“escrever mais e para mais pessoas ou deixar de escrever?”

Quando criei o blog, em março de 2005, queria apenas um diário público. Parecendo
uma contradição, não é. É, antes, um desejo de que nos leiam a
intimidade. Não acredito em quem diz que tem um blog, mas não lhe
interessa se é lido. Se assim fosse tinha cadernos em casa, ou folhas de
word gravadas no desktop.

Há dez anos, não fazia ideia que um
blog poderia ser uma fonte de rendimento. Os blogs importantes eram de
pessoas intelectualmente importantes. E a blogosfera portuguesa era uma
espécie de Facebook misturada com Twitter. Ainda não falávamos de marcas
ou posts pagos.

Dez anos depois, a italiana Chiara Ferragni, 27
anos, ganha 8 milhões de dólares por anos com o blog The Blonde Salad,
que funciona com uma equipa de 16 pessoa. Tornou-se mesmo um case study na Universidade de Harvard.
Tenho a certeza absoluta de que Chiara Ferragni não aceita fazer posts
alusivos a marcas a troco de uma prendinha ou muito menos porque lhe
mandam um e-mail a pedir.

Em Portugal, dez anos depois do meu
primeiro post, sei que este espaço de escrita é também um meio de
comunicação. Continua a ser o meu diário, que pode continuar a ser lido,
mas o contexto da blogosfera mudou. Aquilo que não mudou é esta
ideia de que algumas profissões, quase sempre associadas a capacidades
criativas, não merecem ser pagas. Na verdade, à imagem da esmagadora
maioria dos salários em Portugal, nenhum trabalho merece ser pago,
devidamente pago.

As Chiara estão em Itália, em Espanha, nos
Estados Unidos, ganham dinheiro, profissionalizam os seus espaços de
comunicação e criam empregos.

Eu, que naturalmente, ou como me
dizem, por falta de educação direcionada para a economia de mercado,
tenho imenso dificuldade em pedir dinheiro seja pelo que for, vivo nesta
indecisão, entre a vontade de escrever mais e para mais pessoas ou
deixar de escrever, porque o tempo não dá para tudo e preciso de
trabalhar em alguma coisa que seja paga.

Dez anos depois sinto exatamente o mesmo que escrevi no meu primeiro post, aquele que devo mesmo ter sido a única pessoa a ler.