Choro de bailarina

São como as moedas. Uma vez cunhados. Para sempre cunhados. São os manos que não tenho.
Hoje quero dizer-lhe que gosto deles. Muito.
Apesar de serem do Benfica, a I. e o Z. são criaturas terrivelmente interessantes. Espécimes únicos nas respectivas faixas etárias.
A minha I.’zinha é poeta. Saí aos pais na beleza e no talento. Superou-os por ser uma adolescente culta, inteligente, linda e forte nesta sociedade de fotocópias sem identidade.
Roubei-lhe este poema há algum tempo.
Hoje deixo-o aqui. Porque mesmo quando julgamos ter perdido a virgindade de todas as pistas de dança desta vida, há sempre um baile assustador.

Como uma lágrima de pérola
Que corre moribunda num rosto malfadado
E se senta em agonia no canto do olho que me penetra

Como um oceano de lava
Que jura ser gentil
E embala os cristais lúgubres do meu amor

Como uma manhã vazia
Que chama o desespero
E louva a questão que me persegue

Como um beijo insane
Que me afunda
E rouba as palavras cegas da minha angústia

Alimentaste a esperança madura que não possuia
Concedeste-me um minuto dos teus lábios
Baralhaste a sonolência em que me embriagava
Destruiste a minha religião penosa e absurda
Agora ensina-me a dança para que o baile não se me apresente tão assustador.

3 comentários em “Choro de bailarina”

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