[podíamos começar por não partilhar…]

Inevitável regressar aos acontecimentos da semana passada e ao vídeo violento entre adolescentes, que as redes sociais tornaram viral, com milhões de visualizações. Devíamos pensar que isto de lhes chamarmos “viral” não é apenas porque se espalha rapidamente como um vírus descontrolado, mas também porque é igualmente doentio e provoca sempre novas vítimas.

Filmar um ato violento e partilhá-lo é, na minha opinião, inconcebível. Querer rever, querer que os outros vejam, é de uma violência superior ao próprio acontecimento e ultrapassa-me. Mas existe uma razão para que os adolescentes o façam. Não legitima, muito menos desculpa, mas explica.

Há uma nova “profissão” (não serei capaz de escrever sem aspas): ser youtuber. Um youtuber publica os seus vídeos e ganha dinheiro associado ao número de visualizações e publicidade do canal que é subscrito.Existem youtubers que filmam os jogos em que se tornam especialistas, conselhos de automaquilhagem, soluções de moda, cozinha e dicas variadas. Mas existem também youtubers que mostram situações ridículas, absurdas, perigosas e violentas.

Muitas vezes os mesmos youtubers, que mostram as suas (inofensivas) jogadas, propoem-se a desafios, como comer fezes, para aumentar a sua popularidade. Porque existe um objetivo, esse momento de glória em que um vídeo é partilhado de forma infinita e tem um número recorde de visualizações.

Eu sonhei com um disco de ouro, mesmo não sabendo cantar, um óscar, mesmo não sabendo representar, subir a um palco e receber aplausos. Um vídeo viral é uma nova forma de estrelato, sem mérito e, muitas vezes, sem escrúpulos.

Não tendo nada contra ser youtuber, até porque tenho dois putos cá em casa que, para além de consumirem o fenómeno, gostavam de ter essa nova “profissão”, gostava que não alimentássemos essas tentativas de glória conseguidas a qualquer custo e ultrapassando todos os valores. Eu sou incapaz de ver um vídeo destes e totalmente contra que o partilhem. E acho que podemos começar por aí. não partilhar.

3 comentários em “[podíamos começar por não partilhar…]”

  1. Concordo em absoluto. Recuso-me a ver, embora esteja constantemente a ser estimulada para isso. É um abuso da minha liberdade, não quero ver, nem que seja inadvertidamente.

  2. Ainda bem que nem toda a gente pensa assim, porque caso contrário ninguém saberia o que aquele rapaz sofreu, nunca teria permitido ganhar a coragem que lhe faltou durante um ano para apresentar queixa na polícia da agressão de que foi vítima e provavelmente continuaria a ser vítima deste tipo de maus tratos.

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