Tenho alguma curiosidade em saber o que cada um de vós sente ao ler este título. A palavra “pornografia” é daquelas que pode causar constrangimento e ansiedade (dependendo da pessoa – claro está), unicamente por ser encarada como proibida. Aos pais de hoje: temos um desafio.
Abordar o tema com crianças e jovens pode ser um murro no estômago. A verdade é que mais vale fazê-lo do que ignorar o assunto. Surgem muitas questões neste campo: é suposto conversar sobre isto a partir de que idade? Explica-se o quê? Alerta-se para o quê? Foi nestas questões que vi a pertinência deste texto e escrevi-o com o intuito de descomplicar.
Ainda há uns dias, o psiquiatra Daniel Sampaio falava no assunto: “Os pais não devem ver pornografia com os filhos. Tenho casos de homens que o fazem”.
Estará aqui uma fronteira. Encaremos a realidade: as nossas crianças são seres humanos, seres sexuais, futuros adultos. Inevitavelmente, o sexo e a pornografia vão chegar-lhes à vida. Atentem que acontece cada vez mais cedo e cada vez mais de uma forma fácil e gratuita. Os telemóveis e a internet abrem caminho a infindáveis universos, como o da pornografia. Seja sem querer – porque estes conteúdos surgem nos ecrãs em janelas pop-up e em filmes que passam na TV -, seja porque um amigo enviou uma imagem através do Whatsapp ou por curiosidade própria. A resposta à curiosidade está a um Google de distância.
O caminho mais fácil é reconhecer e assumir que os nossos filhos vão ter contacto, mais cedo ou mais tarde, com estes conteúdos. E este caminho tem que ser feito a conversar. Conversar é obrigatório.
Li num artigo do jornal Público que “Portugal está entre os países onde o contacto com as imagens sexuais online parece ainda ser objeto de tabu nas famílias” (um trabalho de pesquisa coordenado pela professora Cristina Ponte, da FCSH, Universidade Nova de Lisboa). “A pornografia tornou-se na educação sexual das nossas crianças”, diz. Infelizmente acrescento eu. Aqui está a grande preocupação. Pornografia não é educação sexual. Não pode ser. Pornografia é ficção e em momento algum deve ser tida como um exemplo de conduta, principalmente na fase em que ainda se estão a criar conceitos, ideias e ideais.
Como iniciar a conversa? Não deve ser uma conversa em que toda a família se junta na sala ou na cozinha, num ambiente constrangedor, onde se decide fazer perguntas em modo interrogatório. A introdução do tema deve acontecer em momentos descontraídos, como por exemplo passeios de carro ou pequeno-almoço. Tranquilamente, sem acusações nem pressão. O silêncio, ou seja, a inexistência desta conversa, é também educação. E, normalmente, quando não se fala de algum assunto é porque se assume que é perigoso, indecente ou inapropriado. Falar sobre sexo não pode ser este bicho.
Quando? Concordo com a teoria da professora Cristina Ponte: a partir dos 10 anos. Nesta fase, a sugestão passa por explicar que a pornografia é ficção. Não é real. Talvez o termo pornografia, nesta idade, seja demasiado. Mas podem sempre explicar de outra forma. Por exemplo: “imagens que possam aparecer no telemóvel com pessoas nuas”.
Para crianças entre os 11 e os 15, é importante que o discurso mude. Falar de racismo, o desrespeito pelos corpos, sobre a importância de não se despirem para ninguém que faça pressão para tal e, que não se deixem fotografar sem roupa. O termo sexting existe entre os adolescentes. Na fase da conquista, acontece muitas vezes que se peçam imagens sem roupa. É importante alertar que uma vez que estas imagens circulam na internet, na “nuvem”, podem ser apanhadas por hackers e perder-se todo o controlo da situação. Mesmo sem o azar de hackers, os amigos partilham estas fotografias e é provável que se torne viral. As consequências podem ser desastrosas.
Relativamente aos sites de pornografia. Têm muita agressão, violência e punição sobre as mulheres. Estão carregados de valores sexuais negativos, que podem afetar os miúdos e fazer-lhes querer que o sexo é assim. Podem contribuir para expectativas irrealistas sobre a imagem do corpo e do ato sexual, promovendo a objetificação e a ideia de que a relação sexual não está ligada à relação amorosa. Tudo ideias que nos cabe desmistificar e esclarecer.
Não há temas proibidos. A conversa é uma janela de confiança e de descanso. Miúdos esclarecidos são miúdos responsáveis e conscientes. A vergonha que eles possam sentir em falar disto com os pais acaba no momento em que sentem que o podem fazer, sem problema. Haverá sempre segredos e pormenores que ficam para eles – e assim deve ser. Que não se baixem os braços se a vossa conversa não tiver resposta (ouvir chega-lhes) e que não se sintam mal em dizer que falam sobre pornografia e sexo com os vossos filhos. Somos nós a construir as nossas pessoas.
Já leram este este artigo da sexóloga Vania Beliz? “Alguns pais acham que é feio dizer vagina. E eu pergunto: e joelho não causa embaraço porquê?”
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Parabéns pela iniciativa de trazeres um tema minimamente com conteúdo mas, acima de tudo, podes usares a tua exposição para influenciares positivamente a vida das pessoas e não apenas para promover marcas.
Quanto ao tema em si, é bastante tricky tendo em conta a facilidade com que os miúdos tem acesso aos conteúdos. Mas acho mesmo que o caminho é a abertura a conversa e acima de tudo, fugir da vergonha de não abordar estes temas e de serem pessoas resolvidas. Não se falar é que é pior.