sobre a morte, sobre ser feliz *

sobre a morte. eu não acredito em nada para além da morte o que aumenta o vazio e a ausência de justificações que aliviem a dor de quem fica. acredito que, mesmo não sendo a morte a solução, há lutas demasiado duras, demasiado cansativas e questiono-me se o descanso será melhor que uma vida sem qualidade. mas, mesmo sendo mais sereno morrer, há quem fique vivo. e não sou sequer capaz de imaginar uma ínfima parte do sofrimento de uma mãe ou de um pai que perde um filho. eu perdi o meu pai, e era nova, mas é a ordem natural das coisas, ainda que numa data antecipada. mas os filhos não morrem antes dos pais. ponto final. não podem, não faz sentido. quando era mãe de um único filho e tinha pesadelos, acordava e traçava um plano: matar-me-ia. pensava na minha mãe, tinha dúvidas, mas tinha um plano. hoje tenho dois filhos: não tenho plano nenhum. a única coisa que posso fazer é agradecer todos os dias pela saúde que temos, porque não é preciso acreditar num deus para ser grata pela vida. a única coisa que posso fazer é ser feliz. todos os dias. é a única forma de respeitar quem não pode fazer o mesmo.

 

* post escrito a 6.6.2013, sentido hoje

3 comentários em “sobre a morte, sobre ser feliz *”

  1. Tenho alguma vergonha em dizê-lo, mas desde que tive o meu filho que mentalmente tracei o mesmo "plano". Como se fosse a única forma de sossegar a antecipação de tamanha angústia… felizmente na maior parte dos dias não se pensa nestas coisas, senão não andávamos para a frente. Vão sendo estas notícias que nos abalam até que, com tempo, tudo retoma a normalidade. Menos para estes pais.

  2. Não sou mãe…não sei se por consequências da vida (sejam económicas sejam de rumo da própria vida em si que só prevejo orientada lá pelos 30 anos) o vou ser apesar do meu instinto maternal.

    Mas tenho um irmão de 8 anos e sinto-me em parte "meia mãe". E de facto, os filhos não morrem antes dos pais…não podem…também não acredito na vida depois da morte…

    Acho que há que tentar sobreviver…não sei como, mas há que tentar…

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