Estive aqui, vai não vai, escrevo não escrevo, exponho ou não. Assumi o exercício terapêutico deste diário e por isso, aqui está a vulnerabilidade em forma de letras. É o diário desta quarentena mas podia ter acontecido em outro dia qualquer.
Na noite passada tentaram entrar na casa nova, que ainda é obra, durante a noite e partiram um vidro. Ficou comprovado que as janelas foram bem escolhidas e foi apenas a primeira camada de várias. Mas foi, compreendem? Foi a sensação da tentativa e da invasão.
Caramba, aquela casa é um projecto maravilhoso que me tem levado as poupanças (de dinheiro e de paciência). Aquela casa é o meu maior exercício de cedência e resiliência. Não há nada de valor ali (é que nada mesmo, a não ser que queiram o frigorífico, é o mais caro que tenho, nem oitocentos euros custou, está embutido e pesa). O mais valioso que está naquela casa é a minha vontade de ser feliz. E a caixinha onde guardo o medo.
É este o meu maior medo: ter medo.
Ontem por esta hora, quando vi os pedaços de vidros, tive vontade de fugir e fechar-me num buraco protegido. Eu sou uma medrosa mascarada de corajosa. Eu sou a medrosa que aprendeu a fingir que não tem medos. Sou mãe e as mães têm medo mas têm mais coragem porque são mães.
Ontem por esta hora quis ter coragem, fé, ou um comprimido que adormecesse os medos.
No diário desta quarentena vos digo que , se calhar, os astros estão mesmo doidos, e querem testar tudo aquilo que achei sarado e cuidado. Se calhar os astros querem abrir as caixinhas todas.
Ontem não houve diário. E eu estive aqui, vai não vai, escrevo não escrevo, exponho ou não. Mas talvez os astros queiram que eu grite ao mundo que tenho medo de ter medo.