Gosto de reler o que escrevi. Encontro gralhas mas encontro, principalmente, bocados de mim.
Há quatro anos a saída do meu emprego ganhava contornos de inevitabilidade. Depois do alívio seguiram-se meses muito duros. Sei que foram muito duros agora que estou a quatro anos de distância. Só agora percebo como me sentia perdida. Quando fiquei desempregada tive, ainda mais, saudades do jornalismo.
Quando há tempo podemos olhar para a vida com atenção. Observo o que tenho e o que não tenho. Quando deixo o G. na escola tenho saudades de estar atrasada para imaginar os caracteres-do-dia. Sinto falta da adrenalina nas viagens de trabalho. Pequenos campos de férias. Músicas italianas. Nouvelle Vague. A esposa do outro que geme docemente em francês. A buganvilia morreu com falta de ar e não tenho saudades da janela da pneumonia mesmo atrás de mim. Mas teho falta das vantagens de não ter tempo. Com tempo consigo contabilizar os sonhos que perdi, as derrotas e as desistências. Acordo as frustrações que gostam de ser embaladas por dias-sem-tempo. Se calhar é importante saber gerir o excesso de tempo.
Hoje, a quatro anos de distância, percebo que, aquilo que mais aprendi, foi a viver comigo. Com tempo para olhar para mim e para a minha vida. E ainda bem.
Viver connosco é o mais difícil. Às vezes. Bj