fomos obrigadas a ser amigas. as nossas mães eram as melhores amigas, combinaram um fim de semana de reencontro e puseram duas filhas únicas, meninas dos seus pais, a partilhar quarto e cama. depois obrigaram-nos a trocar cartas porque, manias de mães professoras e exigentes, era uma boa forma de praticar essa capacidade recém adquirida da escrita. tínhamos seis anos e, existem provas, as primeira missivas a viajar entre Almada e Portalegre tinham breves descrições sobre o tempo e respectivas estacões do ano. nós crescemos e as nossas cartas cresceram: em conteúdo, em tamanho e na velocidade a que eram trocadas. partilhamos o sabor dos primeiros beijos, as lutas políticas que tomávamos como nossas, as zangas com as amigas que estavam perto, os desgostos e as vitórias. seis anos de cartas trocadas que, no momento do nosso reencontro nessa Festa que é a nossa casa, tornaram a conversa tão simples como se todos os dias fossem assim: juntas. partilhamos muito. partilhamos demasiado e perdemos os homens das nossas vidas levados à bruta pela mesma doença. partilhamos noites de adolescente e partilhamos funerais. tivemos um primeiro filho: rapaz para repor a justiça das coisas. e demos-lhes um irmão. para contrariar essa solidão dos filhos únicos. aquela que nós sempre contraiamos um com a outra.
A solidão da filha única… 🙂
Muitos parabéns aos pais do M. pela sua chegada e que ele cresça forte, saudável, muito feliz e com um coração imenso.
Tenho assim uma irmã de coração!
Que bom! Amizades assim são uma benção!
Beijinhos!
Fátima Sousa