uma vez por semana a minha avó telefona e chora que o mundo está perdido. diz-me que sempre que liga a televisão é a mesma angústia, que não dorme à noite porque “é só desgraças”. não me lembro quando deixei de ver os noticiários e passei a ignorar todas as catástrofes que vão acontecendo. tenho um medo irracional de ficar igual à minha avózinha, de ceder aos medos e ao pânico de tudo o que acontece neste mundo. tenho um medo irracional de desejar fechar-me em casa, com o dinheiro escondido debaixo do colchão, os meus filhos sempre por perto, os cantos dos móveis almofadados e a pedir com muita força que não caia nada do céu. não me lembro quando passei a viver esta vida um dia depois do outro, tentando flutuar num mundo paralelo em que não ignoramos as notícias mas tentamos não ceder à desgraça que vem com elas.
acho que quando temos a vida cheia de pessoas maravilhosas para amar(incluindo nós mesmos)e o sabemos, consciente ou inconscientemente as desgraças marcam mas não paralisam 🙂
já me perdi, e já me fechei em casa…depois apaixonei-me e dei por mim a ser capaz de novo de um simples andar de comboio para ir ver esse amor…voltei a viver sem o pânico das desgraças, e feliz 🙂 porque tenho a vida cheia 🙂
Cá em casa, os Avós também são um pouco pessimistas, mas quando vêem essas desgraças todas costumam dizer "ainda temos muita sorte com o nosso país". Acho que é essa a nossa bolha, achar que aqui no nosso cantinho (o país ou a aldeia) ainda estamos protegidos…
Aqui é mais a avós das pequenas, vêm muita televisão (canais generalistas) e é impossível não deprimir. Por isso prefiro que o canal cá de casa seja o Disney Júnior, não me importo nadinha 🙂