Carolina Deslandes

carta para a Carolina

conheci a Carolina quando foi convidada da Não Faz Sentido na Sic Mulher. estávamos as duas grávidas. ela do primeiro filho e eu do terceiro. a Carolina tinha 24 anos, exactamente a idade com que fui mãe pela primeira vez.

na verdade não conheci a Carolina naquele dia. a Carolina fez-me companhia em muitas noites de solidão e lágrimas. a Carolina não sabe mas chorei muito a ouvir esta música em repeat como uma adolescente apesar de ter quase 40 anos.

quando conheci a Carolina pessoalmente falámos sobre isso de ser mãe. confessou-me que era o seu maior sonho. que estava muito apaixonada. que detestava que lhe dissessem que era uma miúda. eu, com quase 40 anos vi-a menina linda com todos os sonhos do mundo.

ontem quando vi este post da Carolina quis dar-lhe um abraço e pedir-lhe desculpa.

ser mãe é duro. aliás ser mãe pode ser mesmo muito duro. a Carolina tem dois bebés em casa. está exausta. de certeza. as mães ficam exaustas nem que seja pelo tão simples mas grandioso facto de terem sido mães, de terem posto outra vida neste mundo. de terem criado outro corpo com o seu corpo. uma gravidez esfrangalha o corpo e baralha a alma. estamos perante o amor para a vida toda e há tantos momentos em que só nos apetece chorar. que raio de contradição. estamos tão gratas e tão incapazes de agradecer. estamos tão felizes e tão cansadas.

uma gravidez esfrangalha o corpo e baralha a alma. olhamos ao espelho e não nos reconhecemos. e temos medo que o homem com que, por amor, fizemos este novo amor olhe para nós e também não nos reconheça. queremos ser o melhor do mundo no nosso mundo. e sentimos tantas vezes que não chegamos.

ser mulher é duro. aliás ser mulher pode ser mesmo muito duro. e ontem quando vi este post da Carolina quis dar-lhe um abraço e pedir-lhe desculpa. porque eu também saí da maternidade a desejar que a barriga já não fosse barriga, porque eu também fico zangada comigo quando estou exausta, como demais, e depois se fico gorda? porque eu também cedo tantas vezes à pressão daquilo que os outros vão dizer, daquilo que parece bem. quis pedir desculpa pelas vezes em que apago as minhas fotografias porque “estou feia”, “estou velha”, “estou cansada”.

porque é este desejo de perfeição irreal que nos pressiona umas às outras para sermos tudo quando só temos força para sermos mães – e às vezes nem isso.

 

gosto muito de ti Carolina Deslandes. gosto da mãe que és. da coragem que tens.

e obrigada pelo teu post. somos tão bonitas quando somos verdadeiras.

27 comentários em “carta para a Carolina”

  1. Paula Cristóvão

    Mais uma vez parabéns pelas palavras. E sim é tudo a mais pura das verdades. Achamos que temos de ser super mulheres e que as nossas fragilidade nos enfraquecem quando são elas que nos enobrecem ainda mais.2 são essas mesmas fragilidades que mostram que somos mulheres de carne e osso. Parabéns às duas pela coragem e por mostrarem que a nossa vontade de mudar e ser melhor é mais forte que tudo. Também eu luto contra o peso e as vezes não vejo a luz no fundo do Túnel. Mas hei de lá chegar.

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  3. Manuela Simões

    Gostei muito deste post e também me identifiquei com ele.Ser mãe é, realmente, um desafio. É a melhor coisa da vida, mas, por vezes, é deixarmo-nos de lado para cuidarmos dos nossos. O meu primeiro ano de maternidade foi muito difícil; foi deixar de ser eu; esquecer-me de mim e dar-me toda a um ser pequenino que me absorvia na totalidade.
    Já viver em sociedade é tramado; estar sujeito aos comentários mais despropositados que podem humilhar e magoar apenas por vaidade e desrespeito ao próximo.
    Adorei a foto da Carolina! É linda.
    Obrigada.

    Manuela Simões
    modanosapatinho.blogspot.pt

  4. Cristiana Morais

    Pior de tudo foi ver a senhora taróloga da sic a criticar uma mulher como a Carolina… em vez de nos apoiarmos umas às outras so gostamos de pisar as outras mulheres.. que vergonha !

  5. Fatima Pereira

    O comentário foi infeliz fruto duma auto estima que merece reflexão!!
    A natureza encarrega se de pôr tudo no seu lugar!!
    Força mães!!

  6. Maria Pereira

    O verdadeiro poder e beleza das mulheres está nisto. Na capacidade de percebermos o quão iguais somos e de não florearmos as durezas das vidas que vivemos e que carregamos no ventre <3 Lindo texto, Catarina. A Carolina só tem razões para se orgulhar deste corpo, que para além de ter gerado duas vidas, também é casa de uma mulher tão doce e tão verdadeira.

    Beijinhos para as duas!
    Maria

  7. Sofia Yglesias de Oliveira

    Lindo!Escrito na mais pura das perfeições! Eu passei por isto quando tive o meu primeiro filho…O meu corpo mudou ,aumentei de peso durante a gravidez e aumentei enquanto amamentava o meu filho…sentia-me pessima comigo mesmo,mas acho que eram as hormonas! Eu agora tinha uma preocupação ainda maior. ..o bem estar do meu mais que tudo,do meu filho….
    As hormonas estão ao rubro,e nos primeiros tempos custa,mas depois com o companheiro certo ao nosso lado,,tudo passa!
    Nunca tive vergonha do meu corpo a seguir à gravidez!Simplesmente sentia-me cansada e nao tinha muita paciência p me preocupar tanto comigo!
    Ao fim de 1ano,as coisas começaram a voltar ao normal,e cada mulher recupera como recupera e mais nada!
    Ser Mãe é Lindo!E é a coisa que me dá mais orgulho é ter dois filhos lindos!E voltava atrás e fazia rudo igual!Se calhar emgordava um bocadinnho menos na primeira gravidez 😊
    Adorei este texto!!!!

  8. Maria Isabel Henriques

    Gosto muito,muito de ler,ouvir,sentir as duas…Carolina e Catarina! Podia dizer tanto daquilo que sinto e penso quando as “encontro”… Obrigada por porem a nu tanto das vossas vidas.

  9. Quando tomei banho pela primeira vez em casa, depois da minha primeira cesariana, ia morrendo quando me vi ao espelho. Barriga enorme, um penso enorme a tapar a cicatriz, mamas do tamanho de duas bolas de andebol… Recordo essa imagem e as palavras duras de quem me perguntava com crueldade: “Continuas grávida?”
    As mulheres são cruéis umas com as outras, mas nem todas. Há algumas que fazem a diferença, que assumem os quilos a mais e que a maternidade não é o mar de rosas que queremos muito que seja. Amo os meus dois filhos, mas queria a minha barriga de volta. Vem aí o verão e não quero parecer uma parola que se enfiou à força num biquíni.

  10. Muito bonito este teu texto, Catarina!
    E mais bonito ainda o gesto, de apoio a uma grande mulher, como a Carolina. É bom ver que ainda existem mulheres, como tu, que dão o exemplo, devíamos ser todas assim!
    Este teu espacinho faz sentir que te conhecemos desde sempre, és uma pessoa linda.
    Muitos parabéns pelo que és e por essa família maravilhosa!
    Obrigada por escreveres com o coração, com a alma, a cru, com tudo o que a vida tem, de bom e de mau.

  11. Bem podemos pedir desculpas…nunca vi tamanha ânsia de terem os filhos e ficarem melhores do que estava em 15 dias…fotos a mostrar como estão óptimas passados 30 dias, 3 meses, e aos seis meses estão maravilhosas…isto é horrível, faz-nos mal e não é natural, não é suposto sairmos da maternidade como se não tivéssemos tido um filho.

    Já fui mãe, e não defendo o desleixo…mas por favor, vamos parar com esta violência . Tudo a seu tempo!

  12. Dona Custódia

    Que palavras tão bonitas, Catarina. Que a Carolina – e todas as Carolinas deste mundo – leiam as suas palavras e as sintam, tão doces como eu senti.

    Um beijo, Custódia.

  13. Ana de Castro e Abreu

    Essa senhora que se diz taróloga, deveria ter vergonha e olhar para a sua vidinha sem conteúdo.
    Parabéns Carolina.

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  17. Que bonito texto e como me revejo em tudo que é aqui falado 😍Obrigada é a unica coisa que me ocorre dizer às 2, Catarina e Carolina.

  18. Fá Sequeira

    Identifiquei me em cada palavra que escreveste Catarina.. Também fui mãe há quase 17 meses de 1 menino e há quase 17 anos de 2 rapazes (gémeos😉) e às vezes (muitas vezes..quase sempre) é tão duro ser mãe e muito pior quando o apoio do companheiro nos falta na lida da casa, nos cuidados diários do bebé, nas crises de ansiedade.. Mas é tão mas tão tão bom ser mãe e descobrirque apesar de nos sentirmos fracas somos na realidade guerreiras.. É assim que me sinto quando finalmente paro e respiro depois de deixar tudo pronto para que o “outro” não precise fazer nada! Parabéns a ambas, Catarina e Carolina 👏👏👑

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