Na verdade, maior desafio económico de quem chega a adulto sozinho é não colocar o ângulo económico do amor na conta do psicólogo.

Estou aqui às voltas para tentar um ângulo económico para falar de amor. Mas acredito que o maior desafio económico é não ter uma conta de psicólogo por causa do amor. Eu escrevi um livro sobre amor num exercício terapêutico, para prometer a mim mesma que nunca deixaria de acreditar no amor, tal como quando tinha 14 anos e acreditava que o para-sempre era mesmo para sempre.

Quando somos adolescentes, quando vivemos as nossas primeiras paixões, o ângulo económico do amor está nas contas do telefone. No meu tempo, sem qualquer saudosismo mas com saudade, aquilo que entregávamos aos TLP quando estávamos apaixonados era economicamente relevante, pelo menos no orçamento lá de casa era. Eu gostava de arrastar o telefone preto até conseguir fechar a porta da despensa. Ficava horas, as possíveis até o meu pai me dar um grito porque estava a exagerar. Ou porque, uns anos mais tarde, precisava de ligar o modem.

A desgraça maior aconteceu quando me apaixonei por um rapaz de Portalegre e fiquei de castigo telefónico durante vários meses. Mudei o meu investimento económico para selos.

O ângulo económico do amor muda quando nos tornamos economicamente independentes. Um salário permite fazer planos, a todos os níveis. Assim como a ausência de um ordenado nos mata a capacidade de sonhar. Marcamos o primeiro fim de semana, as primeiras férias. E depois compromissos mais sérios, dos económicos e dos outros: compra-se um carro, compra-se uma casa, têm-se filhos. Algures o ângulo económico do amor passa a incluir contas conjuntas e IRS com dois números de contribuinte.

Eu cheguei aos 37 anos sem contas conjuntas, com uma casa apenas no meu nome e um IRS com dois dependentes. Foi por isso que escrevi um livro sobre amor. Não porque viva mal com o meu estado civil de eterna-solteira, antes pelo contrário, não porque sinta falta de alguma coisa na rotina dos dias, não sinto. Mas porque perdemos capacidades, ganhamos medos. Se puserem uma criança a fazer escalada, ela sobe sem olhar para baixo. Um adulto questionará todos os procedimentos de segurança e terá sempre medo de cair.

Na verdade, o maior desafio económico de quem chega a adulto sozinho é não colocar o ângulo económico do amor na conta do psicólogo.

1 comentário em “Na verdade, maior desafio económico de quem chega a adulto sozinho é não colocar o ângulo económico do amor na conta do psicólogo.”

  1. muito certeira a conclusão. é difícil fazer tábua rasa das más experiências e desgostos amorosos para continuar a seguir em frente com a mesma confiança e capacidade de entrega como quando jovens mas, a única forma de amar é de prego a fundo e saltando de pés juntos sem reservas pelo que … há que tentar e nunca desistir (mesmo que seja com contas impossíveis de psicólogos 😉

Deixar um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *