Quando era uma adolescente sofrida com um constante e angustiante existencialismo agudo olhava para os adultos e invejava-lhes o sentido da vida. Invejava, no mundo dos adultos, a não-preocupação face a questões tão importantes como a roupa que se vestia demanhã, o grupo de amigos e as paixões não correspondidas. Agora sei que lhes invejava o sofrimento controlado. Esta capacidade de relativizar a dor ou suavizar as saudades. No meu mundo dos adultos chora-se no trânsito mas limpam-se as lágrimas antes de fechar a porta do carro. No meu mundo dos adultos respira-se fundo no escuro do quarto enquanto contamos uma história-de-cabeça. No meu mundo de adultos não há sono às sete da manhã. Já é dia!
E é sempre dia no mundo dos adultos. Sem tempo para me deitar na cama, ouvir músicas-de-fazer-chorar e ficar em posição fetal em lamentos mimados. Felizmente [mesmo nos dias em que me cansa já ser grande].
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