Tenho lido muito sobre os portugueses que, cada vez mais, emigram. Numa das últimas reportagens sobre portugueses que viviam em Londres constatava-se que, quase todos, faziam trabalhos em nada relacionados com a sua área de formação e muitas vezes, coisas que, em Portugal considerariam “menores” e não fariam.
Quando tinha 17 anos fui vender enciclopédias porta a porta. Os meus pais não acharam muita piada mas apoiaram o meu primeiro emprego. Depois disso, sempre que procurei empregos em part-time, a única possibilidade que surgia, eram os call centers, lugares cheios de estudantes universitários e licenciados.
Os portugueses que foram à procura de mais oportunidades e de um mundo maior em Londres trabalham em lojas, restaurantes, cafés e outras funções, em horários compatíveis com estudos, castings e outros empregos.
Em Portugal, ter um emprego antes de terminar a licenciatura é visto como uma coisa estranha, feita apenas por absoluta necessidade. Com exceção dos call centers, não existem oportunidades pensadas para quem continua a estudar.
Mas as dificuldades não estão apenas do lado de quem oferece trabalho mas também de quem o procura. Esta capacidade de nos adaptarmos a qualquer emprego, de procurar trabalho sem preconceitos de formação, existe apenas quando saímos do país. Esta sensação de que qualquer emprego vale a pena em nome da tentativa de lutar por uma oportunidade.
Seria fácil dizer que os portugueses não gostam de trabalhar, facto que os emigrantes por esse mundo fora desmentiriam facilmente. Seria fácil dizer que os licenciados não querem empregos sem ser na sua área. Eu acho que o problema está na palavra “oportunidade”. Quem trabalha em Portugal nunca tem a sensação de que os esforços, um dia, significarão uma oportunidade. Quem trabalha em Portugal sabe que lavar casas de banho significa lavar casas de banho para sempre. Quem dá emprego não quer um estudante universitário para ajudar a servir às mesas à hora de almoço, quer alguém que queira ficar a servir às mesas, querem alguém que “não venha um dia a querer uma coisa melhor”.
É fácil fazer todos os esforços quando lutamos por um sonho, por uma oportunidade, por alguma coisa melhor. É tão difícil fazer trabalhos “menores” num país em que isso significa nunca sair de coisas pequenas.
Subscrevo na íntegra.
Um abraço
Identifiquei-me tanto, mas tanto com este texto. Eu sou mais uma (dos muitos) que se encontram nessas condições precárias. Estou em Portugal, mas não vejo uma oportunidade melhor no futuro e por isso mesmo também estou a ponderar seriamente em emigrar.
http://agirlsdream-blog.blogspot.pt/
Não poderia estar mais de acordo…
O problema é que, no nosso país, o facto de termos uma formação superior numa determinada área, inviabiliza ter outra profissão!!!
Eu sou das que trabalhava e estudava, das que depois de tirar a licenciatura tinha de trabalhar sem contrato ou a recibos verdes, das que acabou por emigrar e assim conseguir vislumbrar um futuro decente. Sou das que acelera o coração e falta o ar quando vejo que cada vez menos tenho condições para voltar…
Olá Catarina
Nunca comentei o seu blog mas já a leio já lá vai muito tempo, antes de mais parabéns pelo lançamento do livro :):)
Comecei a trabalhar aos 17 anos por teimosia e porque ser independente sempre foi o meu "sonho" apesar de ter de fazer um acordo com os meus pais só trabalhava se tivesse bom aproveitamento até porque todas as despesas escolares continuavam a ser deles.
Fiz assim a minha licenciatura em Direito, por sorte ou mérito próprio estou no meu segundo posto de trabalho já lá vão 5 anos.
Devo confessar lhe que nem sempre é/ foi simples porque o meu grupo de amigos comecou a trabalhar nem há um ano e onde o meu primeiro ano empregada já lá vai. Tive sempre que adaptar a minha vida social à faculdade, ao trabalho nem sempre é fácil , nem sempre os outros percebem isso.
Ter começado a trabalhar cedo proporcionou me a concretização de muitos sonhos que de outra forma não seria possível! !!
Não trabalho na minha área de formação porque tenho muitos sonhos e projectos que não passam pelas leis porém ter estabilidade (que hoje em dia é relativa) faz com que consiga ter margem para arriscar nos novos projectos poder dar passos um pouco maiores sem fugir de pé. ..
Enfim não me quero ir embora de onde pertenço o que eu queria mesmo era que onde pertenço se tornasse um sítio menos hostil para ambicionar formar uma família.
Um beijinho
Catarina
Há um grande estereótipo dos emigrantes portugueses pelo mundo. Eu sou emigrante (infelizmente) em Londres e felizmente encontrei um emprego com oportunidade de carreira quando cheguei aqui. Mas há um argumento que nunca é apresentado quando se emigra: a pessoa que entra num país novo, sem qualquer contacto pessoal ou laboral, tem de sobreviver (a qualquer custo) e de entrar na "engrenagem" laboral… E não é fácil! Criar currículo no país de destino é bastante duro… E se pensarmos em cidades como Londres (que é a minha experiência) não temos ideia como a concorrência é feroz, sobretudo se nunca saímos da esfera nacional, como foi o meu caso até aos 31 anos. Emigrar é dos percursos de vida mais duros que se possa pensar, sobretudo quando há filhos envolvidos! E neste momento é quase um exílio, porque não há oportunidades em Portugal. E cada vez que leio que os portugueses sentem necessidade de emigrar, dói-me profundamente a alma!
Mais uma "emigra" em Londres ha' 5 anos com dois filhotes. Nao pude deixar de comentar…
Nao ha' de facto situações ideais…se em portugal, a possibilidade de um futuro melhor aniquila o sonho de qualquer um e as mas politicas existentes carregam de pessimismo e desespero o dia a dia , fora a situação e' igualmente carregada de (outras) dificuldades, desafios, desesperos.. Nao e' o outro sobre azul que se imagina e e' isso que e' preciso também deixar claro sobretudo para quem parte a' aventura sem estar minimamente preparado.
É mesmo verdade… Penso que uma das questões é não termos em Portugal um sistema de meritocracia, alem de termos uma classe trabalhadora historicamente com baixos niveis de qualificação e de até há pouco tempo só estudar quem podia. O problema é pensar em soluções para mudar isto…