A minha relação com a Eduarda Carvalho, 37 anos, nasceu de uma paixão partilhada. Conhecemo-nos na redacção do Diário Económico, quando éramos jornalistas. Tal como aconteceu comigo, o caminho mudou. Depois de 14 anos num mundo que tem tanto de maravilhoso como de desiquilibrado, com o fecho do Diário Económico TV, em 2016, tomou uma decisão: aproveitar para se dedicar ao filho e pensar bem naquilo que queria fazer.
Deste tempo de reflexão nasceu a Macaquinhos, uma marca de roupa para crianças dos 0 aos 5 anos (a partir dos 6 é por encomenda) maravilhosa, cheia de histórias, com roupas com cores (esqueçam o azul e rosa bebé), padrões, leves, divertidas, com conforto e de qualidade.
Querem saber mais? Tive o enorme prazer de desenhar uma colecção cápsula (e Maria Luiza foi modelo, como tão bem se vê na imagem, mas o Afonso ajudou!) para a Macaquinhos, que vai ser apresentada este fim de semana no Kids Market, nas cavalariças do Pestana Palace Hotel.
A marca, com presença numa loja online, é 100% portuguesa, feita à mão e com edições limitadas.
Conta-nos. Porque é que não voltaste para o jornalismo?
Aproveitei o momento para pensar naquilo que queria fazer. Era jornalista de marcas e publicidade, portanto sabia fazer contas e perceber que o jornalismo era uma área que não estava – e não está – na sua melhor forma. Sabia que não ia ter oportunidades fáceis e tinha tido um filho há pouco tempo. Decidi, então, parar e não aceitar a primeira coisa que surgisse. Tirei um tempo para pensar. Foi um momento pesado, sobretudo porque fiquei até ao fecho do Diário Económico TV. Então deixei um amor e foquei-me noutro: o meu filho. Pouco tempo depois, surgiu a Macaquinhos. Quis fazer uma coisa diferente, alegre e bem disposta. Criei a marca dentro dos parâmetros que eu exigia. Queria uma coisa a sério.
A vida era mais instável antes?
Era muito, como a de todos os jornalistas. O ritmo é intenso. Foi uma das razões que me fez ir embora. Podia entrar às seis da manhã e sair às dez. Mas não é fácil deixar esta área, porque quem trabalha nela gosta sempre muito. Tenho muitas saudades, tanto que escrevo crónicas quinzenalmente para o Jornal Económico.
Além da Macaquinhos, também tens outros trabalho…
Estou há um ano, desde abril de 2017, a trabalhar numa empresa como consultora de comunicação. A vida é mais calma e serena, mas mesmo assim com a Macaquinhos e a consultoria acabo por ter bastante volume de trabalho. Não tenho feitio para uma vida descansada.
Além de fundadora, qual é o teu papel na Macaquinhos?
Desenho as roupas, escolhos os tecidos… E é engraçado porque é como voltar à infância. A minha avó nunca foi costureira mas adorava costurar. Eu quando era miúda tinha umas ideias, pedia-lhe e ela fazia. Hoje continuo a imaginar as peças e tenho uma costureira que faz as roupas e com quem vou estando em consonância para ver o que e viável e não é.
Como é que geres isto tudo?
A marca é o meu tempo livre que não é tempo livre. Dedico-me a ela ao fim de semana, à noite… Se vejo uma coisa que ache gira para a colecção seguinte vou guardando. Tenho de ser bastante organizada. O meu marido diz que estou sempre a pensar nisso.
Há uns anos imaginavas que isto fosse possível?
Nunca imaginei. Alias, isto aconteceu de forma tão rápida que quando estava a lançar a primeira colecção pensei: ‘Meu deus, será que devo fazer isto?”. De repente já estava feito. Mas dá-me imenso prazer, por mais cansaço e trabalho que acumule. E fico muito satisfeita com cada sucesso. A satisfação é muito diferente quando é um projeto nosso. Vê-lo crescer e criado é muito gratificante.
Lembras-te do momento em que decidiste que ias mesmo apostar nisto?
Lembro-me de estar em casa a falar com o meu marido e de estar a comentar que gostava de tentar. Ele desafiou-me a seguir em frente. Ainda hoje quando tenho dúvidas é ele que me da força, porque isto também é um desafio diário. Quando criei a marca, não tinha noção do trabalho que dá. Não basta criar um site ou redes sociais. É preciso afirmá-la, fazê-la crescer.
Por onde é que se começa neste processo de mudança?
Pensar e definir aquilo que gostam. Muitos dos meus amigos já diziam que devia desenhar roupas. Outros que diziam que devia fazer decoração (foi por isso que surgiu nesta colecção um surgiu a Macaquinhos Home). É o reflexo que sempre gostei de fazer. E isso é o mais importante: olharmos para nós e pensarmos naquilo que verdadeiramente gostamos de fazer porque isso vamos fazer sempre bem.
Mas há sempre medo. Como é que gerimos esse sentimento?
Se olharmos para pessoas que fizeram coisas grandes no mundo, elas fizeram-nas quase sempre muito tarde. O medo vai estar sempre lá, mas vale a pena arriscar. Mesmo que eu não venha a ser uma grande marca de sucesso, já valeu a pena experimentar. Se tentarmos e não resultou paciência. Mais vale arrepender de ter tentado do que nunca ter feito. Óbvio que há sempre questões: isto implica investimento e quando pensamos que já há tanta coisa é normal que duvidemos e pensemos ‘porquê investir aqui?’.
És mais feliz agora?
É diferente. Estou mais realizada. Tenho muitas saudades do jornalismo, mas sei que não é uma vida fácil. Nisto de mudar de vida uma das coisas importantes é aprendermos a ser felizes com outras coisas. Quando deixei de ser jornalista achei que não ia sentir-me concretizada com mais nada, mas a verdade é que sou igualmente feliz. Todo o processo é uma aprendizagem, sobretudo quando se está num registo há muito tempo.
A Macaquinhos tem uma narrativa que se reflete nas roupas. Podes contar?
Todas as colecções têm uma história e são a continuação da anterior. A primeira, “A Descoberta”, foi assim:
O Zé tinha 1 ano e a Maria quase 3 e viviam muito felizes na selva. Só não gostavam muito do calor intenso e da humidade constante. Na selva o ar era sufocante e rapidamente os deixava muito moles e cansados depois de pouco brincar. Um dia o Zé e a Maria mudaram-se com a família para a cidade. E apesar de ser tudo muito diferente da selva todos gostaram da mudança. Aqui podiam brincar, correr e saltar sem se cansarem tão rápido. Mas havia uma outra diferença. Na selva o Zé e a Maria não usavam muita roupa porque estava sempre muito calor, apenas umas tangas e umas pinturas na cara. Quando se mudaram para a cidade perceberam que os outros macaquinhos usavam roupas bem giras e divertidas e começaram a querer usá-las também. O Zé e a Maria começaram a gostar tanto dessa novidade que passaram eles próprios a desenhar as roupas que queriam vestir e que depois pediam à avó para fazer.
Assim nasceu a Macaquinhos.
E as seguintes?
Na colecção de inverno descobriram o Natal, portanto chamou-se “O Tempo de Magia.” Agora na nova de primavera/verão, “Uma Aventura na Selva” conta o regresso às origens durante as férias grandes, onde que vão rever os amigos. Tem muitos tigres, muitos papagaios, vários animais da selva, e, obviamente, muitas cores. Levam na bagagem imensas coisas divertidas para vestir, como fatos de banho.
Que outras novidades tem a nova colecção?
Há várias novidades: a colecção praia, que inclui toalhas de praia com bolsa de acessórios de conjunto, fatos e calções de banho para crianças. Há ainda a primeira colecção Macaquinhos Home, que tem um conjunto de decoração para o quarto dos mais pequenos. Por último, as duas mini-coleções cápsula, onde convidámos duas mães a criar três peças a pensar nos filhos: a primeira és tu, com a colecção a ser apresentada no Kids Market, este sábado e domingo, 14 e 15. A segunda, que só vai ser apresentada mais à frente, contará com a colaboração da Vera Fernandes, da Rádio Comercial.
Para terminar: porquê Macaquinhos?
O nome surgiu porque é algo que carinhosamente chamamos ao nosso filho lá em casa e percebemos que muitos outros pais o fazem. Além disso, é um animal com que todas as crianças e pais simpatizam. A partir daí surgiu esta ideia da narrativa infantil, dos Macaquinhos Zé e Maria e a criação de uma espécie de capítulos por colecção.
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