E já sabem, se o Mundial não correr bem a culpa é da senhora Dolores.

Se esta é, supostamente, uma crónica sobre poupança, ou sobre como viver mais com menos, deixo-vos a mais valiosa das conclusões, aquela que vos permitirá poupar consultas de psicanálise, compridos para dormir, livros sobre a especialidade, até quantidade de comida exagerada para acalmarem, mas também angústias, dores de cabeça e traumas várias: a culpa é sempre da mãe.

A jornalista Sónia Morais Santos escreveu um livro fabuloso sobre este tema, chama-se exatamente: “A culpa (não) é sempre da mãe”. Mas eu sinto-me tentada, em vez de acabar com este sentimento punitivo judaico-cristão, assumi-lo de uma vez por todas.

Já aqui expressei as minhas dúvidas sobre a educação escolar dos meus filhos, mas sei que, corra bem ou corra mal, terei a minha quota de responsabilidade sobre os resultados dos miúdos.

Na semana passada, fui ao dentista com o mais novo, sou obviamente culpada pela cárie que já tem porque lhe permiti comer doces. Assim como fui a causadora das cáries tardias do mais velho porque lhe escondi os doces até tarde e quando ele descobriu vingou-se. Quais seriam os traumas profundos por nunca os deixar comer doces?

Tenho a certeza que a culpa da sede de poder do António Costa é de alguma coisa que, Freud explica, a mãe lhe deu a mais ou a menos ou mesmo na quantidade certa. Nem sei como dormem as mães daqueles que levaram bancos à falência ou as outras, as que os filhos se puseram a roubá-los daquela forma mais visível. Escrevo esta crónica no Algarve e pergunto-me onde falharam as mães dos que construíram tanto até ficar tudo ao abandono.

Eu já assumi a inevitabilidade da culpa. E teria poupado bastante se o tivesse feito há mais tempo, antes de poupar nas consultas de psicologia infantil porque não queria viver com o peso da falta de concentração do meu filho, até ser responsabilizada porque o miúdo era demasiado bem educado e um dia ia sofrer as consequências disso. Dê por onde der, isto vai dar ao mesmo. E já sabem, se o Mundial não correr bem a culpa é da senhora Dolores.

2 comentários em “E já sabem, se o Mundial não correr bem a culpa é da senhora Dolores.”

  1. Eu tento exorcizar a culpa de não estar mais com os meus filhos. Tenho uma ponta de invejite por não conseguir ser como a Catarina e como a Sónia que conseguem ser free lancers para estar mais com os filhos.
    Sei que não tem uma vida nada fácil mas luta pelo que acredita. Eu estou cheia de vontade de me tornar freelancer para poder ir buscar os meus filhos à escola, dar, banhos, estar com eles antes do jantar. Tenho a sorte de estar casada com o pais dos 3 e ele ter mais flexibilidade e os poder acompanhar. Mas eu sou a mãe e sinto a culpa e queria mesmo ser freelancer para estar mais com os meus filhos!
    Admiro muito as suas escolhas!
    Paula
    vidademulheraos40.blogspot.com.

  2. Eu não sinto essas culpas! Se saía 1/2h mais cedo e o ía buscar à escola para estarmos juntos ele refilava porque tinham vindo para o jardim brincar à pouco e queria andar nos triciclos e brincar com os amigos. E eu lá ía fazer um par de recados ou ficava a vê-lo brincar e pensava, que bom que está nesta escola fantástica e tem amigos e se diverte, a culpa é minha : )
    Sinto-me culpada por não conseguir ser melhor adulta e superar falhas na personalidade que fizeram com que lhe desse algumas palmadas a mais (nem todas) ou alguns castigos (nem todos), mas luto contra isso. Vivi meia vida de comportamentos que odeio e não respeito e não caio nesses, mas outros mamei-os e eles entranharam-se e às vezes descambo – NÃO tenho a culpa! Combato-o mas não vivo com culpas. Sou tão humana como o meu filho

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