[um conto de Verão, terceira parte]

Ler o início do conto de Verão com a Mónica.
Que passou a bola ao Paulo.
Que me passou a bola a mim…

(…)

A conversou terminou quando Sara e Francisca ouviram o senho Almeida anunciar as melhores bolas de berlim da Manta Rota. Todos os anos Sara, Francisca e Joana brincavam com o senhor Almeida sugerindo que o pregão mudasse para as melhores bolos de berlim do mundo e arredores.

Levantaram-se da toalha de praia num único salto e correram na direcção do açúcar e do creme doce e amarelo atirando areia a todos os que estavam à sua volta. Quando o senhor Almeida pousou o cesto de vime e afastou o pano branco, Sara gritou:
– Joana, também queres?


Perante a ausência de resposta, as amigas olharam em direcção às toalhas e perceberam que a amiga já não estava. Joana aproveitara para fugir para que não a vissem chorar. Queria ter ido para casa mas sabia que os pais, ainda nas arrumações do primeiro dia, perceberiam os olhos vermelhos e o nariz a fungar e fariam muitas perguntas. Joana decidiu andar sem destino para digerir tudo o que sentia.

Gostaria de escrever que a Joana precisava de gerir a desilusão, os as falsas de expectativas de um eterno amor de verão mas todas estas palavras não cabem naquilo que uma adolescente pode sentir. Joana estava triste e tinha a cabeça às voltas. Ponto final. Joana queria o Paulinho que conhecia há anos, queria repetir tudo o que tinha sentido no verão passado. Pior que tudo, Joana tinha esperado um ano inteiro por este momento. Tinha negado o convite para ir ao cinema com o David do 12 A, mais velho que ela, cabelo loiro e estilo de surfista, porque queria o Paulinho. Tinha evitado as boleias de mota com o Luís, alto, moreno e proprietário de uma bela Vespa azul,  porque não seria fiel aos seus sentimentos. Tinha fingido numa ter recebido a SMS do António, colega de turma desde sempre, quase o seu melhor amigo, a dizer “gosto de ti mais do que imaginas” porque ela já gostava de alguém. E agora nada disto tinha valido a pena?

A tristeza de Joana começou a transformar-se em raiva. Tirou o telemóvel do bolsos dos calções de ganga curtos – aqueles, exactamente aqueles, que tinha escolhido para o caso de se cruzar com Paulinho – e mandou três mensagens escritas: uma para o David, outra para o Luís e a ultima para o António.
Era preciso preparar um exercício de protecção para as lágrimas que lhe apeteceriam chorar depois da conversa que ia ter com o Paulinho. Estava decidido, ia procurar o pescador e confrontá-lo com uma única pergunta que pusesse fim a todas as suas dúvidas.

Sabia onde o encontrar ao final da tarde. Sabia o café onde costumava ficar a conversar com os amigos depois de um dia no mar com o pai. Até sabia como estaria sentado e a posição do lábio esquerdo enquanto ria dos disparates que diziam. Voltou a Guardar o telemóvel no bolso, aproveitou a raiva e ansiedade e correu o mais depressa que conseguiu.

Ali estava o Paulinho, sentado com um pé debaixo do rabo e o sorriso que conhecia. Nada de calções de ganga muito curtos, nem galochas amarelas, nem camisa apertadinha. O cabelo estava mais curto e não conseguia perceber se tinha ou não pelos no peito mas calçava uns chinelos “normais” e uma camisa aos quadrados muito gasta com umas calças de ganga já rotas. Sara e Francisca estavam enganadas, tinha a certeza.

A chegada de Joana ao pátio do café fora tudo menos discreta e Paulinho virou o olhar para ela assim que a ouviu chegar ofegante. Sorriu-lhe. Joana, que ainda digeria o cansaço da corrida e a euforia de não ver nada do que as amigas lhe tinham dito, pensou que desmaiava. Paulinho levantou-se e dirigiu-se a Joana que via tudo a acontecer em câmara lenta enquanto ganhava coragem para dizer tudo o que tinha planeado.

– Olá Joana, estás bem?
Joana ia abrir a boca quando o telemóvel apitou estridentemente três vezes seguidas.

Espero que a minha produtora de caracteres preferida, que está de volto à blogoefera, trate da saúde ao Paulinho.

5 comentários em “[um conto de Verão, terceira parte]”

  1. Foi uma bela continuação. Só o início não bate totalmente com o fim da parte da farmácia de serviço. Elas estavam junto às barracas de artesanato a conversar e de repente já estão deitadas na toalha de praia?

    Ansiosa pelo seguimento da história. 🙂

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