queria um título melhor para este post mas não encontrei. nem sequer há uma forma fácil para falar deste assunto. é daquelas coisas que sabemos mas temos medo de falar. li este post da Marta e chorei. é verdade: ter filhos e manter uma relação de amor é um desafio.
já tinha dois filhos antes de ser mãe da Maria Luiza mas nunca tinha passado por esta fase acompanhada. disseram-me muitas vezes que era corajosa e forte por aguentar sozinha os dias e as noites de um recém nascido. como se adivinhasse sempre respondi: coragem é fazer isto com outra pessoa ao lado. quando estás sozinha ninguém assiste ao teu mau humor depois de noites e noites sem dormir mais de duas horas seguidas. quando estás sozinha ninguém te vê cair de cansaço quando a casa fica em silêncio, despenteada, a cheirar a leite, o corpo ainda mole e a pior roupa. quando estás sozinha ninguém vê que suspiras demasiado alto [e até dizes algumas asneiras] quando te levantas pela quinta vez em dez minutos porque o bebé voltou a acordar. quando estás sozinha ninguém assiste ao lado menos sedutor da maternidade. quando estás sozinha ninguém vê as tuas falhas, as tuas fragilidades.
quando a Maria Luiza nasceu não tive medo. tinha a certeza absoluta que correria tudo bem. fui-me mentalizando para isso ao longo da gravidez. e nos primeiros dias flutuamos. o verdadeiro cansaço vai chegando depois, com o sono que se vai acumulando, com a logística dos dias, a roupa suja, a casa por limpar, os almoços, os jantares, os banho de toda a gente, o trabalho e as contas por pagar. é nessa altura em que o melhor de nós mostra o pior de nós. é nessa altura que os desafios começam. o amor dos apaixonadas não é incondicional, não me lixem. o amor dos apaixonados é eterno enquanto dura e dá trabalho. o amor dos apaixonados é delicioso mas exige que nos cuidemos. não falo de roupa nova, cabelo arranjado e cheiro a perfume [porque eu, mesmo sem recém nascido em casa, uso calças de ganga, cabelo apanhado e cara lavada]. falo de conversas com tempo, de manhãs na cama, de passeios de mão dada.
li este post da Marta e chorei. porque tenho medo de te perder quando adormeço assim que os miúdos adormecem. porque tenho medo de te perder quando me vejo ao espelho e me sinto com 100 anos. porque tenho medo de te perder quando vejo as fotos das viagens de autocaravana, com tempo para tudo e coisa nenhuma. porque tenho medo de te perder quando acordo mal humorada e me sinto a mais insuportável das criaturas.
e volto a apaixonar-me quando me procuras com os pés enquanto dou de mamar a meio da noite. e volto a apaixonar-me quando dançamos o Frank Sinatra que a nossa filha adora, às vezes entre duas sessões sonoras de birras de sono. e volto a apaixonar-me porque me fazes sopa quando choramingo que ainda estou gorda. e volto a apaixonar-me quando damos a mão e tentamos conduzir o carrinho com apenas uma. e volto a apaixonar-me quando trocamos mensagens – eu no quarto a adormece-la, tu na cozinha a tratar do jantar dos rapazes. e volto a apaixonar-me porque a primeira coisa que fazes todas as manhãs é dar-me um beijo.
ter filhos e manter uma relação de amor é um desafio. e se estivermos consciente disso, sem falsos romantismo nem expectativas erradas, é mais fácil [mesmo que, em alguns dias, igualmente difícil].
foto: Marta Dreamaker
Só para dizer que também me fizeste chorar.
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Acabaste de descrever o que o casamento deve ser. É no fundo um jogo de equilíbrios em que, para além do amor, tem de haver vontade, compromisso, paciência. Porque quando deixas de ter recém-nascidos em casa, um dia acordas e tens pré-adolescentes, e nem sempre os dois concordam em tudo no que diz respeito à educação dos miúdos nessa fase, há discussões, acertos, conversas, momentos chatos à brava…dá trabalho (sempre). Mas vale a pena. 😉 A vantagem é que vais tendo mais tempo para namorar…é a lei da compensação. ♥
Parabéns por falar num assunto que ninguém fala!!!!
🙂
🙂
Deixaste-me de lágrimas nos olhos…
É isso… Um desafio… A vida é um desafio!
Beijinhos e continua apaixonada!
Adorei Catarina.
Todos os meus medos estão espelhados aquí…
Obrigado por os expores de uma forma tão simples.
Gosto muito da tua escrita descomplicada.
Texto maravilhoso Catarina. Em tudo verdade. Encontramos o amor nas pequenas coisas do dia a dia.
Catarina é tudo verdade, mas vejo sempre um peso do lado da mulher, uma culpa dela se as coisas não resistem.
Os homens também têm o seu papel nas relações falhadas após os filhos, porque não conseguem olhar mais além, ver que é uma fase, que as mulheres precisam de apoio.
E acho que amar, após o sentimento da paixão passar, é uma escolha.
Se as mães na fase inicial têm mais trabalho, é normal os maridos têm de perceber que é uma fase, que vai passar. Alguns decidem desistir.
Tenho vários amigos que se separaram quando os filhos tinha cerca de 6 meses, caramba, porque??? Foram eles que acabaram, não conseguiram perceber que é uma fase, é normal.
Anocas, concordo em absoluto. O esforço tem que ser dos dois lados. E nesta fase em que fisicamente nós somos mais solicitadas – pelo menos quem amamenta – o homem tem que ser presente e tolerante. O Pedro faz de dia o que faço de noite [em proporção].
Isso das separações com filhos pequenos é assustador… vou escrever sobre isso.
4:30, ela com 6 semanas, eu à espera que arrote, pego no telefone para que o cérebro ajude o corpo a não cair, tu (Catarina) presenteias-me com este texto. Aiiiii… OBRIGADA! É isto mesmo… vou ali cochilar…
Amei! Com muito menos piada, escrevi sobre isso hoje☺️ É um desafio, mas com a aitude certa, tudocorrera bem!
Lifeinpink@sapo.pt
Olá, apesar de partilhar de muito do que tu e a Marta dizem, acho que estão a colocar muita pressão sobre vocês. É uma fase, e já sabem que vai passar. Vocês são giras, recuperaram lindamente e pelo que mostram nos vossos blogs têm maridos que são uns verdadeiros companheiros (babadissimos com os bebés, e a quererem participar em tudo).
Eu só comecei a “voltar” para o meu marido quando regressei ao trabalho, porque começámos a almoçar juntos, e a aproveitar esse momento a 2 ao máximo. Ao final do dia era impossivel, e de noite eu estou sempre a morrer de cansaço.
Ter um bebé, seja o primeiro, o segundo ou o terceiro é brutal, sempre! sobretudo porque com a experiência já sabemos o que ganhamos, o que perdemos e que vai ser duro. Eu tenho 3, e sinto-o na pele.
Os pais também têm de estar á altura do desafio. Se desistem da familia que criaram porque a mãe do bebé, que também é deles, durante algum tempo (que para umas pode ser 1 mês para outras 1 ano) está mais focada em amamentar, e não tem capacidade para ser a amante de outros tempos, então também não me parece que seja grande coisa como marido.
Eu bem sei quantas vezes pensei em separar-me ao longo do primeiro ano. Principalmente por falta de ajuda.
Já não toco no assunto com ninguém, porque parece sempre que a culpa é minha por não ter “obrigado” mais o pai a ajudar, mas sinceramente havia dias em que a única coisa que queria era ter tudo feito e dormir duas horas seguidas; em vez de começar mais uma discussão sobre quem fez o quê.
(E sim, o peso de me separar depois de trazer uma criança ao mundo falou muito mais alto que o meu amor-próprio.)
Depois de se ter filhos,já nada é igual. Tem o lado bom e o lado mau como tudo, mas acho que com amor e dedicação é possível manter um casamento apaixonado. Quantas vezes discutimos por causa da nossa filha, mas também quantas vezes deixamos de estar “zangados” quando ela se abraça aos 2 ao mesmo tempo. O primeiro ano é realmente o mais desgastante.Só voltei a ser eu própria quando ela foi para a cresce com 1 ano e meio. Hoje em dia tem 7 anos e continuam a ser raras as noite que durmo seguidas. É desgastante…muito,mas tanto ele vê o meu lado desgastado como eu também vejo o dele e ainda assim conseguimos amar-nos. Faz parte,ninguém é perfeito e quando temos consciência dos defeitos do outro e conseguimos inclusive amar alguns deles é que percebemos o que é amar com todo o coração.
Parabéns Catarina. Excelente texto. Acho que temos todas esse medo mas aqui está incrivelmente descrito.
Querida Catarina, e eu chorei com as tuas palavras.
Não por me encontrar numa fase de filhos mas por pela primeira vez estar (e dado a minha historia com o meu pai e traumas), estar a “dar-me” em a 100% nesta fase de viver a dois. Com todas as falhas e imperfeições, mas muito muito amor e compromisso, e vontade de cuidar um do outro neste para sempre em que nos queremos tanto.
Obrigada por este texto maravilhoso, por esse vosso amor inspirador, e pela pequena Maria Luiza que veio trazer o cor de rosa à vossa família já linda. São Maravilhosos. Gosto-te muito. Assim, FELIZ. Beijo gigante.
PS. E como dizes ter coragem é enfrentar os desafios a dois 😉 enfrentar o(s) medo(s). sentir. (eles só passam assim). desmistificar-lhes a força, e o sentido. acreditar em nós mesmas, e que mesmos despenteadas, eu a cheirar a pó de e arrumações e tu a leite …que eles, querem lá saber…continuamos a ser nós. E isto não quer dizer que vamos cair em descuido. há dias assim. Depois vem um dia de yoga (para mim), crossfit para ti…roupa que gostamos, mãos dadas, pé a tocar na cama 😉 filhos, não filhos. Amor.
Aos nossos Homens, morenos de barba Catarina!! 😉
Este teu texto tocou-me muito.
Adorei o texto! Obrigada pela genuinidade, pela partilha e pela coragem sim 🙂
Pôr em risco a minha relação é um dos maiores medos que tenho quando penso em ter filhos.
Beijinhos
Estou em lágrimas e não posso culpar as hormonas …
Já comentei o post da Marta, agora o teu… afinal somos tão diferentes mas tão iguais em certas coisas da vida! Em certas alturas da nossa vida as vivências, medos e receios são tão semelhantes.Tao bom esta partilha de emoções! Beijinhos e muito amor
Como me identifico com o seu texto. Mãe de uma adolescente que acarreta consigo todos os problemas que uma adolescente deve trazer (nada fáceis de resolver), mãe de uma princesa que mais parece uma ditadora na idade dos porquês e mãe de um príncipe que no meio de tanto feminismo ainda anda perdido nos seus tenros sete meses, e onde ando eu e o meu casamento??? Fugiram completamente.
Um dos melhores posts de sempre. 🙂