depois da crónica, recebi este e-mail que fui autorizada a partilhar. obrigada Joana.
Quando me deram alta depois do AVC, um amigo foi buscar-me para almoçar. E comigo ainda muito debilitada, disse-me: “pensa nas coisas boas que o AVC te trouxe, pelo menos uma coisa boa vais conseguir encontrar”. Na altura achei ‘este gajo está parvo! Achas que esta merda trouxe alguma coisa boa, mas tás a gozar comigo? Estou n uma cadeira de rodas, não faço nada sozinha, tiraram-me o tapete debaixo dos pés aos 27 anos e não sei se alguma vez mais vou poder ter uma vida sequer minimamente autonoma, achas mesmo que há alguma coisa boa nisto? Foi a minha reacção natural, porque estava muito em baixo, só conseguia ver tudo mal. Hoje, passaram quatro anos e quando olho para trás, consigo lembrar-me de histórias divertidas, de bons momentos e de muitas coisas boas no meio de tudo o que me aconteceu: descobri que tinha muito mais pessoas que realmente gostavam e se preocupavam comigo, conheci pessoas incríveis em fases tão más ou piores do que a minha e que ainda assim tinham uma força incrível para lutar e recuperar o seu corpo, os seus movimentos, histórias de vida fantásticas. E tantos, tantos momentos, que me aqueciam o coração no meio de dias em que só me apetecia chorar o dia inteiro, como a hora de jantar e últimas visitas, que eram sempre o melhor momento do dia, o meu ex-namorado não faltou um dia de visita e o Natal era quando ele chegava para me ver, o jantar em que ele e os meus pais me faziam companhia no refeitório do hospital. Toda e qualquer minúscula recuperação nas sessões de fisioterapia, que ninguém ia perceber, mas que eu tinha conseguido e que a minha fisioterapeuta fazia questão de festejar. E, especialmente, as memórias de episódios que têm imensa graça (embora só depois o consigamos ver, na maior parte das vezes).
O que quero dizer é que, da pior forma, aprendi que há sempre “um melhor momento do dia”, mesmo quando estás presa a uma cama de uma unidade de cuidados intensivos, sem te conseguires mexer, como um dos dias em que, nessas condições, um dos senhores mais velhos que também estava na mesma enfermaria disse que lhe apetecia mesmo era uns jaquinzinhos fritos com arroz de feijão e que eu, do outro lado da enfermaria, começo a discutir com ele que ‘bom,bom era umas pataniscas de bacalhau da minha avó com arroz de tomate’. Foi um grande momento que os enfermeiros ainda falam..como é que naquela situação, eu e um senhor que eu não conhecia de lado nenhum tivemos uma conversa sobre comida, aos gritos de um lado para o outro, sem sequer nos vermos porque não nos mexíamos.
Fabuloso. E crucial divulgar para que ninguém tenha duvida que ainda que as nuvens teimem em tapar o sol, ele está efectivamente lá!*
Gosto de histórias destas, cheias de força e simplicidade 🙂
Uma história enternecedora, com um grande ensinamento. 🙂
Esta história é uma das muitas que presencio todos os dias. Por causa da minha profissão aprendi há muitos anos a dar valor ao que é importante e dar importância às coisas da vida que dizem respeito aos que mais amo. Depois, a capacidade de me deslumbrar com pequenas (ínfimas) coisas do dia a dia vem do peso que por vezes trago do hospital onde trabalho, onde o contacto com a doença e a morte me faz continuamente dar valor ao que tem de facto valor. O melhor dos meus dias é quase sempre o abraço que dou aos meus filhos quando chego a casa, o ronronar do meu gato quando lhe pego, o vento nos cabelos num dia mais duro, um ovo estrelado de manhã num dia de folga. A vida, por si só, já é um dom maior que merece ser festejado todos os dias. Aprendi a não me incomodar com pequenos nadas que embaraçam as outras pessoas que nem imaginam o que é a dureza das vidas que eu todos os dias acompanho.
Parabéns pela força e coragem! Só prova que os melhores momentos do dia ainda conseguem ser os mais simples 🙂 Parabéns também à Catarina Beato que lançou este desafio fantástico. Bem haja.
Por mais dificuldades que uma pessoa passe, por mais problemas que uma pessoa tenha há sempre qualquer coisa que nos alegra e nos faz ter forças para o vivermos o amanhã 🙂 Obrigada por partilhares esta história, muito bonita!
tá tudo dito!(sobre a pertinência de procurar o bom e fixar-se no bom mesmo em péssimas situações)
Ainda eu me queixo…há pessoas verdaeiramente incríveis.
Lindo. Que testemunho…
Conclusão: o essencial é tentarmos sempre ver o melhor em tudo, mesmo no pior. Com mentes e corações positivos a vida vive-se bem melhor definitivamente.
Acho magnífica e quase sobrenatural a força que o ser humano descobre para superar as pedras que encontra pelo caminho. Emociono-me sempre quando leio estes testemunhos de vidas profundamente marcadas e mesmo assim vividas com tanta dignidade e alegria.Penso sempre que talvez eu não tivesse tamanha força em situações semelhantes.Aqui fica o meu 1º contributo:
http://amaefilosofa.blogspot.pt/2013/11/o-melhor-dos-meus-dias-1.html
Bem hajam 😉