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Adiei aquele dia dezenas de vezes. Usei todos os argumentos válidos e depois inventei outros tantos. Num dos últimos e-mails que escrevi a meio da noite, depois de acordar em pânico, com a exacta imagem que era agora a minha realidade, verbalizei que não conseguia ir, que não queria ir. A resposta chegou várias horas depois, com o distanciamento normal com que o pai do Guilherme escrevia sempre: Tem calma, isso é normal. Tudo preparado para o grande dia?
Que merda! Tem calma, isso é normal? Eu sei que as letras não têm tom, que gostamos de ler as cartas, os e-mails e as mensagens com a entoação que nos convém. Achamos sempre que adivinhamos a expressão com que cada frase foi escrita quando aquilo que lemos milhares de interpretações possíveis. Eu sabia como o pai do Guilherme tinha escrito Tem calma, isso é normal, mesmo sem dar qualquer entoação enquanto lia a resposta ao meu e-mail desesperado. Sabia que era apenas uma forma de passar à frente e fingir que eu não tinha dito nada. Mas, naquela manhã, depois de uma noite em branco, quando li as duas frases que respondiam a um e-mail com mais de dez mil caracteres – Tem calma, isso é normal – fez-me odiá-lo. Queria atenção, queria que ele me dissesse não venhas, eu regresso, eu encontro outra solução, eu estou aqui. Qualquer coisa que não envolvesse a palavra calma. Nada me enerva mais do que me pedirem calma.
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Fevereiro, São Paulo, Provo-te, quantas vezes posso morrer de amor?
Já li o livro!! Adorei! Parabéns!