[Numa casa de tabique os sismos não se sentem. Dissipam-se.]

paredes de tabique: obtidas pela pregagem de um fasquiado sobre tábuas colocadas ao alto, sendo o conjunto revestido em ambas as faces, com reboco de argamassa de cal.

Eu vivo numa casa de tabique. Os meus vizinhos de cima – plural e não faço ideia em que número – vivem comigo. Eu agradeço-lhes a companhia. Ouço-os de calçarem os sapatos e correr pelas escadas quando o relógio se aproxima demasiado das 8h45. Ouço-os tão próximos que é exactamente como se estivessem a entrar-me pela casa e a desejar-me bom-dia. Ouço-os à noite e já descobri que descem do sotão num único salto. Sei a que horas saem nas noites de quinta-feira e agradeço-lhes as gargalhas quando regressam. Ás vezes olho para o relógio – há uma semana que posso dizer relógio e não telemóvel porque ainda não o tirei desde o dia em que me ofereci uma prenda de Páscoa – e controlo a hora a que chegam porque à noite sou sempre mais mãe que adolescente. Acho – tenho quase a certeza – que quando procurei casa pedi um T2, no bairro mais bonito de Lisboa, numa rua onde ouvisse os carros. E pedi companhia porque à noite tenho medo. Pedi uma casa de tabique.

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