Afonso,
Vou-te contar um segredo: eu não queria (muito) ter outro filho. O Gonçalo já tinha oito anos, já ficava com os avós e eu podia sair à noite ou trabalhar, sem sentimentos de culpa pela ausência. A memória, algures desaparecida depois da gravidez e do parto, já tinha voltado e até conseguia ler um livro inteiro em poucos dias. A casa estava pensada para a mim e para o teu irmão: pequena mas bem localizada, um quarto para cada um. Eu e o teu irmão tínhamos um amor construído, as arestas limadas e a rotinas acertadas. Era tudo fácil.
Eu não queria (muito) ter outro filho, mas o Gonçalo queria (mesmo) muito ter um irmão. E quando me apaixonei pelo teu pai e fiquei grávida, não houve qualquer dúvida. Tudo fazia sentido. Aliás, bastaria o sorriso do teu irmão, os planos que fazia, a forma como falava contigo quando estavas dentro da minha barriga (e como lhe respondias) para que tudo fizesse sentido.
Mas, há aqui um enorme “mas” e é esse o segredo maior: depois de todas as mudanças que não previa, fiquei cheia de dúvidas. E se não estivesse preparada para a mudança de vida que aí vinha? E se não te amasse como já amava o teu irmão há tantos anos? E se não te amasse? O meu primeiro filho mudou-me. Passei de menina mimada a mãe que mima.
Tive muitos medos, mas nem sequer me lembro quais eram. Aprendi a amar o teu irmão em cada dia que passava, em que cada noite mal dormida, em que palavra nova que dizia, em que cada correria para o hospital, em cada conversa, em cada silêncio. E agora, se não te amasse a ti? Carreguei essa angústia, escondida, durante 38 semanas.
Há dois anos, deixei o teu irmão a dormir profundamente e apanhei um táxi que me levasse, o mais depressa possível, ao hospital mais próximo. Deixei em casa uma prenda “tua” para que a entregassem ao Gonçalo quando acordasse e ficasse, assim, a saber que já era “o irmão mais velho”.
Foi muito bom fazer-te nascer. Muito rápido e muito intenso. Mas aquilo que guardo foi o instante em que te vi. E, como descrevem nos filmes de domingo à tarde, o tempo parou, o resto do mundo desapareceu, e gritei:
– Afinal amo-te, afinal amo-te.
Apaixonei-me, perdidamente.
Apaixonamos-nos, eu e o Gonçalo, que amo ainda porque, descobri, é o melhor irmão do mundo. E as nossas vida não tinham nem metade do sentido sem a confusão e o mimo que nos trouxeste.
nestas datas tenho sempre medo daquilo que fica por dizer. e gosto de voltar aos arquivos e reler aquilo que escrevi desde o dia em que nasceste. no dia em que fizeste três anos, com dois anos, no primeiro aniversário [em que contei o teu parto].
Parabéns!
Parabéns ao Afonso. Parabéns à mãe, que o dia também é dela, o dia em que descobriu que o coração era maior do que pensava. O dia em que encontrou mais um amor para a sua vida. Parabéns ao Gonçalo, que certamente também celebra com a maior das alegrias o nascimento do irmão que tanto desejava.
Espero que seja um dia muito bonito para todos.
http://mostraodentinho.blogspot.pt/
Estou lavada em lágrimas. Hoje o melhor do meu dia esquecendo o pior foi o aniversário do teu filho, foram todas as palavras que li a soluçar no meu sofá. Tão bom que é ler e ver esse vosso amor. Mesmo que já tenha lido e chorado. Vou emocionar-me sempre. Porque é assim quando se fala, se lê e se escreve de amor.
Obrigada por me fazeres chorar e esquecer a acidez da vida.
Parabéns pequeno A mais uma vez pela leveza e o sorriso que nos dás (a quem segue a tua mãe), não percas essa convicção nem esse desprendimento do que não interessa, és criança mas és gigante. Que continues com gigas e gigas de amor, saúde, sorrisos e internet.
Parabéns, mãe, mano, pai por esse miúdo cheio de pinta.
Sejam felizes
Um abraço do tamanho da nossa distância!
Carolina Melo
Mas que carta tão bonita…
Muitos parabéns aos dois e que texto lindo! 🙂
http://entreosmeusdias.blogspot.pt/
Estou com o coração apertado… Estou de 39 semanas e uns dias e ocorre-me tantas vezes os medos, os receios, as preocupações, passa-me tudo na cabeça e claro só coisas más, porque as boas são raras passam não é. A incerteza de quando vai realmente nascer, sabemos bem que até segunda que a dpp terá que nascer sozinha se não alguém vai fazer com que ela nasça mais rápido. Oh receios…
Ao ler a tua carta fico com o coração cheio de receios mas ao mesmo tempo aliviado porque sei que quando nascer o coração vai ficar enorme de amor 🙂
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Como me fizeste chorar agora. Que carta tão bonita.
Só te sigo a um par de meses mas estou apaixonada pela maneira como escreves (e pela Maria Luíza também).
Esta carta é deliciosa. Eu quero muito ter mais um filho e a minha princesa pede muito uma mano, mas o pai…ai o pai, esse é que é o grande problema. Diz que esta bem assim e que não conseguira gostar tanto de outro filho como da nossa Princesa (é claro que lhe enviei este post para ele ler).
Obrigada por partilhares connosco todos estes momentos <3
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