A propósito da hilariante crónica do blog Bitaites
sobre a sessão fotográfica do ministro grego das Finanças, Yanis
Varoufakis, na Paris Match, recordei os tempos em que, na minha
atividade numa juventude partidária de esquerda, perdíamos tempo a
criticar quem não parecia “dos nossos”.
Compreenda-se que “ser dos
nossos” estava de tal forma desenhado e preconcebido que madeixas no
cabelo, unhas arranjadas e roupa nova levava a que questionássemos a
capacidade de luta pelos nossos valores daquela pessoas. Da mesma
maneira, obviamente, Yanis Varoufakis não poderá ser ministro das
Finanças de uma país em dificuldades e beber um copo de vinho ou tocar
piano.
Anos mais tarde provei do meu próprio veneno, enquanto
patroa e proprietária, ainda que patroa sem tostão e a tentar pagar
salários e proprietária de um T2 que custou bastante menos que muitos
carros. Passei a não ser merecedora de defender os valores de esquerda
em que acredito. Pelo menos continuei a calçar botas e nunca me atrevi a
pintar o cabelo.
Desde que tenho um blog
e apareço esporadicamente em eventos e sou convidada a experimentar um
ou outro hotel perdi o direito a ter dificuldades monetárias. Esta é a
conclusão de uma leitora do meu blog que, não me vendo a trabalhar
sentada das 9h às 19h, concluiu que não faço nada e ainda me queixo. É
assim uma verdade absoluta: se apareço às 17h a passear com o meu filho
no jardim deixa de interessar que tenha estado toda a noite a trabalhar.
Compreendo
que os sinais exteriores de riqueza possam ser ofensivos para quem
passa dificuldades. Percebo mesmo. É como pagar a Segurança Social
quando ainda nem recebi os valores que até já declarei e ver o
ex-primeiro-ministro, que vivia num apartamento de luxo em Paris.
Mas
podemos (no plural, porque também o faço) evitar as conclusões
precipitadas. Como a senhora a quem chamei fútil e rica, porque não
trabalhava e passava as tardes no ginásio. Vim, depois, a saber que
cuidava a tempo inteiro do filho deficiente e tirava umas horas para
aguentar as outras todas.
o que os desconhecidos acham do que desconhecem só serve para agradecermos não os conhecermos 😉
Sem dúvida. Não mudava uma vírgula.
Pois é verdade… somos demasiado rápidos a apontar o dedo. O mundo não é tão linear como pode parecer.
Pois é verdade… somos demasiado rápidos a apontar o dedo. O mundo não é tão linear como pode parecer.
Abençoado post 🙂
Beijinhos
Gostava de recomendar este ebook a todos os que gostam de leitura.
http://www.amazon.com/enigma-Laura-Portuguese-Isabel-Pereira-ebook/dp/B00U2Z5ZZ8/ref=sr_1_1?s=books&ie=UTF8&qid=1426615586&sr=1-1
Tanta gente que devia ler isto.
Tendemos a criticar severamente as pessoas que têm uma vida que não seja miserável.
Sabemos lá nós o que as pessoas fazem quando não estão a expor a vida aos olhos de terceiros.
E sim, é normal que não queiramos expor os momentos infelizes pelos quais passamos. É normal e faz parte da nossa raça. É bom para a nossa autoestima sermos assim.
Deixo-te, a propósito disto do trabalhar em casa, um texto que tenho no meu e'ventar:
«Trabalhar sem ir para o trabalho»
Tento nunca me esquecer que: cada vez que aponto um dedo a alguem tenho 4 apontados para mim!
É bem verdade Catarina. É um exercício que faço diariamente, esse, o de não julgar as pessoas logo à partida.
Como freelancer, e viajante ou emigrante em part-time…'sofro' exactamente do mesmo mal…but who cares? Há os que criticam e há os que fazem..
http://amniotico.blogspot.com/