[a crónica desta semana foi em jeito de resumo. e para que conste: eu acredito em disciplina.]

Passei grande parte desta semana a defender o pediatra Carlos Gonzalez a propósito de uma entrevista, cujo título era: “Não acredito muito na disciplina”, exactamente, a única frase de que discordo. Eu acredito na disciplina, tendo por definição “o respeito pelas regras, pelas normas, pelos que são seus superiores, ou pelo conjunto dos regulamentos destinados a manter a boa ordem em qualquer assembleia ou corporação”.

A propósito desta mesma entrevista assumi que nunca bati, castiguei, ou gritei com os meus filhos. Cá em casa utilizo um tom de voz sério e colocado – aprendi com o meu pai -, conjugado com o olhar que herdei da minha querida mãe e que, segundo o meu filho mais velho, é mais do que suficiente.
Em relação ao que é feito e não é devido acredito na diferença entre castigo e consequência.
Um castigo é um acto punitivo, per si, mesmo que não envolva bater.

Uma consequência é enfrentar aquilo que se fez: se deitou tudo para o chão apanha – e pode ser a mãe, ou o pai a mostrar como se faz -, se teve más notas, estuda mais, se falou mal a alguém pede desculpa. A consequência está diferentemente ligada ao ato errado, envolve aprendizagem e não punição.
Mas, para que uma criança, ou mesmo um adulto, saiba o que está certo ou errado, e para que as coisas corram bem, é necessário existir um conjunto de regras claras, definidas e estáveis. Por isso, acredito na disciplina.

Somos uma geração de mães e pais com muitas dúvidas, muitas incertezas, muitos medos. Somos um alvo fácil para negócios em torno da parentalidade: queremos ler tudo sobre a melhor forma de cumprirmos o nosso papel, queremos comprar os brinquedos perfeitos, queremos aprender a educar os nossos filhos. Temos os conceitos muito baralhados, também porque as regras têm mudado ao longo dos tempos.

Talvez, como diz este texto brilhante, do mesmo autor que fez uma análise que detestei sobre o pediatra Carlos Gonzalez, deveríamos desistir da parentalidade enquanto prazer (a palavra overrated da nossa geração) e recuperar o dever.

Para mim, nesta missão, neste dever de criar, é necessário um conjunto de regras realistas, claras e constantes. Sou defensora daquela mítica frase, dita em surdina, “em casa conversamos”. Isto, também para os partidos. Disciplina não é o contrário de democracia. Há instituições, seja a família, seja um partido político, onde tudo correria melhor se as regras fossem respeitadas e os assuntos discutidos dentro de casa. Na verdade, acredito nisto da disciplina para quase tudo.

3 comentários em “[a crónica desta semana foi em jeito de resumo. e para que conste: eu acredito em disciplina.]”

  1. Boa tarde,

    Concordo, com o que tens dito e escrito a este respeito. Existe uma ânsia, em nós pais, estarmos à altura de todas as solicitações dos nossos filhos… e que hoje em dia, tomam elevadas proporções. Corrigir, repreender deve ser feito por cada um de nós e à nossa maneira consoante os filhos que temos. A sociedade tem regras e é neste sentido que devemos educar as nossas crias, a saber respeitá-las na devida altura! As teorias, são apenas e só isso mesmo… teorias! Cabe a nós e apenas a nós pais o bom senso e o equilíbrio de fazer o melhor para com os nossos filhos!

  2. Catarina, o que consideras uma consequência, eu chamo castigo. Também os meus filhos apanharam o que deliberadamente atiraram para o chão. Mas sempre pensei que estava a castiga-los. De facto era a consequência do seu acto o castigo recebido.
    Ainda não cheguei à parte do estudo. Mas quanto a pedir desculpa… Tenho 2 filhos e com ambos, mas em particular com 1, assumir o erro e pedir desculpa… Nem sempre sai facilmente. E se em casa há mais tempo para margem de manobra, fora dela… Recordo o episódio em que 1 dos meus filhos foi muito mal educado com um adulto. Chamei o a parte, expliquei e disse lhe que devia pedir desculpa. O resultado foi uma criança aos berros a gritar que não. E não pediu desculpa. Não podia deixar passar em branco. Não bati, mas castiguei. Íamos a uma cadeia de fast food e não teve direito ao brinquedo nem a um doce. Mas tu chamas a isto consequência ou castigo? Andamos a falar da mesma coisa e a dar nomes diferentes?!

  3. SN
    eu falava na diferença entre castigo e consequência na sequência da entrevista. Queria dizer que educar dessa forma não dava origem a pequenos selvagens 🙂

    Em casa não uso a palavra por hábito mas isto das consequências|castigos nem sempre são fáceis, nem resultam. Quando se tem dois filhos e se diz ao mais velho que vai ficar uma tarde inteira de sol a estudar… que fazemos ao mais novo?
    Eu, no caso de que fala, faria o mesmo,ou nem iria.

    Mas para mim não existem fórmulas certas ou erradas, cada família tem as suas regras.
    Eu apenas defendo que se deve evitar bater e que as regras devem ser claras e constantes. Mas se um adolescente bater na mãe, o que eu faria???

    Temos que acreditar em nós como mães e pais, ter consciência que nem sempre é fácil e ter a calma necessária para fazer o melhor por eles (e por nós).

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