à leitora que me disse que tinha saudades da minha escrita desassossegada….
eu também tenho saudades dessa escrita. tenho saudades de escrever mais. tenho saudades de parar para escrever sobre tudo e sobre nada. às vezes – tantas vezes – vou escrever e depois esqueço-me [aliás esqueço-me de demasiadas coisas mas a memória fugiu com as minhas horas de sono].
este blog – em forma de diário – já me curou muitas angústias de amores frustados, não correspondidos e demasiado curtos. este blog – que é apenas um diário – já acalmou as minhas dúvidas existenciais, o emprego, a falta de tempo, o desemprego, o valor que tenho, não tenho, ou talvez tenha. este blog mimou-me quando fui mãe do Afonso num contexto que não esperava. e mimou-me em tantas outras vez que precisei. eu também tenho saudades da escrita desassossegada, daquele que nos sai dos dedos enquanto mal conseguimos respirar.
também me custa respirar quando tenho saudades do meu marido. e sinto um enorme desassossego quando ele regressa a casa. abraçar o meu marido do lado dele da cama, quase a cair para o chão mas limitando os movimentos para garantir que a miúda não acorda, é infinitas vezes mais desassossegante e saboroso do que qualquer amor que julguei que fosse e não era. a paixão que sinto por este homem com quem durmo é um desassossego. e eu devia escrever mais sobre isso. devia mesmo.
continuo a sofrer de angústias várias – e escrevo sobre isso, são mais logísticas do que existenciais. e algumas das minhas angústias actuais fazem parte da intimidade dos meus filhos, não são partilháveis. outras estão aqui a pedir para saírem pelos dedos mas depois esqueço-me. ou falta-me tempo. o tempo que nem me sobra para dormir as horas que tenho em falta e talvez trouxessem a memória de volta.
a vida de todos os dias é pouco literária. ter três filhos e ganhar dinheiro ocupa muito tempo. mas à leitora que me disse que tinha saudades da minha escrita desassossegada eu digo: obrigada. ainda há desassossego e faz-me tanta falta escrever.

Oh Catarina… eu sei que não deve ser fácil e não quis em momento nenhum acusar-te ou magoar-te. Mas como te acompanho deste sempre, no blog e afins, confesso que nos últimos tempos a vontade actualizar a leitura dos teus posts já não é tão inquietante como dantes. Porém também acredito que o camionista e a anti-lamechice ainda existe em ti e ainda me dará fantásticos textos a ler! ? Tudo de bom para os miúdos e miúdas!