[antípoda do glamour]

primeiro foi a gastroenterite que calhou a todos. a mim calha sempre nos dias em que, felizmente, há trabalho para entregar. e os dias correm entre o computador, a fralda suja e o almoço do filho pequeno, com o dead line na hora de ir buscar o filho grande. depois, todos em casa, corro entre o estudo, o jantar e os banhos. e o mimo, que no meio disto há muito mimo. quando eles adormecem eu volto ao trabalho. aproveito cada segundo antes que o mais pequeno queira mama e eu acabe por ceder ao sono. e já são sete horas outra vez. depois veio a febre do mais velho, urgência e medicamentos, almoço e jantar. e assim que o mais velho ficou bom veio a febre do mais novo que não baixa e oferece noites em claro. e dorme com o meu braço por baixo o que torna cada hora de sono dele uma hora de prisão. urgência e medicamentos, almoço e jantar. ontem antes de ir buscar o mais velho à escola, tive cinco minutos para olhar para o espelho. acho [porque fica mais bonito que escrever ‘tenho a certeza’] que não lavava o cabelo há vários dias, tenho umas olheiras enormes e não me lembro quando fui à depilação. fiquei com duas estrias, desta gravidez, que detesto [com as outras todas já estava habituada a viver]. avalio os danos na barriga ainda mole e evito olhar para as mamas que decidiram ter tamanhos diferentes. tomo banho e apanho o cabelo ainda molhado, como sempre. escolho a roupa à pressa e percebo, antes de me calçar que [oh saudades dos pés arranjados e unhas vermelho sangue] não corto as unhas há demasiado tempo. lamento a imagem aos mais impressionáveis. sou mãe solteira. de qualquer forma, se não fosse, passava a ser.

16 comentários em “[antípoda do glamour]”

  1. Dias mais fáceis virão. Até lá espero que te console o facto que mesmo com o cabelo por lavar, as unhas por cortar e as olheiras gigantes, continuas a parecer-me uma mulher super interessante. E, acima de tudo, uma mãe exemplar.
    Os teus filhos reconhecê-lo-ão.
    Força nisso!

  2. Solteira ou não, a imagem seria em tudo semelhante. Eu n sou mãe solteira e o meu aspecto e experiência não difere em nada de ti. Acho q os homens e os maridos, com tudo o de bom e de mau que têm, nesta fase de bebés pequeninos, pouca ajuda são. Acho que nós nos tornamos mais mamíferas com o nascimento das nossas crias e até uma fase em que sintamos que já são um pouco mais autónomos e capazes de estar no mundo por si só. Eles não. Enquanto têm uma mulher para lhes amparar as faltas, acho, pois acredito q tb haja homens capazes da mesma entrega e abnegação pelas suas crias. Mas não quando a galinácea já faz esse papel. Pelo menos é o que observo nas diferentes famílias que me rodeiam…

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