Sempre achei que aquela história da “superação” e de “sair da zona de conforto” era uma grande treta, que servia apenas para que os desafios parecessem ainda mais difíceis de alcançar, envolvidos em frases bonitas.
“Sair da zona de conforto” nunca poderia ser uma coisa boa, pensava. “Conforto”, como o próprio nome indica é bem
estar e alívio. E é esse o objetivo da vida, não é? Na escola, no desporto, na vida em geral sempre me acusaram de não sair da minha zona de conforto. E eu sempre pensei: “tretas”.
Senti-me completamente fora da minha zona de conforto em dois momentos: quando soube que o meu pai estava doente e no dia em que soube da sua morte. Pelo menos eu achei que aquilo era sair da minha zona de conforto, o
oposto de bem estar, a sensação contrária de alívio. O que podia ter de bom voltar a sentir?
O meu pai vivia para me dar conforto, era essa a sua forma de amar. O meu pai tinha um emprego para a vida, de que nem gostava muito, para me dar tudo o que podia. O meu pai impediu-me de ir para a competição da modalidade que praticava porque isso seria agressivo. O meu pai queria viver ao pé do mar, mas uma mudança ia-me alterar as rotinas, era mau porque me tiraria da zona de conforto. Foi assim que cresci.
Quando perdi o meu pai, e fui perdendo todas as minhas certezas absolutas, percebi que, enquanto tivesse medo daquilo que podia falhar nunca poderia saborear aquilo que está para lá das vitórias. Soube-o no dia em que fiquei desempregada e quando voltei a ter o sustento suficiente para a minha família. Sinto-o de cada vez que treino e sou capaz de levantar um peso que julgo impossível, quando aceito participar numa competição, sem medo do resultado mas com vontade de ganhar. Saboreei a superação quando, neste sábado, corri a uma velocidade que julgava impossível e cheguei ao fim.
O meu pai amou-me querendo protejer-me da dor. Devo-lhe tudo. Agora agradeço aos que acreditam em mim e me obrigam a ultrapassar os meus medos. Superação não é uma treta, é uma vitória contra nós mesmos. Dói, mas o lugar onde chegamos é tão melhor do que aquele em que estávamos.
Este texto está mesmo maravilhoso!
Parabéns, continua estás muito bem!
Beijinho grande.
A superação não é definitivamente uma treta! É a superação que nos faz crescer, é o elemento diferenciador num dia em que entras e no fim sais transformado. Se bem, que às vezes a superação não seja assim uma coisa tão rápida, nem tão perceptível a curto prazo 😉
Gostei muito de ler (=
O desconforto é real mas temporário. Sair da zona de conforto é a única forma de a aumentar. Ou seja, o que era temido e desconfortável passa a capacidade e conforto.
Gosto muito de a ler até porque não tenho o dom da escrita nem de me exprimir. Espero que continue a escrever, pois identifico-me muito com o que escreve.
😉
O peso daquilo que nos incutem é muito difícil de ultrapassar. Revi-me no antes…
Maravilhoso!!!!
Continua como és e a ultrapassar os teus medos, beijinho corajoso 🙂