Hoje é o teu aniversário. Recordo-te.
Sorrias muito pouco. Mas oferecias-me quase todos os teus sorrisos. Fazia-te rir. Na verdade, rias-te de quase tudo o que eu dizia. Gostavas de fazer tudo exactamente da mesma maneira. Todos os dias. Gostavas dos clássicos italianos e do Rui Veloso. Gostavas de silêncio. Mas gostavas de me ouvir falar ineterruptamente até me obrigares a calar-me. E rias-te. Gostavas de tudo arrumado. Eu adorava abrir a tua gaveta. Tinha aspecto de tesouro. Impecavelmente arrumada.
Deixavas-me recados no caos do meu quarto-de-adolescente. Eu refilava. Tu rias-te. Vias-me comer com atenção. Embevecido. Rias-te quando me confessavas que nada dava mais gosto do que me ver comer. Gostavas de doce e manteiga. E bifes tenros. Gostavas do Sporting e da Naval. Mas dizias que jogavam mal. Muito mal. Gostavas de ler o Público de domingo, página por página, até sexta-feira. Dizias que um dia largavas tudo e iamos viver para a Figueira. Ao pé do Mar e da Serra que te guarda. Eu gostava da tua segurança. E detestava as duas rugas na testa. Se fechar os olhos vejo-te a calçar-me as meias quando era menina. Ou abrir-me uma caixa com a maça descascada quando me trazias da natação. Vejo a tua barba e o teu colo. Se fechar os olhos ouço-te dizer: não quero que te falte nada. Só me faltas tu, pai.
o teu aniversário: 24/11/1945

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Lindo…absolutamente lindo.
…fico com os olhos rasos de lágrimas…imagino-me no teu lugar….seria insuportável perder o meu pai…
Beijo
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Olá Catarina!
Desculpa escrever-te assim “a seco”, mas um dia o Nuno deu-me o endereço do teu blog…”(…)tenho a certeza que te vais identificar, tenho a certeza que vais gostar muito”.
Acertou (parece que já me vai conhecendo bem). Tenho muitas vezes pena de me ter dedicado aos números e não às letras… não consigo com eles descrever os meus estados de alma, as minhas solidões, as minhas alegrias tontas… Acho que muitas vezes o fazes por mim…Também tenho uma “filha só minha” e também me falta o meu pai…ambas próximas do Nuno… penso que temos já muito em comum…tenho muita vontade de ter conhecer melhor.O teu último post é lindo.Impossível não acabar a enxugar lágrimas. Bj gd (e desculpa por esta entrada assim).Bjs, Ana F
olá menina. Que texto bonito. E que pena que aqueles se se vão não possam saber a falta que nos fazem…
É curioso como o que fica são as pequenas coisas do dia-a-dia.
O meu pai telefona-me umas dez vezes ao dia. Por vezes nem atendo de farto que estou. Mas tenho a certeza que no dia em que ele me faltar vou olhar para o telemovel silenciado e chorar.
🙁
Beijinho grande!
Adoro “ler-te”… Já há muito que “te leio”… e emociono-me aundo falas do teu pai… Tenho uma paixão enorme pelo meu pai nem sei descrever… nem quero nunca pensar que um dia se vai… não quero!!!!
beijinho grande
Só morre quem algum dia não viveu no coração de alguém.
E o teu pai continua no teu, e tu no dele…
🙂
…uma infância feliz…
Mais uma estrela que lá vai a passar…
beijo
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1931