Esta segunda-feira fui aO programa da Cristina, na SIC, falar sobre os comentários de Instagram contra corpos que, socialmente, não são considerados perfeitos. Isto tudo a propósito do pós-parto de Meghan Markle, que recebeu comentários duríssimos (e completamente monstruosos) sobre o facto de ainda estar a recuperar. Devemos ter medo das redes sociais?
No programa falei sobre o facto de não podermos ter medo de nos expôr (de acordo com o nosso grau de vontade de o fazer). Por causa disso, recebi várias mensagens no Instagram. E é sobre isso que volto a falar hoje: sobre peso, sobre exposição, sobre auto-estima, sobre gostarmos de nós, sobre todos os corpos imperfeitos serem perfeitos.
Para vos falar sobre isto é impossível não recuar cinco anos e lembrar o meu processo de emagrecimento. Perdi entre 15 a 17 quilos, ganhei auto-estima, gosto pelo exercício físico e consciência de que usava a comida como escape emocional. Também já falei sobre isso aqui no blogue. Foi um tempo de profunda auto-descoberta. E imensamente feliz. Escrevi o livro Dieta das Princesas, conheci o Pedro, casei e tive a Maria Luiza. Tive um pós-parto muito bom, em que recuperei o meu peso normal muito rapidamente. Recordo esta altura com um sabor doce . Por isso, naturalmente, associo essa fase de baixo peso a um momento, a uma fase, muito boa da minha vida.
Mas nada é permanente. No meu caso, num momento menos positivo, e mais recentemente, ganhei, em três meses, todo aquele peso que tinha perdido há anos. Estava com 60 quilos e rapidamente voltei para os 70s.
Para mim foi como uma derrota: tinha recuperado o peso, estava mais gorda. Ver isto a acontecer foi um processo difícil. Mas hoje sei que não foi difícil por causa da imagem que eu tenho de mim própria. Mais difícil do que aceitar-me, era pensar que tinha desiludido os outros, aqueles que, na minha cabeça, tinham uma expectativa sobre mim, sobre a forma como eu devia ser ou parecer.
Por causa do peso que ganhei, durante muito tempo, deixei de mostrar-me, senti o medo das redes sociais. Tinha medo das reações, tinha medo do que as pessoas pudessem achar de mim. É legitimo — basta olhar para o caso de Meghan. Escondi-me. Mas hoje sei que fiz mal, porque sei que não podemos ter medo. Nós somos muito mais do que quilos.
Ainda não perdi esse peso mas já voltei a aparecer nas redes sociais. Ainda bem que ficaram na memória os exercícios de auto-estima que pratiquei pela altura em que emagreci, porque, graças a eles, hoje tenho o mesmo carinho pela minha simpática barriguinha que tinha pelos meus abdominais definidos.
Tento comer bem e de forma equilibrada, mas há dias em que não é possível. O exercício físico não largo por nada e continua a ser uma coisa do quotidiano. Mas se me perguntarem se quero novamente perder peso, não consigo responder. Prefiro estar estável e preocupar-me com a minha saúde, do que estar a pensar nos quilos e na magreza. Esse é um esforço que não é para agora.
Até porque percebi uma coisa: é no momento em que ganhamos a capacidade para nos expormos nas mais diversas formas — mais gorda ou mais magra, sem cedermos àquilo que são as obrigações que nos acabaram por impor em termos de imagem — que normalizamos isto tudo. Quando acabamos com o nosso preconceito, acabamos com o dos outros. Hoje existem 1000 comentários feios, amanhã 100, depois nenhum. Não podemos ceder ao medo das redes sociais. Queremos uma imagem mais livre de preconceitos para os nossos filhos.
Gostava muito que o nosso grau de exposição tivesse a ver com a nossa timidez e não com a nossa forma física. Estar gorda ou estar magra não significa estar mais feia ou mais bonita. E, não se esqueçam: transmitimos aos nossos filhos a forma como liamos com a nossa imagem. Gostem de vocês. Com ou sem six pack. Mas que haja sempre saúde. Isso é o mais importante.
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