sim, ter três filhos é um desafio. sim, ter três filhos, trabalhar em casa e ter o marido fora, passa do desafio para aqueles momentos em que sentimos vontade de nos escondermos num cantinho e chorar. não é sempre, felizmente não é sempre, há dias que correm muito bem, há manhãs tranquilas e finais de dia seremos. e há os outros, os do caos. mas estou outra vez a falar sobre ser mãe é não era sobre isso que queria escrever.
digo a verdade: neste momento sou muito pouco para além de ser mãe. é isso que me define mesmo quando estou a tentar ser outra coisa porque estou a contar os minutos para a necessidade de voltar a ser mãe. “não ser mãe” ainda exige muita logística e tem um prazo de validade muito curto. consigo viver esses pedacinhos de tempo sem ansiedade mas são apenas isso: pedacinhos de tempo.
os meses depois de nascer um filho são outra gravidez. uma procura de novos equilíbrios.
sim, mas então e eu? e não vale dizer a palavra “mãe”, nem “filhos”. eu estou cansada e feliz. isso resume. não treino tanto quanto queria porque me falta tempo mas, na maior parte das vezes, porque me falta vontade. tenho saudades de passar uma manhã de sábado na cama com o meu marido, muito mais do que tenho saudades de dormir.
tenho sempre fome. eu sei que é fome emocional, compensação do cansaço, hormonas desreguladas, cortisol elevado, apenas parvoíce, mas tenho muita fome. e apesar de saber toda a teoria não pensem que tenho muita fome de brócolos. tento fazer as melhores escolhas – leio os rótulos e não como molhos nem fast food manhosa – mas aquilo que me apetece é pão com queijo ou cereais de chocolate [os melhores compro no Brio] com leite [de amêndoa porque não bebo do outro] e muitas papas de aveia quentinhas. não gosto de me sentir pesada, preferia ter menos cinco quilos, mas estou indisciplinada e compulsiva. não tenho pressa [e sinto-me perdoada por todos os meus abusos] mas também não tenho paciência [e fico zangada porque também não era preciso abusar assim tanto].
a minha memória está uma desgraça mas estou muito mais focada no trabalho. não leio como queria mas já consigo escrever.
tenho umas enormes olheiras, o cabelo oleoso porque as hormonas não perdoam, a barriga inchada e a roupa naquele limbo entre o “ainda não emagreci tudo mas já não estou grávida”.
acho que já posso voltar a falar em “filhos”. estou cansada e feliz. é isso resume tudo. olho para os meus filhos e penso que tenho muita sorte. haja saúde. aninho-me ao meu marido e pergunto-lhe num sussuro se vai gostar sempre de mim, que não é mais do que um pedido de paciência de mim para mim. estou cansada e muito feliz. haja saúde. e haja coragem e calma para ser apenas mãe enquanto for necessário. o resto volta.
sim, e eu? agora não é sobre a Maria Luiza
a foto é do Pau Storch, tirada num pequeno almoço do projecto Let’s Talk, by Alegro, depois de te ter comido os melhores bagels. acho que resume o que sinto.
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Sei perfeitamente o que é (porque passados quase 3 anos do segundo filho sinto o mesmo): “Tenho saudades de passar uma manhã de sábado na cama com o meu marido, muito mais do que tenho saudades de dormir.” Tento confortar-me com o pensamento de que vou ter saudades desta fase dos meus filhos e que quando voltar a poder passar uma manhã na cama com o meu marido, estaremos ainda mais fortalecidos enquanto pessoas e casal, por termos passado pelas saudades! 🙂
Como me identifico com este Post,a vontade de comer sempre algo doce,a parte em que fico triste cada vez que as calças antigas ainda não servem,a casa que nunca consegue estar do jeito que gostávamos,a frustração de não o conseguir ..e a alegria de cada vez que o pequeno sorri e a mais velha pede pela manhã os cinco minutos de abraços.umas vezes fustrada outras tantas cansada mas muito feliz
Ola Catarina…só tenho dois filhos,dois meninos,o mais velho com quase 6 anos e o pequenino com 11meses…estou em casa desempregada e vivo na Suíça…é assim exatamente como me sinto…conseguiu descrever a também minha realidade…sem que dois filhos nao são três mas sinto como se fosse,o meu mais velho tem um trastorno sensorial e literalmente põe-me os cabelos brancos…Adoro ler tudo que diz,porque e uma Mãe real,que nao se importa em mostrar que nao é perfeita e nao busca a perfeição,simplesmente quer ser feliz…Muitos Parabéns Catarina pela sinceridade,faz-me sentir menos culpada…