Quando o meu pai morreu sabia exatamente o que devia fazer, tinha recebido todas as instruções no dia antes de ele ser operado pela terceira e última vez. Ouvi cada frase com a cabeça baixa, contrariada, repetindo que seria o meu pai a tratar de tudo até eu ter filhos que tratassem de tudo por mim.
Existia um único crédito, aquele que o meu pai tinha pedido ao Banco de Portugal para comprar a casa onde vivemos a vida inteira, e que ficaria pago com a sua morte (é estranho isto das contas ficarem pagas com a morte daqueles que amamos). As poupanças estavam todas em certificados de aforro e contas da Caixa Geral de Depósitos.
Cresci assim e mantive-me assim, acreditando que o Estado é o único com capacidade para me guardar o dinheiro, mais capaz que eu própria, que rapidamente me esqueceria em que colchão, ou buraco o tinha escondido.
Era miúda e quando anunciei aos meus amigos que ia abrir a minha conta na Caixa olharam para mim de nariz torcido e avisaram:
– São horas nas filas, cheias de velhotes, para conseguires fazer seja o que for.
Assim foi e aplaudi quando apareceram as caixas automáticas, onde atualizava a caderneta rapidamente, até todos os velhotes aprenderem a fazer o mesmo. Mas durmo descansada. Porque isto de entregar o meu dinheiro a alguém exige muita confiança. Não gosto muito da ideia de alguém andar a fazer dinheiro com as minhas poupanças e o meu pai ensinou-me a confiar sempre nos mesmos.
Não defendo que o Estado seja o mais capaz de gerir, o mais capaz de dar lucro, o mais capaz de fazer melhor e inovar, mas o Estado é sempre o que rouba menos. É a única vantagem de serem muitas cabeças, muitas chefias, muita logística e muitas sentenças. Por isso, nisto de entregar o meu dinheiro a alguém gostava de continuar a poder contar com o Estado. Ou, então, ter um único colchão em casa.
Infelizmente o estado também rouba e muito aos portugueses!
vidademulheraos40.blogspot.com.
Pois… Isso de o Estado ser o que rouba menos infelizmente está longe de ser verdade. Neste momento, quem mais nos deveria proteger é quem mais nos engana. O caso da cobrança do IMI é só um pequeníssimo exemplo disso. Uma vergonha.