[elogio à poupança ou a menos trabalho]

Dizem que é o muito irritante o meu hábito de não comprar o que faz falta em casa até o mês acabar. Eu exemplifico: quando acaba o rolo de cozinha, a partir do dia 20 uso papel higiénico ou outra qualquer alternativa, mas espero pelas próximas compras-grandes para voltar a comprar. Faz diferença comprar o rolo de cozinha no dia 20 ou no dia 1? Para mim faz, é um questão de disciplina de poupança e eu levo o orçamento mensal muito a sério.

Não faço ementas semanais, não porque não lhes reconheça utilidade, mas porque aquilo que cozinho é tão básico e leva tão poucos ingredientes que não é necessário planear nada. Hoje o jantar é frango, amanhã o almoço será frango e o jantar do dia seguinte será frango também se ainda sobrar. Depois fazemos peixe. E quando o peixe acabar fazemos o que ainda existir no frigorífico. Enquanto há comida em casa não vale a pena ir às compras.

Dizem que é o muito irritante o meu hábito de não comprar o que faz falta em casa até o mês acabar. Mas eu acredito que diminui bastante o desperdício, nomeadamente das coisas que acabam por sair do prazo de validade, e aumenta os níveis de poupança.

Sou uma defensora dos frigoríficos pequenos, ou à dimensão do agregado familiar, despensas pequenas em que a probabilidade de ficar uma lata perdida na fila de trás seja nula. Aliás sou defensora de casas pequenas no geral porque demoram menos tempo a limpar, custam muito menos dinheiro a manter e mantêm a proximidade familiar. Por falar em limpeza, confesso que quando acaba o detergente da roupa sou pessoa para adiar a lavagem por uns dias ou ir buscar um bocadinho de gel de banho.

Dizem que é o muito irritante o meu hábito de não comprar o que faz falta em casa até o mês acabar. Mas eu levo a sério o meu orçamento familiar e os meus conceitos de poupança, que são aquilo que me tem permitido viver a vida de acordo com um estrangeirismo pomposo: downgrade. Sim, entre trabalhar mais e ganhar mais ou ganhar menos e poupar mais, eu prefiro a segunda opção.

14 comentários em “[elogio à poupança ou a menos trabalho]”

  1. Gosto da perpectiva.
    Consumir o estritamente essencial é económico e é também uma forma ecológica de contribuir: menos desperdício, menos idas de carro ao supermercado.
    E claro, vai contra a atitude burguesa de "consumir o que me apetece, porque posso,porque "preciso"."
    Boas poupanças! 😉

  2. Entendo te perfeitamente Catarina, houve uma altura da minha vida em que achava que comprar nas promoções e com descontos era poupança…moral da história cheguei a ter stock de n' coisas…e tinha o dinheiro empatado. Cheguei à conclusão que não vale a pena, pois existem sempre boas promoções e se comprarmos dia a dia, ou quando realmente faz falta ( não deixo para as compras grandes 😉 ) , acabo por poupar na mesma e fazer compras muito mais conscientes…também me obrigo a ir caminhar para as ir fazer, pois como são compras pequenas, levo o bebé a dar uma volta e compro o necessário!
    Cheguei a um ponto de fazer mais ao menos o calculo das embalagens de arroz, massa etc etc que preciso mês e essas sim faço nas compras grandes!
    Mas a tua teoria não está má e a tropa manda desenrascar!!!

  3. Gosto da perspectiva do downgrading.
    Sendo igualmente freelancer por opção (e não imagina o quanto me revi no seu texto sobre o pagamento à segurança social), costumo explicar às pessoas: há gente que trabalha para pagar os seus luxos, o meu luxo é tempo e liberdade, que compro recebendo menos à partida.

  4. Catarina,

    Como a compreendo (mas não totalmente na parte respeitante ao planeamento!).

    Passei uma fase consumista e deslumbrada de início de carreira, própria de quem tinha tido muito poucos extras enquanto estudava, dada a cultura de austeridade vigente na casa paterna (eram os idos de 70 e 80, com os resgates do FMI, juros a 32% e etc).

    Até que, há uns anos percebi que «menos é mais» – literalmente e como diz, menos coisas para limpar, arrumar, organizar, menos necessidade de espaço (mas gosto de casas grandes e se pudesse viveria numa ainda maior).

    Reduzi os meus gastos em trapos para menos de 10% dos gastos que tinha anteriormente – e continuo a vestir-me (bem) e preciso de seis semanas em cada estação para dar a volta ao roupeiro (para além do esforço tremendo que é mudar de carteira…)

    Depois da fase mais radical, agora vou anotando o que me faz falta para depois comprar, preferencialmente e sempre nos saldos (poque há coisas que se gastam mais – os básicos – e têm mais rotação); e, de vez em quando permito-me pequenos luxos, como este Verão em que comprei dois biquinis da FUNKITA, marca australiana de natação, nada barata, mas o resultado é espectacular: posso meter-me em ondas de surf ficando o biquini sempre no mesmo síto; além disso, dura tanto que enjoa – o meu fato de banho de natação tem 3 anos de uso intensivo – 4* semana -, e continua impecável, é um dos caos em que o caro compensa.

    Perfumes só uso os que tenho (e são 2 ou 3, ou seja, muitos), que são os de sempre e que me vestem a pele (e normalmente não existem em Portugal…). Enquanto não acabarem não compro (ou mando vir)outros.

    Sempre que ia a Inglaterra ou algum conhecido lá ia, encomendava pilhas de chás ditos "ingleses"; agora compro chá dos Açores, que é óptimo, muito mais barato, e só preciso de comprar dois pacotes de cada vez (Broken leaf e Pekoe, às vezes chá verde) – ou seja, não há empate de capital.

    A minha outra fonte de gastos eram os livros: tornei-me sócia de bibliotecas e procuro comprar o mínimo de livros (só mesmo os "must have" – o que inclui raids na Feira do Livro para comprar por 50%, 70% ou por 3€ 0u 5€ livros de Vitorino Nemésio, Sandor Marai, Jack London, Miguel Esteves Cardoso… MAS SEMPRE COM UM TECTO DE €€€ PRÉ-DEFINIDO – e aqueles que não existem em Bibliotecas e tenho que ler por qualquer motivo, como os clubes de leitura em que estou inscrita.

    Na família fazemos "pass downs" de livros já lidos e que provavelmente não voltaremos a ler.

    Agora que a biblioteca da minha mãe está disponível, com os seus mais de 3.000 volumes, estou a redescobrir o prazer de reler livros lidos há 30 e muitos anos. E procurar ler outros que nunca li.

    Na comida procuro mesmo organizar menus. Porque tenho uma vida profissional a 200km/H, porque sou macrobiótica e os menus não são simples e tenho que pensar antecipadamente o que fazer, o que comprar ( e confesso que não aguento comer três vezes seguidas a mesma coisa).

    Fiz muitos outros downsizings, versão "simplificação", como cortar o cabelo para só ir ao cabeleireiro uma vez por mês, pintar e aparar, pois 4 idas semanais à piscina implicam
    muita mão de obra capilar…
    E dar menos prendas ou dar prendas feitas por mim.

    A parte melhor é que eu não precisava de fazer nada disto, faço por escolha própria e consciente, e só vou ficar mesmo feliz depois de ter aumentado o espaço livre do meu roupeiro para o dobro do actual, para poder ver tudo o que tenho…

    Por último, a cena do papel de cozinha fez-me rir até às lágrimas pois lembrou-me o meu começo de vida independente, teria 25 ou 26 anos; não sei se por falta de dinheiro ou de programação, faltaram guardanapos de papel (à época não tinha máquina de lavar, ia a casa da minha irmã lavar a roupa, pelo que lavar guardanapos de pano como faço agora estava fora de cogitação) e durante uns dias houve que recorrer aos rolos de papel higiénico, porque rolos de papel de cozinha também eram um luxo lá por casa…
    ptc

  5. Compreendo a perpectiva, mas não concordo.

    Não concordo que "devemos comprar o que faz falta", devemos comprar aquilo que está mais barato quando está. Até posso ter rolos de cozinha em casa, mas se hoje estão a metade do preço compro hoje alguns (aqueles que o meu orçamento – baseado no que recebo e na baixa de preço – o permite).. Não é por ter em casa que vou desperdiçar a oportunidade de poupar.

    E pode-se fazer isso com muita coisa sem prazos de validade ou com prazos longos (arroz, massas, enlatados…). Não implica que os alimentos se estraguem porque no que toca a alimentos mais perecíveis (como a fruta) compra-se menos quantidade. Embora também o faça com carne e peixe (que congelo), compreendo que acabo por pagar algo mais na conta da electricidade, mas não excede seguramente o valor que poupo por armazenar.

    Comprar no fim do mês obriga-nos a sujeitarmo-nos a um preço, seja ele mais caro ou barato.

    Acredito que nem todos tenham um ordenado que permita comprar 10 pacotes de massa quando ela aparece com 50% de desconto, mas nem que comprasemos dois pacotes, mesmo no dia 15, estariamos a poupar.

    Seguramente, esta "ginástica" envolve uma gestão do orçamento muito diferente. Deixamos de pensar simplesmente no mês, para pensar em preços, descontos e promoções. Acaba por exigir um grande gasto num determinado produto, mas que é recompensado naquilo em que poupamos a longo prazo.

    Desde que tenhamos a possibilidade de fazer esta "ginástica", acho que se torna um plano mais favorável do que o orçamento mensal.

    Qual é a sua opinião, Catarina?

    1. Lia, eu evito fazer stock. Aproveito algumas promoções, material escolar ou alimentos mais caros [no outro dia encontrei filetes de salmão fresco a 6€ o quilo – eram 13€ – e comprei um quilo, coisa que não costumo fazer. Há sempre promoções a decorrer e eu não tenho espaço em casa nem frigorífico para guardar [o meu congelador é daqueles pequenos…].

  6. Catarina, sou exactamente igual a ti : ) Custa-me muito gastar dinheiro mal gasto e defendo a ideia de que devemos acabar com o que temos em casa antes de comprar algo novo.
    O dinheiro custa a ganhar e a mim custa muito a gastar em coisas que não são necessárias. Sei bem o que dizes, e não acho mal nenhum sermos assim! Tem um bom dia : )

    http://mundodamafy.blogspot.pt/

  7. Compreendo perfeitamente o teu ponto de vista até porque acontece mesmo comprar outras coisas antes de gastar aquelas que já tenho em casa e algumas acabam por se estragar. E cada vez mais tenho adoptado esta atitude de, por exemplo, só comprar mais carne quando já acabou a carne que já tenho em casa e o peixe também, etc. Devemos dar o devido valor ao dinheiro e aos bens que compramos de forma a não desperdiçar e também a poupar. Mesmo com outros bens, sou bastante ponderada e muito pouco impulsiva na hora de comprar. 🙂 Parabéns pelo teu blog e por tudo o que já alcançaste até aqui! Vou continuar a acompanhar-te!

  8. Todos temos formas de fazer esticar o salário até ao fim do mês. No meu caso evito ir a lojas e centros comerciais. Se não for, não sou tentada a compras de ocasião, por impulso ou a estratégias de marketing. Vou apenas quando é mesmo necessário, o mais perto de casa possível – para ir a pé – e munida de lista.
    A outra forma – e infelizmente nem todos podemos – é ter acesso a uma horta. Cultivo a maior parte dos vegetais que consumimos cá em casa, reduzindo assim a factura da mercearia. Como somos vários hortelãos, trocamos os excedentes de modo que se um tiver alfaces a mais troca com quem tiver a menos e todos fazemos uma salada!
    Finalmente, e aí discordamos, armazeno no congelador todos os excedentes da produção da horta, ou então desidrato/seco ou transformo em doce. Pesei os prós e os contras e acabei por comprar um congelador A++ onde guardo só vegetais, nada de refeições pré-cozinhadas. É por isso que deixei de comprar tomate desde que o verão começou e vou cozinhar molhos com o tomate cherry que sobrou e que entretanto congelei, fazendo a poupança esticar outono adentro.
    Boas poupanças!

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