Sou filha da “geração certificado de aforro”. Os meus pais eram pobres e pouparam tostão a tostão para chegarem à confortável classe média. Cada ano era um bocadinho melhor que o anterior: uma televisão, um carro, férias.
O emprego, esse que era para toda a vida, garantia um salário todos os anos melhor. Devagar, muito devagar, mas todos os anos sobrava para mais um certificado de aforro. Crescer com a segurança de constantes, ainda que pequenos, ‘upgrades’ é o maior antídoto ao empreendedorismo.
Acredito que para investir é preciso inocência ou a capacidade para perder tudo e recomeçar do zero. Não fomos, nem somos, educados para não ter medo de perder (e não se pode esperar isso de um povo de um dia para o outro, tirando-lhes todas as seguranças com que se habituaram a viver). Perder o emprego e procurar outro, investir numa empresa e perder, deixar um trabalho de que não se gosta e aprender de novo, ir viver para uma nova cidade.
Em dois momentos da minha vida, por razões diferentes, fui obrigada a recomeçar do zero. Não fui educada para aceitar o momento em que, em vez de um pequeno ‘upgrade’ no meu rendimento e no meu estilo de vida, sofri um enorme rombo. Não tenho qualquer dúvida que aprendi muito, que me tornei uma pessoa melhor e todos esses lugares comuns sobre crescimento pessoal mas, na verdade, sinto-me em falta porque não segui o caminho de poupança lenta mas constante, que fui educada a encarar como de sucesso.
Passarmos de país do certificado de aforro a país de investimento sem retorno garantido será um processo ainda mais lento do que a poupança dos meus pais.
Quando conheci a STartIUPI pensei que teria sido o ideal para mim, filha de valores de trabalho e poupança, mas nada de ambição e zero de empreendedorismo. O projeto envolve miúdos dos 6 aos 12 anos, mas aprender a criar um negócio, uma empresa é conhecimento que nunca vem cedo ou tarde demais.
Ali, os miúdos começam por escolher os produtos que querem produzir (colares de missangas, origamis, crachás…), compram a matéria-prima com o seu fundo maneio em IUPIs (moeda oficial), produzem, definem preço, pensam e implementam a promoção.
No fim vendem os produtos numa feira onde os pais, tios, primos e todas as pessoas convidadas pelos “novos empreendedores” podem estar presentes. Há quem ganhe mais do que gastou. “Não é magia, é a criação de valor”, explica-me o Fernando Mendes, um empreendedor e, sim, meu amigo, que faz parte da equipa da STartIUPI. Posso investir isso em certificados de aforro?
Sou assim também! Tenho alguma dificuldade em gerir a mudança. Quando em Junho pensava que ia passar a efectiva e, de repente, com apenas 15 dias de antecedência, me avisaram de que não me iam renovar o contrato, senti que me tinham tirado o tapete debaixo dos pés!
Sofri com a insegurança, chorei, assustei-me… Mas arregacei as mangas e fui à luta. E hoje, estou na empresa onde sempre quis trabalhar, a fazer exactamente aquilo que queria fazer, e na qual não teria tido oportunidade se não tivesse disponibilidade imediata (pelo facto de estar desempregada). Por isso continuo a acreditar na velha máxima "quando uma porta se fecha, abre-se uma janela".
Uma bela ideia esta!
Tão giro para a minha mais nova ( 9 anos, ela que está sempre a fervilhar, agora desde que parendeu crochet e tricot no verão não tem parado ela é malas, mantas, almofada, carteiras, pulseiras…por agora vai partilhando com as colegas, até já tem um grupo de mais 2 que a acompanham e ficam o intervalo em sala de aula a fazer crochet a profe. admirada diz " mas voces fazem essas coisas todas", no fundo diz que é para vender para poupar e juntar para qd crescida comprar uma casa….tb adora cozinhar e por vezes diz que quer fazer bolachas para vender….tenho que a começar a incentivar e acreditar mais nela 😀
Tb cresci com esses seguimentos mas no tempo dos nossos pais conseguia-se poupar para obter, os meus pais pouparam 5 anos e conseguiram comprar um terreno a onde construiram uma casa, e isto numa localidade já abonada, agora ainda mais. Eu estou casada á 14 anos e nada, não tenho nada, e penso que se tivesse passado estes 14 anos a pão e água nada teria e agora levavam-me tudo, penso que somos uma geraçao, falo por mim, que não vemos finalidade em poupar pois não se consegue alcançar no entanto sofro por me sentir sem nada ao pensar que se caío numa cama.
mto interessante