[em casa… mas trabalho.]

“Trabalha em casa?” À resposta afirmativa segue-se o sorriso e o comentário: “Que sorte”. É uma sorte, verdade, mas não pelos motivos que levam ao comentário habitual. Continua a existir o preconceito: quem está em casa não faz nada. E serve esta ideia para o trabalho doméstico, ou para o trabalho freelancer.
Pior que o preconceito é a eterna competição feminina (nisto e, infelizmente, em tanta coisa) entre quem trabalha mais: as mulheres que conciliam trabalho fora com os filhos e gestão da casa e as mulheres que trabalham em casa, seja como freelancer, ou apenas com funções domésticas (felizmente que, hoje em dia, são cada vez mais os pais que entram nesta equação).
Eu, que já estive dos dois lados, acho que é exatamente a mesma coisa, com vantagens e desvantagens para ambos os cenários. Quem trabalha fora de casa tem o ponto positivo de descansar dos filhos (que não sendo uma expressão bonita, é um momento absolutamente necessário), mas tem o desafio acrescido de gestão do tempo, ou gestão do pouco tempo que sobra.
Quem está em casa tem a enorme vantagem de gerir o tempo e o problema de, na realidade, nunca desligar de nada porque os ambientes misturam-se e mantêm-se ao longo de 24 horas.
Aquilo que não entendo é, se o Estado investe e paga para que as crianças possam estar na escola (ainda que pague pouco e não invista o suficiente), porque é que as mães ou os pais que optam por estar em casa com os filhos não recebem um valor idêntico àquele com que o Estado comparticipa as escolas. Porque cada criança que fica em casa é uma vaga disponível para outra criança. Assim como considero que o trabalho doméstico deveria ser remunerado, ainda que tenha muitas dúvidas sobre a forma de quantificar esse valor.
A eterna rivalidade feminino tem também um impacto muito negativo nas relações laborais. As mulheres são as piores chefes das mulheres e, com todo o cuidado que é necessário com as generalizações, são quase sempre as mulheres que dificultam a vida a outras mulheres, nesses momentos complicados em que os putos ficam doentes, têm que ir às vacinas, às consultas de rotina, ou têm apenas um teste mais complicado, no dia seguinte.
Termino com uma generalização ainda mais arriscada: se as mulheres protegessem as mulheres – as que trabalham fora, em casa, com e sem filhos, os estudos sobre as desigualdades salariais entre homens e mulheres diriam coisas diferentes.

7 comentários em “[em casa… mas trabalho.]”

  1. Gosto tanto do seu blog, mas hoje fico triste com a grave generalização… a minha vida mudou radicalmente para melhor desde que deixei de ter um chefe e passei a ter uma chefe. Há pessoas que agem mal quando têm mais responsabilidade e outras que agem bem, independentemente de serem homens ou mulheres….

  2. Em relação ao trabalhar a partir de casa devo dizer que a maioria das pessoas pensa que não trabalhamos. Sou argumentista freelancer e neste momento estou num projecto em que trabalho a partir de casa. Para mim, é perfeito, pois faço melhor a gestão do tempo para ter tempo para os meus filhos, mas o engraçado é quando me aparecem em casa, assim a meio da tarde, numa de… Borá lá aí ou passei por cá, como estás a trabalhar em casa… Felizmente, a maioria das pessoas já está mais desperta para esta realidade e ao fim de tantos anos já começaram a aceitar que eu trabalho mesmo em casa. O ultimo trabalho que tive fora de casa fui dispensada quando informei da minha baixa por gravidez de alto risco… E foi uma mulher que o fez… Mas concordo que muitas vezes não nos defendemos como devíamos!!

  3. Não querendo generalizar, realmente durante a minha procura de trabalho quem tem colocado mais problemas relativamente à questão "Tem filhos", são as mulheres. Quando sou entrevistada por homens, raramente colocam essa questão!
    Trabalhar em casa com filhos é muito complicado. Os meus andam sempre atrás de mim e não me deixam fazer quase nada. Trabalhar a partir de casa é bom… se os miúdos passarem pelo menos umas 4 ou 5h na creche ou com alguém. Só assim nos dão oportunidade de fazer alguma tarefa "descansadas".
    Beijinho

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