saudades de tempo nosso

este post é sobre saudades. não posso dizer que fiquei mal habituada porque seria começar o pensamento da maneira errada. habituei-me bem, isso sim.

fui mãe solteira [ainda que nunca sozinha] durante 12 anos. quando olho para os anos em que vivemos só os três – o Gonçalo deixar de ser filho único, escolas novas, o Afonso recém nascido, as primeiras febres, as doenças, os fins de semana, toda a logística normal – tenho uma recordação de leveza e facilidade. nessa altura tinha saído de uma situação de desemprego que colou ao subsídio de maternidade. durante dois anos fui muito pouco para além de ser mãe. ganhei muito pouco e aprendi a gastar muito pouco. com a entrada do Afonso na escola surgiram outros projectos, lancei o livro Dieta das Princesas, e felizmente comecei a ganhar dinheiro como free-lancer.

já escrevi muitas vezes sobre esta dualidade de sensações: entre a maravilha da livre gestão de horários e a prisão de estarmos sempre a trabalhar, entre a liberdade e a angústia de parar ser igual a nada [monetariamente falando].

depois da Maria Luiza nascer, sendo o Pedro a usufruir da licença de parentalidade, foi fácil conjugar as coisas. três filhos exige alguma [muita, verdade] logística, têm idades com necessidades completamente diferentes, mas como os rapazes estão na escola consegui continuar a trabalhar. dava de mamar à Maria Luíza mas depois estava cá o pai.

a licença acabou, há cerca de um mês e meio, e as coisas mudaram. o trabalho do Pedro é exigente em termos de horários [e eu admiro-o também por aquilo que ele faz] e na maior parte do tempo tenho sido eu, os três filhos e [a questão está no “e”] o trabalho. eu tento conjugar tudo da melhor forma – naquela minha mania que consigo tudo – mas tem sido mais difícil do que imaginei. os miúdos são a prioridade e isso vou conseguindo fazer como queria mas o trabalho tem ficado para trás e isso deixa-me ligeiramente [ligeiramente muito] angustiada.

e falta-me tempo, principalmente falta-nos tempo. assim tempo sem objectivos, nem obrigações, nem a sensação que está um mundo de coisas por fazer. tenho saudades de tempo nosso. mas que continuemos a ter capacidade para transformar cinco minutos em silêncio e sossego em dois ou três dias de namoro.
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2 comentários em “saudades de tempo nosso”

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