Recebi o meu primeiro
telemóvel no meu primeiro emprego “a sério”. Antes disso, vendi
enciclopédias porta a porta e gastei o pouco que recebi (a muito custo e
depois de centenas de telefonemas) numa prenda para a minha mãe. Aos
18 anos, quando comecei a vender casas, nesses gloriosos anos 90, em
que ter crédito à habitação era tão fácil como ter hoje um telemóvel, o
meu patrão emprestou-me um Ericsson da rede Telecel com uma única linha
no visor.
Não querendo parecer saudosista, até porque sou uma
jovem, recordo-me de pensar que maravilhoso serviço seria esse o do SMS.
Usei a minha última comissão para comprar um tijolo, publicitado pelo
Mimo, com uma antena que tínhamos de levantar para apanhar rede.
Estar
permanentemente contactável tornou-se um hábito, mas a minha
dependência do telemóvel chegou com as mensagens escritas, essa
conjugação perfeita entre a rapidez e as cartas. E assim foi
durante muitos anos: um telemóvel normal, daqueles que só fazem e
atendem chamadas, que mandam e recebem mensagens escritas e com
tarifários tudo incluído, para não existirem grandes surpresas. Existem,
felizmente, preços bastante baixos nas telecomunicações. Como em quase
tudo é preciso paciência, procura e nada de assinar contratos de
fidelização sem ter a certeza de que encontrámos o melhor preço.
Há
dois anos ofereceram-me um iPhone. Torci o nariz. Não queria ser uma
daquelas pessoas que passam os dias a fazer festinhas a um écran, em
gestos estranhos e permanente contacto.
Além disso, receber um
iPhone como prenda é tão assustador quanto receber um carro topo de
gama. Não gastamos para ter o brinquedo, mas teremos que garantir a sua
manutenção, seja nos dados que acabam antes do mês, seja nos infortúnios
do dia a dia.
Eu não tenho dinheiro para substituir um écran
partido, que custa mais do que um telemóvel normal, daqueles que só
fazem e atendem chamadas, que mandam e recebem mensagens escritas.
O
iPhone transformou-se, para além de uma companhia permanente, tipo som
da televisão sempre alto em casa dos meus avós, num instrumento de
trabalho. Rapidamente, ter internet nas mãos durante 24 horas torna-se
tão normal como fazer e atender chamadas, mandar e receber mensagens
escritas. E as pessoas passaram a tomar como certo que, do outro
lado, há sempre um telemóvel com internet e a fazer desse meio a única
forma de contacto.
Isto não é uma ode aos telemóveis básicos,
embora consiga reconhecer várias vantagens em termos de poupança e de
qualidade de vida. Isto é apenas um desabafo de alguém que andou a
poupar 70 euros para arranjar o iPhone e que agora está há quatro horas
sem ele e com uma sensação de isolamento completamente injustificada.
Isto é pior que uma má relação: só defeitos e não vejo a hora de o ter
de volta.
Não podemos viver com eles nem sem eles! heheh Há que saber aproveitar a liberdade de um dia (algumas horas)sem internet!
Completamente dependente do meu!
been there. didn't like it.