Associação Humanidades

Associação Humanidades – um lugar muito especial: meninas-mães

Quando fui convidada para conhecer a associação Humanidades adiei. Não tenho disponibilidade de tempo ou dinheiro para chegar a todo o lado.  Também, confesso, não tenho disponibilidade mental. Não me identifico com o verbo “ajudar”, acredito que vale a pena “colaborar”.

Li bastante sobre a Humanus antes de marcar, finalmente, a primeira visita. Sabia ao que ia: miúdas adolescentes – grávidas ou mães de filhos pequenos, já institucionalizadas ou em risco, são acolhidas. Não há aqui nenhum discurso “pela vida”, nem moralismos sobre a sua condição (é preciso ter em consideração que algumas destas crianças são resultado de violação, violência e abusos).

_DSC7798

O Centro de Apoio à Mulher (CAM) recebe meninas que querem ser mães daqueles bebés. O trabalho seguinte é ajudar estas meninas a serem mães e mulheres sem perderem o espaço e a necessidade de crescerem. Naquele espaço há um projecto de autonomia. Estas seis miúdas não estão ali para ser ajudadas mas para aprenderem o mais difícil: viver no mundo real. “Acreditamos que uma parentalidade consciente e responsável tem como pontos de partida: o respeito por si, pelos/as filhos/as e respetivas necessidades; o autoconhecimento e responsabilização por controlar a própria vida; desenvolvimento das competências pessoais, parentais, sociais e profissionais”, explica Isabel Lopes Vice-presidente da Associação Humanidades.

Houve um choque (inevitável) quando vi uma miúda da idade do meu filho mais velho com um bebé ao colo. Eu, defensora árdua da amamentação, arrepio-me quando a vejo alimentar o filho, como se naquele gesto físico estivesse a prova de que uma menina estava a ser obrigada a ser mulher. O olhar estava perdido e assustado.

_DSC7828

 

As gargalhadas da Cátia mudaram o ambiente. Está fora da CAM há três meses. Alugou uma casa onde vive com o filho e o namorado (pai do filho). Estuda, trabalha e trata da casa.

– Eu refilava quando calhava a minha vez na escala de tarefas, mas a vida fora daqui é muito mais difícil.

Suspira e volta a dar uma gargalhada.

– Foi aqui que me ajudaram a tratar dos documentos, foi aqui que aprendi a gerir o orçamento da casa. Comprei tudo o que precisava para a casa nova no OLX, com dinheiro que tinha guardado.

Volta a sorrir para Renata Cortizo, responsável pelo CAM, uma mulher infinitamente doce e com um tom de voz calmo e baixo. A filha está na creche que existe no mesmo espaço e que, para além do apoio às mães da residência (que estudam e trabalham), recebe outras crianças da comunidade.

– Às vezes não gosto de vir cá todos os dias. Precisava de sentir saudades.

Descanso-a:

– É sempre assim com todas nós. É o mesmo quando saímos de casa dos pais. Precisamos do nosso espaço.

Quando Carla saiu entrou logo outra menina. São apenas seis e a lista de espera é enorme.

 

_DSC7840

 

Quando voltei à associação, na semana passada, em jeito natalício, reencontrei a Micaela. O Lizandro já tem um mês, a mãe-menina agarra-o e adormece-o. Continua com o olhar assustado mas já é maternal nos gestos. Combino que vamos arranjar maneira para irmos jantar fora sem os bebés. Entusiasmam-se. Se até eu preciso de tempo sem os meus filhos o que será destas adolescentes que têm de ser tão crescidas, cedo demais, todos os dias.

“Acreditamos que uma parentalidade consciente e responsável tem como pontos de partida: o respeito por si, pelos/as filhos/as e respetivas necessidades; o autoconhecimento e responsabilização por controlar a própria vida; desenvolvimento das competências pessoais, parentais, sociais e profissionais”, explica Isabel Lopes Vice-presidente da Associação Humanidades.

Como ajudar? A associação precisa sempre de tudo o que esteja relacionado com o dia a dia destas mães e bebés: fraldas, leites, produtos de higiene e alimentação são as principais necessidades. Veja mais na página da Humanus.

 

_DSC7743

um enorme obrigada ao Pau Storch,

à Natura Portugal,

ao Barrigas de Amor,

a todas as pessoas que contribuíram para esta colaboração,

e à CAM por me fazer sentir em casa.

 

 

Associação Humanidades

3 comentários em “Associação Humanidades – um lugar muito especial: meninas-mães”

  1. “Combino que vamos arranjar maneira para irmos jantar fora sem os bebés. Entusiasmam-se.”

    Obrigada por isto que disseste às meninas/mulheres. Colaborar tem esse jeito de amor, lindo.

  2. Cátia Henriques

    “Combino que vamos arranjar maneira para irmos jantar fora sem os bebés.” »» Eu ofereço-me desde já para fazer babysitting nessa noite 😀

  3. Post maravilhoso.
    Ainda bem que existem associações capazes de ajudar estas meninas mamãs.
    Se as adultas entram em pânico quando grávidas (com aquelas típicas dúvidas se vão saber cuidar de um bebé) fará uma menina.

    Obrigada por lá ter ido e partilhar com os leitores esta associação.

    http://ourpicturingdays.blogspot.pt/

Deixar um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *