Quando era miúda dobrava as folhas dos catálogos de brinquedos e pensava “se tivesse dez contos o que é que eu queria”. Em adolescente fazia o mesmo com os catálogos de roupa, aqueles gigantes com centenas de páginas, e comprava, comprava e comprava. Agora imagino que tenho um milhão de euros.
O meu pai achava que os meus exercícios de consumismo impossível eram uma forma de masoquismo. O meu pai, que o único crédito que teve foi o da casa e sempre que podia amortizava mais um bocadinho porque “não compramos o que não temos dinheiro para comprar”. Zangava-se a sério quando me encontrava naqueles momentos de atarefado secretariado. “Escolhe uma coisa que possamos comprar e deixa-te disso.”
Eu, que tenho o meu pai como referência absoluta nessa coisa de gerir dinheiro, assim como, em muitas outras coisas, nunca lhe fiz a vontade. Só tenho o crédito da casa, porque em tempos bons foi possível. Hoje a Euribor ajuda, mas não concordo com ele: sonhar com aquilo que não podemos ter, que talvez nunca poderemos ter, só faz bem. E não falo só da paz no mundo, que todos desejamos, nem de qualquer outro pensamento altruísta. Falo mesmo da futilidade do consumismo puro.
Gosto de imaginar que ganho um milhão de euros: faço todas as contas. Mais ou menos metade vai ser para comprar uma enorme casa com jardim, mas se calhar escolho uma casa antiga e remodelo-a ao meu gosto. Costumo guardar todos os panfletos das imobiliárias mas prefiro exercícios de voyerismo na internet. Perco muito tempo a ver cozinhas e sei que frigorífico fica bem na minha casa nova. Assim como, gosto de construir o carro novo, mudar os acessórios e o motor, destruir e construir tudo outra vez. Depois imagino viagens. Trago todos os papéis que as agências de viagens deixam. Gosto de fazer simulações com os hotéis mais caros e os destinos mais estranhos. Também encho os carrinhos de compras das lojas de roupa on-line e tomo nota do total. E ainda falta tanto para gastar o meu milhão.
Olá Catarina.
Li o seu artigo e identifiquei-me na sua história.
Eu deixei de sonhar porque achava impossível atingir sonhos até há uns meses atrás.
Hoje estou a aprender a sonhar novamente porque encontrei um meio(ao alcance de quem quiser)que me está a dar a esperança de poder voltar a sonhar.
Não sei se chegarei a ter o meu milhão de euros, mas tenho a certeza que vou conseguir realizar alguns dos meus sonhos.
Parabéns pela sua escrita.
Acredito que vai também realizar todos os seus sonhos.
Abraço
Sonhar é viver!
Beijinhos!
Fátima Sousa
Fazes muito bem em sonhar!
Eu cá sonho em construir a minha própria casa de madeira para poder viver num futuro que se deseja próximo.
Já tenho os programas para a construir (entenda-se virtualmente desenhar) e enquanto os esboços vão aparecendo sonho com a possibilidade de comprar um terreno com vista para o mar e poder lá ser "plantada"
Estava aqui a ler o post em voz alta para as minhas filhas e diz a mais velha (13 anos) " a catarina que jogue o jogo dos sims e que faça um código para ter 50 mil simoleões, dinheiro dos sims, se fizeres o código 2 vezes duplica e assim podes fazer o que a tua imaginação levar, só não podes gastar em roupa pq é grátis 😀 mas podes construir uma casa, comprar mobilias, ir a festas….ir para a universidade, mas para isso tem que se ter um pack de expanção"…é bom ter 13 anos 😀
Tb me identifiquei com o post mas mais na fase de criança e adolescente agora sou de sonhar mas só na minha cabeça, já o meu pai dizia que nunca se deve fazer planos com o dinheiro que não temos pq assim nunca o vamos ter, ele que jogava o totoloto e depois o euromilhões sempre com a mesma chave anos a fio e morreu sem concretizar alguns sonhos.
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