esperem alguma coisa

não esperem aprender alguma coisa com este post

há um livro que se chama “ostra feliz não faz pérolas”. é simples: pessoas felizes não criam. não esperem aprender alguma coisa com este post.esta conversa é antiga, vem daquela mesa encostada à janela na Rua Oliveira ao Carmo onde chorávamos desgostos de amor e angústias várias. parece que foi há uma eternidade, e foi mesmo. tenho saudades tuas, digo-o muitas vezes, não o resolvo tantas vezes quantas gostaria. continuas a corrigir-me as gralhas e eu continuo a sentir-me estagiária. tenho ido ao boxe todas as manhãs, saio de casa e ainda não são 8 horas, volto a correr. é como diz a música: abanar e gritar. eu acrescento: para não adormecer. culpo o sono pelas palavras que não escrevo mas a verdade é outra: “ostra feliz não faz pérolas”. não há nada de literário nisto mas sou feliz a separar a roupa branca da roupa escura, até a dobrar cuecas, sou feliz a lavar a louça, adiando a compra de uma máquina nova, sou feliz a mudar fraldas, e no chamamento “mãaaaaaaaae, já está!”, sou feliz mesmo quando todas as manhãs arrumo a comida que o Pedro deixou nas panelas em cima do fogão, mesmo depois de lhe ter pedido mil vezes para não se esquecer. não há nada de literário nas rotinas de uma vida normal. o cabelo está despenteado e resolveu ficar oleoso depois da miúda nascer. as pestanas [aquelas que não são minhas mas que já fazem parte de mim] precisam de manutenção mas ainda não consegui lá ir. sinto que visto todos os dias a mesma roupa e visto mesmo porque comprei cinco t-shirts iguais e assim não perco tempo a escolher. também prometi que só comprava roupa nova quando baixasse para os 59 kgs [e continuamos a três quilos de distância]. esta semana foi assim, um dia o Afonso acordou às 5h30, no dia seguinte a Maria Luiza acordou às 6h e agora tenho o Gonçalo doente [e a quem fui confirmar que não tinha febre várias vezes durante a noite].  gostava de vos dar várias dicas infalíveis para serem mães a tempo inteiro e fazerem tudo o resto mas não tenho. vou tentando, vou organizando prioridades e fazendo várias coisas ao mesmo tempo. “não faço pérolas” e tenho que “abanar e gritar” para não adormecer. e é bom.

 

 

[a quem me pergunta pelo pai da criança na colaboração doméstica 🙂 ele está com um trabalho grande em mãos mas quando está faz tudo. pronto, quase tudo, nunca arruma a comida no frigorífico.]

 

8 comentários em “não esperem aprender alguma coisa com este post”

  1. Olá Catarina,

    eu gostei muito deste texto, porque revi-me nele. Eu ando sempre mil à hora, o meu dia começa às 7h30 e só termina à 01h isto quando não há noites em claro por causa de febre (agora é o tempo das constipações), dores de barriga, sonhos com aranhas e outros bichos. Alem de ser mãe de uma princesa de 4 anos, trabalho, e só saio às 19h, chego a casa às 20h, fazer o jantar e ao mesmo tempo dar banho à miúda. Muitas e muitas vezes me questiono se tenho capacidade para ter mais um filho, eu acho que esta dívida a generalidade das mães têm, mas eu acho que sou mais imperfeita que as outras…de certo que não sou, são os meus receios de mãe a falar mais alto. E o pai ajuda? pois, ele só chega às 21h, ja o jantar está na mesa e o banho da miúda dado. Ajuda quando está em casa, sim, à sua maneira, porque nunca achamos que eles fazem tão bem como nós. Ainda ontem fui a uma reunião ´que durou até à meia-noite e quando cheguei a loiça estava na máquina de lavar, mas não toda…alguma estava no lava loiça esquecida. Em suma, eu me martirizo por andar mil à hora, a casa nao estar um brinco, penso que sou não sei gerir o tempo, mas ao ler os testemunhos de outras mães, concluo que é tudo igual. Um abraço.

  2. É um desabafo de muitas nós. A mim custa-me estar tantas horas a fazer coisas pouco interessantes, como as que descreveste. E passar tantas horas no trabalho. E a passar horas de almoço a fazer compras ou tratar de assuntos em vez de ir ao ginásio. Mas lá vamos andando e no final até tenho um sorriso nos lábios (mesmo que por baixo haja um imenso cansaço)

  3. Tive um professor que uma vez em aula nos disse a probabilidade de um julgamento justo é tanto maior quanto o nível de infelicidade do juíz que o julga. Todos estranhamos. Ele explicou. É que quando estamos felizes estamos perdidos na nossa felicidade, não queremos “perder” tempo com coisas que interfiram com a nossa felicidade, com detalhes, queremos estar ali, sorridentes. Acima de tudo não queremos arriscar perder essa felicidade. Um juíz carrancudo vai estar atento aos detalhes, vai estar atento ao julgamento. É o que fazemos com a nossa vida, quando os dias são menos felizes ocupamos a cabeça para não pensar no que há de menos bom. No que nos deixa menos felizes.
    Fez-me sentido.

    http://embuscadafelicidade.blogs.sapo.pt/

  4. Olá Catarina!
    Gostava de lhe pedir que deixe de usar a designação “mãe a tempo inteiro”, por oposição às mães que têm ou querem trabalhar. No fundo, todas as mães são (desejavelmente) mães nas 24h do dia, apesar de algumas acumularem outras ocupações…
    Um beijinho

  5. Que seja por um bom motivo (felicidade) esta ausência de “sal” no teu blog e redes sociais. Já sei que vão achar q é inveja ou azedume mas não, juro q não.. apenas saudades da escrita do passado. Agora, tudo se resume a Bebe, marido e comida.. enfim, haja felicidade! Continuarei a minha busca pela escrita desassossegada.

  6. Pingback: "saudades da minha escrita desassossegada" - dias de uma princesa

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