Numa das minhas últimas crónicas, um comentador referia que não andava aqui a escrever nada com conteúdo suficientemente denso para o site em questão.
Confesso, sem problema nenhum em assumir as minhas fragilidades, que fiquei com a frase a dar-me voltas à cabeça.
Sabe, estimado leitor, é verdade, não sou uma intelectual com teses sobre política e economia, fundamentadas em citações e leituras várias.
Digo-lhe mais, na verdade, nem sequer acabei o curso de Economia. Faltam-me três cadeiras (embora já me sobrem dez), o que causa um enorme desgosto à minha mãe.
Cresci com essa pressão: a da densidade intelectual. Estudar o máximo possível, ter uma licenciatura, um mestrado, uma doutoramento (veja lá, estimado leitor, que algumas amigas minhas têm uma coisa que vai além do doutoramento, e eu, quando me pedem as habilitações literárias só posso escrever que concluí o 12º ano), dizer apenas coisas interessantes e, se possível usar palavras difíceis.
Sabe, estimado leitor, eu admiro, e até invejo, quem lê livros grossos, com vocabulário que desconheço, quem escreve teses sobre assuntos que não domino, quem tem densidade intelectual, a tal que me falta.
A minha vida deu muitas voltas. Comecei do zero algumas vezes. Tenho “rede de apoio”, felizmente. Trabalho desde os 16 anos. Aos trinta, quando tudo mudou, lavei as escadas do meu prédio. Não tenho problema nenhum em trabalhar naquilo que for necessário, é uma vantagem das pessoas com pouca densidade intelectual.
Sou trabalhadora e poupada. Já geri um orçamento familiar em que sobrava, mas aprendi a que nada faltasse, mesmo com menos de metade.
Já tive empregos com títulos pomposos, já estive desempregada e reinventei o meu trabalho. É sobre isso que escrevo: sobre o dia-a-dia, sobre os pensamentos, sobre os sentimentos de uma pessoa normal.
E vou acreditando, mesmo com a minha pouca densidade intelectual, que posso ajudar outras a viverem com menos e igualmente felizes, e a acreditarem no seu valor, mesmo que não tenham nenhum teoria política ou económica sobre o estado do mundo.
Pararei para ler ou ouvir o senhor que me explica como faz as compras no mercado, a senhora que prepara o jantar de toda família, e a mãe solteira que gere um horário impossível. Tenho coisas para aprender com todos.
Crónica Dinheiro Vivo
foto: Pau Storch
roupa: FantasyLandStore
cabelo: Natural Hair Spa
pestanas: 2Be
Não há nada com maior densidade intelectual do que escrever sobre o equilíbrio encontrado entre a cabeça e o coração, o equilíbrio entre o caos de se criar dois filhos pequenos e a alegria de se criar dois filhos pequenos, conseguindo ainda ganhar dinheiro para uma vida digna fazendo aquilo que gosta. E ainda encontrar o verdadeiro amor enquanto gere as finanças complicadas que nos calharam. Eu, como mãe solteira de duas meninas pequenas digo-lhe do fundo do coração: ler o que escreve diariamente traz-me densidade intelectual e sabedoria sobre as coisas da vida. Encontro neste blog um guia e uma inspiração que mostra que cair é sempre a antecedência do levantar. Por isso sugiro aos leitores que procuram ainda maior densidade do que esta (para mim a mais importante) que se agarrem a ler umas enciclopédias em vez de tentar quebrar quem sabiamente se rege pela emoção.
Intelectualmente bem respondido… Parabéns Catarina
É realmente pena que as pessoas se preocupem tanto em suplantar os outros com a sua intelectualidade e tão pouco com a felicidade pura e simples. Acho o blogue fantastico
Parabéns pela chapada de luva branca aos senhores que se julgam superiores por carregarem canudos debaixo do braço! Muito menos densidade intelectual terá esse senhor por ter o desplante de se ter referido a este blog (que tanto aprecio) sem o mínimo de respeito pela autora em questão. Mas o que é que se há-de fazer? Onde há “demasiada” densidade intelectual, parece não haver espaço para humildade e simpatia.
Nao costumo comentar mas gostei tanto do que li que nao resisto. Continua a escrever que nos continuamos a gostar muito de vir aqui.
(Peço desculpa por estar a contribuir ainda mais para esta fraca densidade intelectual mas estou num teclado sem acentos e nao queria deixar para logo a minha vontade de comentar e de dizer o bem que me faz ler este blogue!)
um bom dia para todos!
E eu continua a aprender consigo Catarina! Obrigado por todas as partilhas. Sucesso 🙂
Bom Dia Catarina, o senhor parece-me projetar em ti, tudo o que lhe falta. Parece-me sempre que apontar uma lacuna (que não é o caso!) ou invocar um insulto em relação a outra pessoa é sempre um descarregar dos sentimentos que o próprio tem. Cada um é como é e se for verdadeiro consigo próprio, ninguém mas ninguém lhe pode dizer que está a ser de forma errada. Falta, de facto, densidade intelectual, nmas não é a ti.
Gostaria de saber o que é para esse leitor um “conteúdo denso” para este site. Nunca me apercebi que fosse obrigatório este blogue ter algo mais substancial do que pensamentos, desabafos, histórias, coisas do dia a dia. E mesmo que seja “só” isso… não é substancial o suficiente? porquê?
Nem tudo agrada a todos claro. Confesso que não me revejo nas fotos de pequenos almoços e afins 🙂 mas revejo-me nos pensamentos e histórias do quotidiano. Mais assídua ou menos, cá volto sempre, o que significa algo.
Que mania que as pessoas têm de rebaixar os outros (lembro-me sempre da expressão “dor-de-cotovelo”…). Se não têm nada de agradável a dizer, não digam nada… seria preferível. Se não gostam não visitem o blogue. É simples.
Um colega de trabalho (e amigo, achava eu, e por isso brincávamos imenso), depois de eu fazer uma piada sobre a quantidade de erros ortográficos que deu num email, parece que lhe deu um ataque de histerismo e reencaminhou-me uma resposta, com conhecimento a todas as chefias, a dizer “(…)não tendo de me justificar perante si mas porque estas pessoas a quem reencaminho o email estão muito acima do seu nível intelectual, me merecem esta justificação(…)”. WTF???
Fiquei absolutamente estupidificada com a reação e com a própria estupidez da pessoa.
Claro que não fui igual a ele e não lhe respondi por escrito – nunca deixo provas 🙂 – mas fiz questão de lhe ligar para lhe dizer que para além de não compreender de onde vinha aquilo ele foi extremamente mal educado quando eu tinha feito, simplesmente, uma piada. E não, não me dei por básica por assumi “fraca densidade intelectual” porque ele sim, e até é do conhecimento geral mas eu gostava dele na mesma, é um homem muito básico, pouco instruído e educado.
Sabe Catarina, quando se lança uma seta no deserto já sabemos que vai cair em pó seco, mas quando se lança uma seta na selva nunca sabemos em que fera essa seta vai acertar. No sei caso, acertou numa que andava desejosa de ser atingida.
É impossível agradar a todos, até mesmo aos amigos, que dizer daqueles que desconhecemos.
Mais do que a forte ou fraca densidade intelectual, aquilo que admiro em si é a capacidade de assumir os altos e baixos e de com um sorriso dar a volta por cima! Obrigada pela inspiração!
Cada vez gosto mais destas crónicas.
A densidade intlectual não me interessa, gosto de te ler pela verdade, simplicidade e realismo do que é realmente importante. Pela densidade do amor e da inspiração que partilhas todos os dias.
Obrigada,
Carolina Melo
Escreveste muito bem este post 🙂
Mark Margo
http://www.markmargo.net (site cor de rosa de celebridades e cinema)
Será que agora também temos de ter uma licenciatura, uma pós-graduação ou um mestrado para ter um blogue e para dizer é fazer o que nos vai na alma? Só por não o termos ficamos como escravos do nosso pensamento pois existem iluminados sempre a avaliar e a dar notas do que é bom e é mau. Catarina conheço-a a algum tempo já estive consigo e acho que tem um dom O DE FAZER COM QUE AS PESSOAS QUE ESTÃO CONSIGO SE SINTAM BEM seja nos workshops que faz seja apoiando causas nobres como apoiar a causa famílias SOS. Eu posso dizer-lhe claro sob o meu ponto de vista pois estive num desses eventos numa altura muito dura para mim que ainda não passou mas que contribui para não ser só mais um dia. É sim os seus testemunhos reais muitas vezes me levam a pensar como reagiria eu se me visse numa situação dessas. Não ligue nenhuma pois existem pessoas que adoram o bota abaixo.
Um beijo
Oh querida Catarina, não percebe que é por sermos um país de doutoramentos, mestrados e afins que estamos tão à frente dos paises onde todos são o sr e sra fulana de tal… parabéns pela diferença e por estar mais perto da verdadeira intelectualidade, a da cidadania e dos afectos . Bj
Muitíssimo bem respondido, mas o leitor tem muita razão. Percebe-se facilmente que as crónicas, que falam do dia a dia de uma pessoa normal, não têm conteúdo. Não têm mesmo. São escritas a correr e parece que ficam sempre inacabadas.
Ninguém está á espera de uma análise ao OE, mas já que é para ler alguma coisa (e já que ganha dinheiro com isso), era agradável não sentir que se perdeu tempo. Que é o que se sente.
Não é porque a autora trabalha no que for preciso que tenha assunto para poder assinar uma crónica.
Ah valente!
Boa tarde.
Gosto de a ler! Gosto.
Alegra-me (genuinamente) antes de mais ver o meu semelhante FELIZ.
E é isso que sinto quando a leio, principalmente nos últimos tempos.
O amor provoca essa vontade de nos alhearmos, de nos refugirmos no que é tão nosso, de nos entregarmos ao sentimento que cresce e provoca sorrisos, corações acelerados e bom astral.
Para ler autores densos há outros, mais técnicos, que se debruçam sobre outros temas e esses bem sabemos aonde os encontrar.
Para ser sincera, genuína e única não é necessário concluir um pós-doutoramento. Basta ser como tem sido, verdadeira.
Cara Catarina, embora seja um leitor recente do seu blogue, já deu para perceber que de tudo o que a possam acusar, falta de densidade intelectual não é certamente a mais correcta. Tiro-lhe o chapéu pela experiência de vida e pela forma como a vai expondo ao mundo. E, tal como Catarina, também eu deixei no fim uma licenciatura por terminar, com igual desgosto familiar. Mas convenço-me cada vez mais que não são os títulos académicos que fazem as pessoas. Vejamos o exemplo de como tem sido o país gerido, pela mais fina flor saída das universidades.
O Pai,
http://soupaieagorablog.blogspot.pt
Parabéns pelo seu texto!!!!
Um texto com muito coração e alma.
Um texto com tamanha lucidez de quem vive com paixão a vida!!!!
Um texto escrito só por quem VIVE!!!!!
A densidade intelectual não se mede pelo grau académico. Mas acho que nos dias que correm, cada vez mais se precisa é de densidade emocional e afectiva. E isso a Catarina tem de sobra e é o que me faz voltar sempre aqui e adorar os seus textos. Por mais simples que sejam. Que as melhores coisas tendem a ser as mais simples. A Catarina descomplica e eu gosto disso.
Catarina, desculpe lá mas vou dar aqui uma nota dissonante. Esse leitor não é do dinheiro vivo, por acaso? De facto, há crónicas bem conseguidas e outras mais fracas, como decerto sabe. Qualquer pessoa que ganhe a vida a escrever sabe que nem sempre produz pérolas de sabedoria ou prosa irrepetível.
Gosto de a ler e gosto muito da sua postura na vida; nada do que faz como mãe solteira e provedora da sua casa está em causa. O que está em causa, às vezes é a profundidade e insight que confere aos seus textos no site. Há crónicas excelentes, há outras mais fracas. Não faço ideia se o leitor estava a ser pedante ou não, mas é isso que, como leitora, eu sinto por vezes.
Claro que todos sabemos que há por aí uma enormidade de espécimes patéticos, normalmente pertencentes ao género masculino, que acredita que o jargão económico ou pior, a linguagem de lei é que definem o estatuto intelectual das pessoas. Mas desses a Catarina não precisa para nada.
Beijinhos e bom trabalho.
Eu não leio blogues que me exigem tamanha densidade intelectual ao ponto de entrar em modo de estudo!
Leio (-te) para saborear palavras, com o coração.
Nem só de Nietsche vive o Homem.
Estou a terminar o Doutoramento, e venho aqui todos os dias.
Quando quer ler sobre o que tenho de escrecer, sei onde está. Quando quero ler sobre coisas alegres e sobre a vida, tambem sei onde estao. E venho ao blog da Catarina (e a outros!)
Nao deixe que uma pessoa lhe afecte os dias Catarina.
Nao ha nada mais bonito que a autenticidade. Ostentar oportunidades que cada um teve profissionamente ou mesmo as que escolheu, so interessam a pessoas muito vazias!
bjs e nao se esqueca “Quem tem luz propria incomoda quem vive na escuridao”.
(peco desculpa pelo teclado Ingles… a falta de acentos nao e “apenas” falta de densidade intelectual” 😛