Hoje temos mais uma mãe super mulher. Nesta conversa com a Rita Guerra
— que vale a pena ler do início ao fim — tocamos num assunto crucial: o futuro incerto que aguarda as próximas gerações, que é a dos nossos filhos, um futuro que vai sofrer as consequências deste presente, em que abundam a desinformação e as fake news. Temos, por isso, de dotar os nossos filhos de espírito crítico, um dos princípios que quer incutir ao Lucas, hoje com 9 meses.
A dificuldade da amamentação, a felicidade da maternidade — quase sagrada, espiritual — , os essenciais que fazem falta e também aqueles que não fazem, foram outros tópicos que abordamos. Sobre o super poder de Rita Guerra, adianto já: resiliência — não fosse ela jornalista.
Qual foi para si o maior desafio do pós-parto?
Estava longe de saber coisas fundamentais das quais nunca tinha ouvido falar, tais como a existência de produtos de silicone que ajudam a iniciar a amamentação quando os bebés não conseguem e a importância de dar de mamar de duas em duas horas na primeira semana, para estabelecer um sistema de produção de leite. Quando me apercebi de que tinha cometido alguns erros neste capítulo, procurei todas as soluções que desencantei online sem nunca conseguir remediar a situação, o que me provocou um desgosto tremendo. O sentimento de inadequação é, provavelmente, um dos mais frequentes nesta fase. No meu caso, foi ainda mais difícil porque ao terceiro dia pós-parto já estava a trabalhar novamente e nunca pude parar. Como vivo fora de Portugal, não tive apoio físico de família e amigos e isso foi bastante difícil, em especial porque é uma fase de emoções à flor da pele e cansaço extremo.
Há também qualquer coisa de sagrado na confiança de um filho que adormece nos nossos braços, ao lado na cama, em cima do colo.”
E o momento mais bonito da maternidade?
A primeira vez que consegui dar de mamar e sentir o consolo daquele corpo tão pequeno e frágil, tão sôfrego e cheio de instinto, que me fez admirar de forma quase espiritual a perfeição da natureza. Há também qualquer coisa de sagrado na confiança de um filho que adormece nos nossos braços, ao lado na cama, em cima do colo. E continuo a murmurar palavras de gratidão quando ele sorri para mim, da forma mais inocente e com a alegria mais pura que alguma vez terá na vida. É uma resposta visceral ao amor; o sorriso gera sorriso, o beijo gera candura, o abraço protector gera segurança. O primeiro ano de vida é fundamental para estabelecer o tipo de criança e de pessoa que um bebé vai ser, porque é neste período que as conexões são estabelecidas no cérebro e se criam as bases da sua personalidade. Saber disso e estar sempre presente no momento é uma dádiva que a maternidade me deu. O vislumbre do futuro, ironicamente, foi a chave para abrir os olhos e passar a estar mais presente em cada segundo.
Quais foram os três essenciais que fizeram toda a diferença para o recém-nascido? E aqueles que afinal não serviram para nada?
Entre as coisas que mais usei logo no início e foram uma salvação autêntica conto uma alcofa Mountain Buggy que comprei para poder transportar o bebé de uma divisão para a outra dentro de casa naqueles tempos em que dormia o tempo todo. Mesmo quando começou a ter sestas mais bem definidas continuou a fazê-las na alcofa, que só largou quando começou a gostar de fazer piscinas para adormecer e ficou comprido demais.
Outro produto que ajudou bastante foi um marsupial de pano da KeaBabies, que se enrola da cintura para os ombros e imita o conforto e calor do ventre para transportar um recém-nascido, além de lhe permitir ouvir o bater do coração (um som familiar que acalmava o meu bebé).
Um terceiro produto que foi e continua a ser muito útil é a cadeira de embalar da Fisher-Price, que tem vários modos de utilização, vibrações (a pilhas) e uma barra com brinquedos.
No sentido inverso, comprei uns biberões caríssimos da Comotomo que emulam o seio materno e, embora tenham mesmo muita qualidade, o bebé não lhes acha muita piada. Também comprei um tapete de actividades com piano onde ele nunca gostou de brincar, ao contrário de uma versão mais simples e mais barata que me foi oferecida.
Ele não só perde os sapatos como é capaz de fazer desaparecer meias sem dar rastos, não gosta de ter óculos de sol na cara e fatos engraçados só para as fotos, porque não são nada práticos para mudar fraldas a toda a hora.”
E quanto aos sapatinhos, mini óculos de sol, coletes e outros acessórios catitas, não me voltaria a meter nisso. Ele não só perde os sapatos como é capaz de fazer desaparecer meias sem dar rastos, não gosta de ter óculos de sol na cara e fatos engraçados só para as fotos, porque não são nada práticos para mudar fraldas a toda a hora.
Qual é o principio mais importante que quer incutir ao seu filho?
Integridade. É essencial para resistir à tentação de nivelar por baixo, de ir com os outros mesmo quando se sabe que está errado, de cometer desonestidades quando ninguém está a ver. O sentido crítico é outro princípio que vou tentar transmitir-lhe, porque será mais importante do que nunca para um menino que vai crescer na era da desinformação, das fake news e dos populismos. Questionar e investigar – são bons conselhos para toda a gente (menos para os histéricos que juram que os lagartos tomaram conta do mundo e as vacinas contêm medula de virgens sacrificadas ao luar).
Qual é o seu super poder?
Resiliência perante a adversidade. Saber que é sempre possível que o fundo do poço seja mais em baixo, mas que as tempestades são temporárias e haverá maneira de melhorar a situação. O erro é escolher uma solução permanente para problemas temporários. Ser mãe deu-me uma perspectiva diferente sobre tudo isto, e uma fonte inesgotável de claridade quando tudo parece turvo. Por ele, tudo vale a pena – e, uma vez na vida, é bom ter certezas absolutas.