidade.
Não entendo aqueles que falam do ensino privado como um privilégio e uma mais valia para o futuro, quando comparado com o ensino público. É um privilégio ter dinheiro para pagar uma escola privada. Isso sim, ter dinheiro é um enorme privilégio nos dias que correm.
Há mais de dois anos escrevi um elogio à minha professora preferida. A minha professora de Sociologia do 12º ano foi apenas um dos muitos professores que me acompanharam durante os 12 anos em que frequentei o sistema público de ensino. Tive excelentes professores, bons professores, alguns medianos, mas, honestamente, não me lembro de ter tido algum que possa classificar como mau. Poderia usar este adjetivo para com a minha professora primária, não pela má preparação, mas pela tendência injustificável de bater nos alunos.
Em Almada, nos anos 80, não se falava em colégios. Existia apenas uma escola particular e, dizia-se, servia para aqueles alunos que “precisavam de passar o ano”.
Nascida na margem esquerda e criada com valores exatamente na mesma direção sempre afirmei, cheia de certezas, que os meus filhos também frequentariam a escola pública.
Quando cheguei a Lisboa as minhas certezas foram abaladas. O meu filho crescido ia para o primeiro ano e eu não tinha referências, não conhecia a zona para onde nos acabávamos de mudar, além de estar aterrorizada com os meus horários caóticos. Optei por uma escola particular. A minha mãe, avó dos meus filhos, toda a vida professora e dedicada à sua escola (pública), ficou ofendida.
Gostei muito da escola onde o meu filho esteve, mas não sinto que tivesse sido melhor preparado do que eu fui numa escola pública, ou que tenha sido alvo de mais exigência. Teve, de facto, muita sorte na professora que lhe calhou, assim como eu fui tendo ao longo da minha vida escolar. Sim, o meu filho tinha um horário mais alargado e estava rodeado de miúdos com condições económicas acima da média. Não, não foi visitar um amigo ao hospital que tinha comida estragada do lixo, nem conheceu uma colega que aos seis anos cuidava dos irmãos mais novos durante a noite e depois adormecia nas aulas, como aconteceu comigo.
O ensino privado não é um privilégio, é apenas uma opção. Boa ou má gestão, bons e maus professores, bons e maus colegas, existem em todo o lado. A sorte não se paga.
Foto: Marta Dreamaker
Trabalho em educação e não poderia estar mais de acordo!
Parabéns, vou partilhar!
Bjs
Carolina Melo
Julgo que queria dizer mais bem preparado. Quem escreve para ser lido deve redobrar os cuidados.
Concordo em teoria e espero que seja verdade. Sei que ha escolas publicas optimas, mas andei numa escola publica no 12 ano de escolaridade (a de Cacilhas em Almada) que duvido que haja uma ma escola privada que se lhe comparasse. Desde funcionarios a professores, passando pelas instalacoes, tudo era pessimo! A maioria eram mesmo maus funcionarios (auxiliares, secretaria e professores). E as atitudes que encontrei nesta escola publica, mesmo por parte dos professores, acredito que nao encontraria numa escola privada (talvez infelizmente pelo medo de perderem o emprego, ou seja, pela razao errada).
Portanto a Catarina concorda que o estado em vez de investir nas escolas publicas injete o dinheiro em escolas privadas?
E acha mesmo que é igual um mau professor no público e um mau professor no privado? É que no privado se existem queixas contra o professor, rapidamente é despedido. Já no publico, ninguém lhes toca.
A Catarina viu como melhor opção para si escolher o privado. Nada contra, quem quiser e puder que escolha. E apesar de existir a ideia que a população em geral quer acabar com a opção de escolha, não é disso que se trata. Trata-se de ser uma injustiça existirem escolas “topo de gama” com dinheiro publico a custear esse “topo” – às quais apenas uma parte privilegiada da população consegue ter acesso – a poucos metros de escolas a cair aos pedaços, onde chove lá dentro e tem de se assistir às aulas de casaco vestido, porque está tão frio lá dentro como cá fora. É isto que tem de acabar. Quem quer ensino privado que o pague na totalidade, e que o estado aproveite o dinheiro que pode poupar para investir nas escolas publicas.
Ana, o ensino privado é uma opção, logo não terá que ser pago por ninguém não ser por quem toma essa opção. o Estado tem que investir no sistema público.
Se calhar é verdade mas prefiro que os meus filhos frequentem colégios privados. Acho que a escola pública actual nada tem a ver com a escola pública que frequentei. Pago uma fortuna e gasto lá as minhas poupanças mas sinto que estou a fazer o melhor por eles. Aceito que possa estar errado mas faço-o achando que este é o melhor para eles e quando assim é julgo que é o caminho que devemos seguir.
Estou totalmente de acordo contigo, eu também frequentei as escolas publicas de Almada nos anos 80 e sempre achei que os meus filhos seria igual.
Andei em várias escolas em Almada e só não me revejo na parte dos maus professores … eu tive um péssimo a Quimica que fez com que a disciplina tivesse “morrido” para mim. E mesmo Fisica só percebi no 12º com recurso a uma explicadora fantástica.
Os problemas de desinteresse que o meu filho tem tido em relação à escola não seriam diferentes numa escola privada. No nosso caso, por agora estamos satisfeitos com as escolas publicas, mas se deixasse de ser assim, não hesitaria em colocá-los numa escola privada.
Por outro lado, se surgirem problemas com um professor imagino que seja mais fácil resolvê-los numa escola privada do que numa publica em que a colocação de professores é outro filme por si só.
A questão neste momento não se prende com colégios privados, mas sim com colégios e escolas que tiveram a maioria uma génese privada, religiosa em alguns casos, em áreas do pais onde a escola pública não chegava. São escolas normais, onde os alunos não pagam propinas, pois tem um contracto com o estado que paga um valor por cada turma. Assim como paga nas escolas públicas. A diferença é que são escolas dirigidas não por um concelho directivo rotativo e elegido como no público, mas tratando-se de uma entidade que não é dirigida pelo estado, por um concelho directivo nomeado, estável, que desta forma consegue implementar um projecto educativo próprio. Outra diferença é que os professores não entram por concurso por exemplo, são escolhidos, sendo que ao longo do tempo a maioria do corpo docente se encontra estável. Ao contrário de escolas públicas em que todos os anos parte dos professores sabe que provavelmente no próximo ano lectivo não estará ali, neste tipo de escolas o corpo docente trabalha todo ou quase sabendo que é parte integrante deste projecto. Tudo isto contribui para um ambiente escolar mais sereno. Grande parte são colégios católicos, onde paralelamente ao ensino existe a oferta de um conjunto de actividades relacionadas.
É só isso. Se sai mais caro ou mais barato não sei. Não tendo o estado contribuído com a construção nem com a manutenção das infra-estruturas, parece-me que tem de sair mais barato. Não se tratam de escolas cujo negócio é fazer dinheiro. Não é essa a perspectiva. Pelo menos nas que conheço, tendo frequentado uma e tendo uma filha a frequentar.
Este ensino também é público. Só não é estatal, o que é um conceito muito diferente e em Portugal muito pouco explorado.
Vivi toda a minha infância e adolescência numa freguesia rural de Vila Nova de Famalicão, tendo estudado desde o 5º ao 12ºano numa escola particular com contrato de associação. Nessa escola estudam todos os alunos das freguesias vizinhas que assim o pretendam. Ricos, pobres e remediados. Na mesma escola estudam os filhos dos donos e filhos dos funcionários das mesmas fábricas, clínicas, empresas de construção…e os filhos dos muitos desempregados. Todos têm acesso aos mesmos professores, disciplina, valores e estabilidade do corpo docente. Reconheço que a minha visão pode estar toldada pelos 19 anos que me afastam de esse tempo mas tenho a certeza que foi um bom investimento do estado ter apoiado uma escola onde: os bons alunos não eram “gozados” por se esforçarem; os maus alunos eram constantemente apoiados pelos professores (até porque sabiam que seriam professores deles no ano seguinte!); existiam imensos clubes dinamizados pelos professores (teatro, astronomia, matemática, música…); o corpo docente percebia quando um aluno tinha um desempenho abaixo das suas potencialidades e tentava perceber porquê), os horários não tinham furos e eram constantes em todos os dias da semana, os bons professores eram acarinhados, muito importante os meus pais não tinham de me levar porque existia um autocarro que me ia buscar e levar a casa (era o único valor que pagavam). Receio que os mais pobres, neste caso, venham a ser os realmente prejudicados quando perderem o acesso a uma escola de qualidade, com resultados fantásticos nos exames nacionais, onde os pais sentiam que os filhos eram protegidos e incentivados.
Nenhum de vocês está informado sobre o que se está a debater. Trata-se de escolas de gestão privada que prestam ensino público, escolas com contrato de associação. Não vale a pena darem exemplos de escolas privadas em que o ensino é pago pelos pais. Nas escolas com contratos de associação os alunos não pagam o ensino. É a única forma de alunos que não são ricos poderem frequentar escolas de gestão privada, com projetos educativos distintos. Tentam impor-nos a idealogia da escola estatizante, muito fora do seu tempo.
Não só os ricos, aqueles que podem parar fortunas, deveriam poder escolher a escola dos seus filhos. Serão estas as políticas socialistas?