Maria Luiza fez 3 anos e eu, uns dias antes, falei sobre esta prenda que a vida meu deu. Esta um pouco da minha história e da minha relação com a perturbação obsessiva-compulsiva (POC) ou transtorno obsessivo-compulsivo (
Foi preciso passar os 40 anos. Foi necessária muita paciência dos meus colegas de secundário quando eu começava a transpirar porque uma folha do trabalho de grupo estava dobrada. Foi fundamental o apoio do pai do Gonçalo quando no pós parto “vi”, pela primeira vez, germes. Foram anos a limpar o chão de cu para o ar, de madrugada. Foram anos a procurar objectos, a voltar a procurar os mesmos objectos, vezes sem conta, e mais outra vez.
Tive o Gonçalo ao meu lado, a apertar-me a mão quando começava a ver germes num centro comercial ou num aeroporto. E o Pedro que pacientemente esperou que os seus cães tivessem um espaço, e depois me fizesse sentir vontade de ter todos os animais do mundo ao pé de mim. O meu Afonso que aprendeu a procurar objectos comigo.
E foi necessários ter filhos, querer proteger de tudo, até do ar. Depois, ainda que tudo isto aqui esteja, aprendi a viver com as minhas fraquezas, a deitar-me no sofá e a pedir ajuda. Fazer terapia, chamar as coisas pelos nomes, aceitar medicação e aprender a tentar viver sem ela.
A vida deu-me uma prenda para comemorar tudo isto: Maria Luiza.
Partilhei este texto no Instagram. Sinto-me infinitamente feliz por todo o apoio que recebi. Muito obrigada.
Aqui ficam alguns dos comentários maravilhosos.
“Parabéns, Catarina. Pela transparência. Por mostrar as suas fragilidades. As redes sociais estão tão cheias de vidas perfeitas , corpos perfeitos, tão cheias de ilusões, tão cheias de “nada”. Fazem falta pessoas reais com vidas reais como a Catarina.”
“Ser real, nesta sociedade, não é fácil …um beijinho.”
“Demais. Chorei. Parabéns pela transparência, pela persistência, pela coragem, pela vida! Que bom que é percorrer um caminho sem desistir de si mesma. Que bom que é alcançar pequenas metas e sentir que todo o esforço valeu a pena. E… Que bom que o apoio esteve sempre aí. Parabéns a todos por este longo processo. É possível.”
Olá Catarina
Bem-vinda de volta :). Comecei a considerá-la uma “pen friend” quando lia e relia os seus textos, que traduziam a felicidade das escolhas simples e a luz do amor de mãe.
Houve uma altura, depois, em que entre o brilho da tanta luz que a seguia senti necessidade de deixar de a ler. Cada pessoa é dona das suas escolhas, e cada uma delas tem por detrás uma razão e um direito a escolher. Era uma fase da “minha” Catarina com a qual não me sentia bem.
Volto a encontrá-la nas coisas simples. Fico com vergonha por a ter “afastado”, como se eu tivesse o direito de julgar o caminho que outros precisam seguir. Como se, por a ler, eu tivesse o direito de a obrigar a não seguir.
Bem vinda de volta. Com vergonha, e um pedido de desculpa, repito: bem vinda de volta.
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